Aliado de Israel, Biden está 'pelas tampas' com Netanyahu


Wálter Maierovitch
Colunista do UOL
18.out.2023 - O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, e o presidente dos EUA, Joe Biden, em Tel Aviv
18.out.2023 - O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, e o presidente dos EUA, Joe Biden, em Tel Aviv Imagem: Evelyn Hockstein/Reuters

Para operadores e especialistas no Direito das Gentes —conhecido igualmente por Direito Internacional Público—, conflitos e guerras devem ser acompanhados minuto a minuto. Isso porque violações ao Direito das Gentes precisam cessar. A comunidade internacional carece de ser informada, e abusos violadores aos direitos humanos, denunciados a pleno pulmões.

Os referidos operadores e especialistas debruçam-se, no momento, sobre as consequências de uma invasão pesada do exército de Israel por terra.

O governo Joe Biden está a exigir moderação, com redução de vítimas civis e, no fim do conflito bélico, imediata retirada das tropas de Israel da Faixa de Gaza, com período de transição garantido por força multinacional de paz.

A propósito, calou fundo a frase de sexta-feira (10) do secretário americano de Estado, Antony Blinken, ao governo de Israel: "Deve fazer mais esforço para evitar vítimas civis".

Diante do mau humor das autoridades americanas com relação ao premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, a edição de ontem do prestigiado The New York Times frisa ter o governo Netanyahu um tempo determinado (não se sabe quanto) para as operações em Gaza.

Em outras palavras, Biden e o secretário de Estado americano Blinklen estão com Netanyahu, um trumpista de carteirinha, "pelas tampas", como se diz no popular.

O primeiro-ministro insiste em um day after na manutenção das tropas, única maneira, na sua visão canhestra e populista, de se garantir segurança a Israel.


Pelo direito internacional, a ocupação territorial nunca será legítima se a ação militar alongar-se depois de cumprida a meta de eliminação dos focos terroristas.

Caldo indigesto

Nos últimos 15 anos, a direita presente em Israel influenciou as políticas de Estado.


São políticas impiedosas, com apartheid e ilegal expansionismo "grileiro" na Cisjordânia, ocupada desde a Guerra dos Seis Dias, de 1967.

Nesse cardápio de insensibilidades e oportunismos, temos o bloqueio por mais de uma década em Gaza. E tudo culminou com a volta, em busca de imunidade processual-criminal, de Netanyahu ao cargo de primeiro-ministro.

A fim de se manter no poder, Netanyahu aceita o papel de marionete e, muitas vezes, vira ventríloquo das vontades iníquas da extrema direita, imprescindível para a sua sustentação política.

No regime israelense de governo parlamentarismo, o primeiro-ministro Netanyahu só cairá se perder a maioria, numa votação em moção de desconfiança apresentada ao Parlamento

O Hamas aproveitou-se do caldo gerado pela política de Estado israelense para perpetrar o terrorismo, Com isso, cumprir a sua meta ilegítima de começar a varrer Israel do mapa.

Só precisou da imoderação de Israel na defesa militar, com claras violações a direitos humanos, para difundir propaganda internacional de vitimização, via mídias sociais, e mobilizar partidários mundo afora.

Por evidente e à luz do Direito das Gentes, ações terroristas como a de 7 de outubro passado não são legítimas para se tentar mudanças ou difundir protestos mundo afora.


Na realidade, foi pura barbárie. Nada, absolutamente nada, justificava o assassinato de civis inocentes. Como nada justificava, repita-se, ações de defesa desproporcionais, com matança da população civil, não envolvida no conflito.

Protestos palestinos em Gaza

Na sexta, ocorreu protesto de palestinos em Gaza. Protesto importante, em tempo de distorcida propaganda de guerra.

O protesto mostrou não se poder nunca confundir palestinos com a organização terrorista Hamas. Ao contrário do que se deseja carimbar, palestinos não são terroristas e o Islã, uma das três religiões monoteístas, não admite a violência.

Erra a direita extremada israelense com o seu discriminatório e desumano mote de todos os palestinos apoiarem o Hamas.

Atenção: o Hamas, desde 2007, governa tiranicamente a Faixa de Gaza. Mantém braço armado a impedir —como quer a direita radical israelense liderada pelo seu ventríloquo Netanyahu—, a implantação de "Dois Estados para Dois Povos", como previsto pelo Direito das Gentes.


O protesto palestino coincidiu com a informação da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre danos substanciais em 45% dos edifícios construídos em Gaza.

Um dado importante. O protesto de palestinos deu-se quando o braço militar do Hamas contabiliza 2.300 terroristas mortos.

Segundo o Hamas, a sua força militar é composta por 40 mil homens. Sabe-se que 10 mil membros foram, durante anos, presos e estão custodiados em cárceres israelenses.

Não se deve olvidar ainda de o protesto consumar-se quando nenhum palestino pode mais permanecer em sua casa, dado o alto risco. O protesto deu-se em momento de migração em direção ao sul, considerado mais seguro.

Reféns, acordo travado e o fator Sinwar

Existem duas posições inconciliáveis. Para Israel, um cessar-fogo depende da libertação dos reféns, hoje estimados em 240.

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O respeitado historiador judeu Benny Morris, mencionado nesta coluna em face de entrevista ao HuffPost, lembrou ter o terrorista Hamas demonstrado o seu lado sádico, ilegal e criminoso: matou, decapitou, fez reféns velhos e um bebê (hoje com 11 meses de vida). Com isso, tornou-se inconfiável. Referia-se a acordo, lógico, intermediado.

O Hamas exige primeiro o cessar-fogo e depois a entrega dos reféns. Reféns cujas fotografias são mostradas em cartazes espalhados por Israel e Gaza para obtenção de informações. Promete-se, nos cartazes, pagamento por informações.

Um árbitro, a substituir as inconciliáveis posições de Israel e Hamas, não é aceito pelo Hamas, que segue orientações do Irã.

Os norte-americanos e as Nações Unidas propõem como árbitros, e Israel concorda, países árabes moderados. No caso, Egito e Jordânia, por interessados em face de manterem fronteiras com Israel. O Hamas recusa, por ordem iraniana.

O Catar, pelo seu xeque Tamim bim Hamad, não consegue solução, embora tenha sido o maior financiador de Gaza e residir no seu território o líder máximo do Hamas, Ismail Haniyeh.

Nas últimas 24 horas, um complicador novo surgiu a travar ainda mais as negociações sobre reféns. Esse complicador atende por Yahia Sinwar, o comandante militar do braço terrorista do Hamas em Gaza.

Sinwar é um sanguinário com prestígio no Hamas pelo seu método de estrangular espiões com as próprias mãos.

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Informação correu —quer pela fala de Netanyahu, quer por delação de prisioneiros— de estar Sinwar cercado no seu bunker subterrâneo e situado abaixo dos alicerces de sustentação do hospital.

A inclusão de Sinwar na troca passou a ser cogitada.

Num pano rápido, a cada momento do confronto, a situação dos reféns se complica.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.


OLHAR APURADO

Uma curadoria diária com as opiniões dos colunistas do UOL sobre os principais assuntos do noticiário. https://noticias.uol.com.br/colunas/walter-maierovitch/2023/11/12/guerra-israel-gaza.htm

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