Mendonça passa pano a golpista e faz valer o investimento de Bolsonaro

Colunista do UOL

A fim de tentar confirmar a tese bolsonarista, o ministro elencou argumentos:

a) Disse que há "dúvida razoável quanto a homogeneidade de métodos e atitudes, o que macula a tese de que todos por lá estarem pertenciam a uma mesma associação criminosa"; b) "um golpe de estado demanda atos não só de destituição de poder, mas de estabelecimento de nova ordem política institucional [...]. Uma série de planejamentos e condutas que não vi nessas manifestações"; c) "eles não agiram para tentar derrubar o governo. A deposição do governo dependeria que atos que não estavam ao alcance dessas pessoas".

Também levou às redes bolsonaristas à loucura quando insinuou que o governo Lula fez corpo mole, outra tese defendida por aliados de Jair.


"Em todos esses movimentos de 7 de Setembro, como ministro da Justiça, eu estava de plantão com uma equipe à disposição, seja no Ministério da Justiça, seja com policiais da Força Nacional, que chegariam aqui em minutos para impedir o que acontecer. Eu não consigo entender, e também carece de resposta, como o Palácio do Planalto foi invadido da forma como foi invadido", disse.

O ministro Gilmar Mendes o interrompeu, lembrando que apesar de o Brasil já ter tido protestos, "jamais tivemos um grupo acumulado na frente de quarteis pedindo intervenção". E aproveitou para cutucar o voto de Kassio Nunes Marques, outro indicado por Bolsonaro, que também não viu golpe, em seu voto.

"Ainda ontem vi essa consideração sobre o passeio no parque [feita por Alexandre de Moraes, ao frisar que o 8/1 foi grave]. Jamais houve passeio no parque. Não se tratava de passeio no parque, ministro Kassio. Nem de um incidente. A cadeira que o senhor está sentado estava lá na rua no dia da invasão", afirmou.


Irritado, o ministro Alexandre de Moraes respondeu à provocação de Mendonça:

"As investigações demonstram claramente o porquê que houve essa facilidade. Cinco coronéis comandantes da PM do DF estão presos, exatamente porque, desde o final das eleições, se comunicavam por zap dizendo exatamente que iriam preparar uma forma de, havendo manifestação, a Polícia Militar não reagir", disse.

Mendonça ainda cobrou os vídeos do circuito interno do Ministério da Justiça, uma demanda do bolsonarismo para reforçar a narrativa falsa de que o ministro Flávio Dino não fez nada diante dos ataques. "Muito embora eu queria, e o Brasil quer, ver esses vídeos do Ministério da Justiça..."

Moraes reagiu: "Vossa Excelência falar que a culpa é do ministro da Justiça é um absurdo quando cinco comandantes estão presos. Quando o ex-ministro da Justiça fugiu para os Estados Unidos e jogou o celular dele no lixo e foi preso, e agora Vossa Excelência vem ao plenário do Supremo Tribunal Federal, que foi destruído, que houve uma conspiração do governo contra o próprio governo".

Mendonça ainda exigiu que não fossem colocadas palavras em sua boca. No final, ambos se desculparam. Mas o quiprocó já serviu como indicador que Bolsonaro pode contar com os votos dos seus indicados quando o seu caso chegar no STF e que a linha de argumentação de ambos no tribunal está alinhada com as redes.

Contudo, se continuar usando argumentos dessa qualidade, com suposições não comprovadas que são tratadas como fato apenas no esgoto dos piores grupos bolsonaristas, André Mendonça não vai conseguir ajudar seu padrinho. Apenas manchar sua biografia.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL


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