Nome de Jair Bolsonaro aparece 93 vezes nas 105 páginas do documento da Polícia Federal
Por Jornal Nacional

O nome de Jair Bolsonaro aparece 93 vezes nas 105 páginas do documento da Polícia Federal.
A primeira citação aparece quando a Polícia Federal fala do foco da investigação: “Desvio de bens de alto valor patrimonial entregues por autoridades estrangeiras ao ex-Presidente da República Jair Messias Bolsonaro ou agentes públicos a seu serviço, e posterior ocultação com o fim de enriquecimento ilícito”.
Ao longo do documento, a polícia reproduz mensagens trocadas por pessoas próximas ao ex-presidente. Um dos diálogos é de janeiro de 2023. O ex-ajudante de ordens Mauro Cid fala com Marcelo Câmara, ex-assessor especial de Jair Bolsonaro.
A PF diz que o conteúdo do áudio revelou, inicialmente, que o general Mauro Lourena Cid estaria com US$ 25 mil, possivelmente pertencentes a Jair Bolsonaro.
Mauro Cid: “Tem US$ 25 mil com meu pai. Eu estava vendo o que, que era melhor fazer com esse dinheiro levar em ‘cash’ aí. Meu pai estava querendo inclusive ir aí falar com o presidente. E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta. Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor né?”.
Em outro momento, Cid e Marcelo Câmara discutem a legalidade da venda dos itens. A PF afirma que, nesse trecho, Cid faz referência a Marcelo da Silva Vieira, o ex-chefe do gabinete adjunto de documentação histórica. Cid diz a Marcelo Câmara: “Liga para ele. Ele tinha me falado, ele me garantiu que poderia, que o presidente poderia fazer o que quisesse porque isso são itens personalíssimos”.
Segundo a lei, os itens não são personalíssimos. Apenas se fossem perfumes ou roupas, por exemplo.
E Marcelo Câmara responde: “Eu falei com ele sobre isso, Cid. Aí ele me falou que tem esse entendimento sim. Mas que o pessoal questiona, porque ele pode dar, pode fazer o que ele quiser. Mas tem que lançar na comissão, memória, entendeu? O que já foi, já foi. Mas se esse aqui tiver ainda, a gente vê certinho para não ter problema. Porque já sumiu um que foi com a Dona Michelle. Então, para não ter problema”.
Segundo a Polícia Federal, em seguida, Marcelo Câmara envia uma mensagem de áudio para Mauro Cid. Câmara diz que Marcelo da Silva Vieira ressaltou a necessidade de aviso prévio no caso de venda, no exterior, de bens destinados ao acervo privado do ex-presidente. E Mauro Cid responde: “Só dá pena porque estamos falando de US$ 120 mil" e ri.
Segundo a PF, as mensagens evidenciam que Marcelo Câmara e Mauro Cid tinham plena ciência das restrições legais da venda dos bens no exterior.
O Jornal Nacional não teve retorno da assessoria do ex-presidente Jair Bolsonaro.
A defesa de Marcelo da Silva Vieira, ex-chefe do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica, disse que todos os objetos e presentes enviados ao gabinete foram devidamente tratados dentro da absoluta e estrita obediência à lei; que esses fatos já foram esclarecidos à Polícia Federal e à Comissão de Ética da Presidência; e que ele está pronto para prestar qualquer esclarecimento complementar.
A defesa do tenente-coronel Mauro Cid disse que não iria se manifestar porque não teve acesso aos autos.
O Jornal Nacional não conseguiu contato com o general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, nem com o coronel Marcelo Câmara.
O Centro de Comunicação Social do Exército declarou que vem acompanhando e colaborando com as investigações; que não se manifesta sobre processos apuratórios conduzidos por outros órgãos em respeito às demais instituições da República; e reiterou que não compactua com eventuais desvios de conduta de quaisquer de seus integrantes.
Na investigação sobre a venda ilegal de joias, a Polícia Federal pediu ao STF - Supremo Tribunal Federal a quebra do sigilo bancário e fiscal de Jair Bolsonaro. A PF também quer autorização para tomar o depoimento do ex-presidente. Os investigadores querem saber se o dinheiro das joias chegou a Bolsonaro e de onde saiu o valor para a recompra de joias.
ATUALIZAÇÃO
A defesa de Jair Bolsonaro divulgar, na noite desta sexta-feira (11), uma nota sobre a investigação de venda ilegal de joias que ele recebeu quando era presidente. A nota é a seguinte: “A defesa do presidente Jair Bolsonaro, voluntariamente e sem que houvesse sido instada, peticionou junto ao TCU - ainda em meados de março, próximo passado - requerendo o depósito dos itens naquela Corte, até final decisão sobre seu tratamento - o que de fato foi feito. O presidente Bolsonaro reitera que jamais apropriou-se ou desviou quaisquer bens públicos, colocando à disposição do Poder Judiciário sua movimentação bancária”.
https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2023/08/11/nome-de-jair-bolsonaro-aparece-93-vezes-nas-105-paginas-do-documento-da-policia-federal.ghtml