Josias de Souza / Brasil precisa tirar redes da Casa da Mãe Joana
O Brasil não é a Casa da Mãe Joana. Mas certas empresas controladoras de redes sociais precisam que ele seja. Só numa república bagunçada uma empresa como o Twitter teria a petulância de informar, em reunião com o ministro da Justiça, que não cogitava excluir de sua plataforma posts que estimulam atos violentos em escolas, sob a alegação de que os perfis que incitam o crime não violam os "termos de uso" da rede.
O cidadão é obrigado a viver em duas realidades. Numa, lida com o rastilho de pânico surgido nas pegadas de dois ataques a escolas com vítimas fatais em dez dias. Noutra, descobre que o Twitter —vitrine eletrônica flagrada na exposição de 551 posts sobre glamourização de ataques a escolas e a incitação à execução de crianças— achava que seus "termos de uso" estão acima das leis nacionais e da Constituição brasileira.
Em maio de 2022, em passagem relâmpago pelo Brasil, o bilionário Elon Musk foi cultuado pelo então presidente Bolsonaro como futuro provedor de sinais de satélite que levariam internet às escolas rurais brasileiras. Seis meses depois, Musk comprou o Twitter. Negócio de US$ 44 bilhões. A Starlink, empresa de satélites de Musk, não conectou um mísero aluno brasileiro à internet. Hoje, o bilionário lucra com a monetização do ódio às escolas.
Nesta quarta-feira, o Ministério da Justiça editou uma portaria e adotou um lote de providências para enquadrar as redes sociais, obrigando-as a excluir mensagens que intoxicam o ambiente escolar. Os recalcitrantes sujeitam-se a multas de até R$ 12 milhões. No limite, podem ser desligadas da tomada as redes que continuarem lucrando com o crime.
Em nova visita à pasta da Justiça, representantes do Twitter comprometeram-se a colaborar. Agora, para mostrar aos prepostos de Elon Musk e seus assemelhados que o Brasil não é uma sucursal da Mãe Joana's House, basta que o governo converta seus documentos e a saliva do ministro Flávio Dino em ações práticas.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
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