Racismo - A dor da gente sai nos jornais, mas parece que ninguém se importa

 

Jeferson Tenório - 

Max Ângelo dos Santos, entregador agredido em São Conrado, no Rio - Reprodução/Band
Max Ângelo dos Santos, entregador agredido em São Conrado, no Rio Imagem: Reprodução/Band
só para assinantes


Já perdi as contas de quantas vezes escrevi textos sobre racismo, de quantos casos envolvendo violência contra pessoas negras, de quantas vezes tive de articular argumentos para entender as engrenagens das estruturas racistas nesse país. De quantas vezes tive de parar a vida prática para racionalizar e compreender as raízes do racismo. Todos os dias há relatos, casos, registros e flagrantes de preconceitos. Minhas redes sociais poderiam ser um grande mosaico desse horror, de denúncias, depoimentos, relatos de racismo pelo Brasil a fora.

As notícias sobre violência racial chegam. Há comoção, há textos bonitos, inteligentes e duros, mas acaba o dia, e outras notícias atropelam o que foi dito, e vem a previsão do tempo, e vem a cotação do dólar e, em pouco tempo, ninguém mais se lembra. Aí, cria-se a sensação de que o racismo passou e de que todos somos humanos, que agora é hora de trocar de assunto e que tudo ficou bem.

Mas acontece que não fica nada bem. Nunca fica.

A agressão sofrida pelo entregador Max Ângelo dos Santos contém, além da violência, requintes de crueldade: porque não basta ser racista, não basta agredir verbalmente com o ódio de classe e de raça, era preciso ainda que a ex-atleta de vôlei Sandra Mathias Correa de Sá utilizasse um instrumento de dominação, como a coleira do cão, e transformá-lo num chicote.

Vejam, não se trata de um simulacro de tortura dos tempos da escravidão. Trata-se de uma atualização perversa do direto de açoitar. Naquela agressão, naquele gesto nefasto, está contido não só o racismo, mas o desejo de aniquilação do outro. Há naquele gesto o DNA colonial sendo exercido de maneira direta e criminosa.

Então me pergunto, de onde vem toda essa coragem em ser racista? De onde vem esse ímpeto supremacista em plena luz do dia? De onde vem esta certeza da impunidade? A resposta é obvia: ninguém se importa.

Entendam este "ninguém" como sinônimo das autoridades, do Judiciário, do Congresso Nacional, de todas as instituições de poder que colaboram para esse horror cotidiano que assola negros e negras sistematicamente, sem trégua, sem anestesia. Todos os dias. Por isso, repito: a dor da gente sai nos jornais, mas ninguém se importa.

O consolo, as palavras e o abraço da cabeleireira Adriana de Souza Alves em seu filho Max, após seu depoimento, é um consolo secular e ancestral. É uma postura que atualiza a fala e a resiliência de milhares de mães negras. Conversas difíceis que as mães têm com seus filhos negros, como estratégia de sobrevivência, mas também de amor.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL 

https://noticias.uol.com.br/colunas/jeferson-tenorio/2023/04/13/a-dor-da-gente-sai-nos-jornais-mas-parece-que-ninguem-se-importa.htm  

Charges do Nando Motta  

Racista

12 de abril de 2023 

https://www.brasil247.com/charges/racista



Postagens mais visitadas deste blog