Para surpresa de ninguém, ex-presidente terceiriza culpa por roubo de joias
Balaio do Kotscho -
Ricardo Kotscho
Colunista do UOL
09/03/2023
Terminei a coluna anterior, publicada dia 07/03, terça-feira, prevendo um desfecho óbvio para o caso das joias do casal Bolsonaro:
"Pelos seus antecedentes, não é difícil imaginar que Bolsonaro jogará ao mar, sem salva-vidas, os contra-almirantes e outros militares envolvidos na operação fracassada para trazer e resgatar o tesouro presidencial, que virou um símbolo da era bolsonarista".
Pois ontem, 08/03, menos de 24 horas depois, o ex-presidente foragido na Flórida, confirmou com todas as letras o acerto do que escrevi, em entrevista ao repórter Leandro Magalhães, da CNN, e em nota divulgada pelo seu advogado, Frederic Wassef, garantindo que Bolsonaro fez "tudo dentro da lei", como informa hoje Clarissa Oliveira, colunista da Veja:
"Fica mais do que claro que em todo o relato que o ex-presidente escolheu seu culpado: o ex-ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.
Afinal, era ele, em última instância, quem comandava a equipe que, segundo a tropa bolsonarista, tinha conhecimento do que teria ocorrido com estojo contendo joias presenteadas a Michelle Bolsonaro avaliadas em R$ 16,5 milhões, retido no aeroporto".
O contra-almirante Bento Albuquerque, chefe da missão enviada à Arábia Saudita que trouxe o tesouro contrabandeado, já foi convocado pela Polícia Federal para explicar a "carteirada" que tentou dar no fiscal da alfândega, quando seu ajudante de ordens foi pego em flagrante, dizendo que as joias eram para a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro e por isso precisavam ser imediatamente liberadas.
Uma outra caixa com joias masculinas passou incólume pela alfândega e só foi entregue pelo Ministério das Minas e Energia a Bolsonaro, um ano depois, quando Bento Albuquerque já tinha deixado o cargo.
Agora, ministros do Tribunal de Contas da União querem reaver estas joias, que deveriam ter sido declaradas na alfândega e encaminhadas para o acervo presidencial como patrimônio público.
Como não foram, trata-se de roubo, apropriação indébita em português bem claro.
Segundo o ex-todo-poderoso chefe da ajudância de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, o estojo com as joias foi levado pelo ex-presidente na mudança, não se sabe para onde, já que agora ele não tem endereço fixo e nem pretende voltar tão cedo ao Brasil.
Vida que segue.
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