'joias mancharam imagem de Bolsonaro entre evangélicos'

 

Silêncio simbólico: 

Michelle Bolsonaro ironizou notícias sobre conjunto de joias de diamantes, mas sua imagem foi abalada - Reprodução
Michelle Bolsonaro ironizou notícias sobre conjunto de joias de diamantes, mas sua imagem foi abalada Imagem: Reprodução

17/03/2023 14h13

O desgaste de imagem de Jair e Michelle Bolsonaro tem se mostrado mais perceptível entre o público evangélico, que votou em peso no ex-presidente em 2018, quando eleito, e em 2022, quando perdeu a disputa para Luiz Inácio Lula da Silva, de acordo com especialistas que fazem monitoramento de redes sociais.

Três fatores contribuíram para essa queda de popularidade:

  • os atos golpistas em 8 de janeiro, com a invasão das sedes dos Três Poderes em Brasília;
  • a estadia prolongada de Bolsonaro nos EUA;
  • as joias da Arábia Saudita que não declaradas à Receita Federal que foram incorporadas ao acervo pessoal do ex-presidente.

David Nemer, professor de estudos de mídia e antropologia na Universidade da Virgínia (EUA) que monitora redes de extrema direita no Telegram, diz que houve uma espécie de silêncio coletivo após o caso das joias, mas as atividades já estavam bastante fracas sobretudo após os atos terroristas de 8 de janeiro.

Para ele, ações do STF e também do TSE estão inibindo os extremistas.

O ataque do Judiciário às fontes de financiamento do extremismo, na opinião do professor, tem surtido resultado e afetou a criação a distribuição de conteúdos falsos. No Telegram, por exemplo, a queda de usuários chegou a 30%, aponta.

O silêncio, explica, é uma reação comum nos grupos radicais quando são surpreendidos por um episódio de desgaste e não sabem como reagir prontamente —após um período de silenciamento, vem o ataque, que normalmente "não é uma resposta plausível para explicar o que está acontecendo". "Sempre atacam o Lula ou a esquerda."

O comportamento também foi detectado por Magali Cunha, pesquisadora do Instituto de Estudos da Religião (ISER) e da Associação Internacional em Mídia, Religião e Cultura. Ela é editora-geral do Coletivo Bereia, que checa fatos publicados em mídias religiosas e em redes sociais com conteúdos sobre religiões.

Pelo nosso monitoramento de mídias cristãs, o silêncio e o apoio reservado [do público evangélico e católico] tem um significado: a imagem está manchada. Não é simples fazer esta defesa [sobre a aquisição das joias] como em outras situações"
Magali Cunha

Ela diz que captou "muitas curtidas, mas poucos compartilhamentos" no discurso de defesa feito por Michelle e Jair, o que significa baixa disposição para defender o casal.

"Há um certo esgotamento da figura de Bolsonaro e da família. O público das igrejas teve um estresse grande com o discurso polarizador e de ódio das lideranças de direita. O 8 de Janeiro foi uma espécie de ápice do esgotamento. O fato de Jair Bolsonaro estar fora do Brasil e a aparente separação do casal tirou o brilho da liderança dos dois, juntamente com os escândalos da destruição do Palácio Alvorada e agora as joias, o que faz cair muito o apoio", diz Cunha.

Em relação às especulações sobre a separação de Michelle e Bolsonaro, a ex-primeira-dama decidiu retornar aos EUA e passou a fazer postagens sobre a vida de casada. Também apareceu ao lado do marido em um evento em Orlando (EUA).

Mas o arranhão na imagem de Michelle pelo caso das joias fez o PL adiar um evento com a participação dela, que assumirá a presidência do PL Mulher como parte do plano de torná-la candidata ao Senado.

Por outro lado, Bolsonaro admitiu que pode perder os direitos políticos em julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e descartou a possibilidade de Michelle disputar um cargo para o Executivo.

"A história das joias prejudica o projeto [de se cacifar para 2026], apesar de o peso maior recair sobre Jair Bolsonaro. O anúncio de morar de aluguel para reforçar que não tem bens não se sustenta, e se une a outras questões que estão sendo atreladas [ao episódio das joias], como o caso do cheque [de R$ 89 mil] que recebeu do Fabricio Queiroz", diz Cunha.

Tudo pode mudar no cenário político até 2026, e a pesquisadora salienta que há novas lideranças de extrema direita entre o público religioso conquistando espaços importantes.

O que mais se destaca é o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), o mais votado do país que "conseguiu trazer de volta a moralidade sexual para o centro da disputa política e segue a estratégia da banalização da política e do deboche", segundo a especialista.

Bolsonaro já usou essa tática.

Mas a narrativa dos apoiadores é de que se trata de "uma trama da grande mídia para desgastar Bolsonaro", diz a cientista política Camila Rocha, pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), que monitora e faz pesquisas qualitativas com grupos de direita. E isso pode prevalecer.

https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/deutschewelle/2023/03/17/analistas-apontam-desgaste-de-bolsonaros-entre-evangelicos.htm

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