Brasil se decepciona com valor oferecido pelos EUA para participar do Fundo Amazônia

Cifra de US$ 50 milhões não foi incluída no comunicado conjunto dos presidentes Lula e Biden

Patrícia Campos Mello
Thiago Amâncio
Washington

O governo dos EUA ofereceu US$ 50 milhões (R$ 260 milhões) para cooperação ambiental com o Brasil, cifra que os negociadores brasileiros definiram como decepcionante. 

Por isso, o valor não foi citado no comunicado conjunto da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Washington.

Presidente Lula vai aos EUA para encontro com Joe Biden

Dada toda a ênfase na importância da questão ambiental e o anúncio de que os EUA passarão a fazer parte do Fundo Amazônia, o governo brasileiro achou que os americanos ofereceriam um montante mais significativo. O valor não seria apenas para o Fundo Amazônia, mas também para outros tipos de parceria.

A cifra é inferior ao oferecido pela Alemanha durante a visita do premiê Olaf Scholz, de € 200 milhões (R$ 1,1 bilhão), e muito abaixo dos € 2 bilhões (R$ 11,16 bilhões) que a Noruega injetou na iniciativa.

Em comunicado conjunto divulgado pelos dois governos após o encontro presidencial, a participação americana no fundo acabou amenizada.

"Como parte desses esforços [de combate à crise do clima], os Estados Unidos anunciaram sua intenção de trabalhar com o Congresso para fornecer recursos para programas de proteção e conservação da Amazônia brasileira, incluindo apoio inicial ao Fundo Amazônia, e para alavancar investimentos nessa região muito importante."

Biden não tem mais maioria no Congresso americano desde janeiro, quando o Partido Republicano assumiu o controle da Câmara. Uma das principais bandeiras dos deputados republicanos é justamente o corte de gastos do governo, que pressionam até pela redução da ajuda enviada à Ucrânia.

Em conversa com jornalistas após o encontro com Biden, Lula confirmou que os EUA vão participar da iniciativa, mas não falou em valores. Ele disse que "é necessário" que o país contribua para o fundo e disse que defendeu "a necessidade de os países ricos assumirem a responsabilidade de financiar todos os países que têm florestas."

Outro ponto em que o Brasil não conseguiu fazer prevalecer sua vontade diante dos americanos foi na maneira de tratar a Guerra da Ucrânia no comunicado final. Versão preliminar do texto não condenava diretamente a Rússia pela guerra, em razão da objeção dos negociadores brasileiros a uma linguagem mais específica sobre a agressão de Moscou. A declaração falava apenas sobre a cooperação entre Brasil e EUA em questões regionais e globais, como o conflito no Leste Europeu.

O governo brasileiro, porém, cedeu à pressão e aceitou uma declaração que condena nominalmente a Rússia pela violação territorial na Ucrânia, pelo desrespeito ao direito internacional, pelas mortes e pelos ataques à infraestrutura essencial do país e cita os efeitos do conflito sobre a economia mundial.

"Ambos os presidentes lamentaram a violação da integridade territorial da Ucrânia pela Rússia e a anexação de partes de seu território como violações flagrantes do direito internacional e conclamaram uma paz justa e duradoura", diz o texto final divulgado.

A jornalistas, Lula afirmou que conversou com Biden sobre a necessidade de criar um clube de países que não estão envolvidos com a guerra para buscar a paz. "Eu senti da parte do presidente Biden a mesma preocupação, porque ninguém quer que essa guerra continue e é preciso que tenha parceiros capazes de construir um grupo de negociadores que os dois lados acreditem e que os dois lados possam compreender e terminar essa guerra." 

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2023/02/brasil-se-decepciona-com-valor-oferecido-pelos-eua-para-participar-do-fundo-amazonia.shtml

Postagens mais visitadas deste blog