Salvo engano, Lula teve muito mais votos do que Bolsonaro. Ou não?

Ricardo Noblat


18 anos Blog do Noblat

Bolsonaro ganhou duas vezes: foi para o segundo turno, como desejava e temia que não fosse; e aumentou sua bancada no Senado e na Câmara dos Deputados. Agora, só falta derrotar Lula.

Em 2016, nos Estados Unidos, Hillary Clinton derrotou Donald Trump no voto popular com uma frente de 2.868.691 votos. Em percentuais: 48,2% a 46,1%. Mas, como lá…

Por lá o que vale é o Colégio Eleitoral formado por delegados indicados pelos partidos. Então, no Colégio Trump venceu Hillary por 314 votos contra 227, e se elegeu presidente.

Aqui, o Colégio Eleitoral existiu à época da ditadura de 64 para eleger o general escolhido por seus pares. O que vale desde 1989 é o voto popular que nos Estados Unidos não vale nada.

Com 99,97% das urnas apuradas, Lula derrotou Bolsonaro por uma diferença de 6.171.170 dos votos válidos, segundo o Tribunal Superior Eleitoral. Em percentuais: 48,4% a 43,2%.

Não foi uma vantagem pequena. Em números, equivale a quase duas vezes a população do Uruguai, incluindo aí pessoas aptas a votar ou não. É superior à população da Dinamarca.

Foi uma vantagem insuficiente para Lula se eleger no primeiro turno, sim, e muito inferior à projetada pelos mais respeitados institutos de pesquisa. Onde as pesquisas erraram?

No caso de Lula, não erraram. O Datafolha, no último sábado, deu a Lula 50% dos votos válidos, e ele teve 48,4%. O Ipec, ex-Ibope, deu a Lula 51%. Os institutos erraram foi no caso de Bolsonaro.

O Datafolha estimou que ele teria 36% dos votos válidos; o Ipec, 37%. E ele chegou a 43%. Vão ter que se explicar. Subestimaram Bolsonaro. Por isso, a vitória de Lula ficou com um sabor amargo.

Convenhamos: no segundo turno, a tarefa de Bolsonaro será muito mais dura do que a de Lula. É razoável supor que quem votou em Lula repetirá o voto, como quem votou em Bolsonaro também.

É razoável supor que os índices de abstenção e de votos brancos e nulos se manterão os mesmos. Estarão em disputa, portanto, os votos dos que não votaram nem em Lula nem em Bolsonaro.

Será algo em torno 10 milhões de votos – ou exatos 9.897.054. Desses, para se eleger, Bolsonaro precisará de cerca de 7 milhões. Lula precisará de muito menos do que ele para liquidar a fatura.

O discurso de Lula do “eu fiz e vou fazer melhor” e “a justiça me inocentou” deu para que ele chegasse até aqui, mas talvez não dê para que ele chegue lá onde quer. Dá tempo para reajustá-lo.

Faltam 28 dias para o segundo turno. A democracia entre nós está mais ameaçada do que esteve até ontem. O golpe de Bolsonaro não passa por tanques nas ruas, mas por sua reeleição.

Jogar dentro das “quatro linhas da Constituição” significa para ele aprovar leis para a instalação de um regime autoritário. Quem duvida que ele conseguiria com mais quatro anos?

O segundo turno não é uma nova eleição, é a continuação do primeiro. Até hoje, o candidato que no primeiro ficou em segundo lugar nunca se elegeu. Lula sempre se elegeu no segundo turno.

2022 é a eleição de 2018 que ainda não terminou. 

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