Mudanças climáticas têm afetado as temperaturas do Alto Tietê


Estudo desenvolvido em Mogi das Cruzes pode ajudar a região a encarar um problema que é a preocupação do mundo todo: o risco de faltar água.

Por Cássio Andrade, Diário TV 2ª Edição

Mudanças climáticas têm aquecido zonas rurais do Alto Tietê

Mudanças climáticas têm aquecido zonas rurais do Alto Tietê

Um mapa mostra a quantidade de árvores encontradas em Mogi das Cruzes. São 52 mil espalhadas pela cidade. O pesquisador Ricardo Sartorello vem monitorando isso desde 2018 e, de lá para cá, observou que o clima na cidade mudou.

“A intenção é fazer um diagnóstico, um levantamento de quantas árvores nós temos na cidade, principalmente na mancha urbana. E também entender quantos fragmentos florestais de Mata Atlântica nós temos na cidade e como que a gente pode pensar, a partir desses dados, processos de restauração, melhorias em relação à arborização na cidade”.

Por causa da má distribuição das árvores pela cidade, surgem manchas vermelhas no mapa. Nestas regiões, faz mais calor do que nas que estão com a verde, por exemplo.

“Com esse estudo, relacionando arborização com os dados de temperatura na cidade, que existe uma diferença muito grande. Nas áreas com mais arborização as temperaturas são menores, existe uma regulação climática. E as áreas com menos temperaturas na mancha urbana acabam formando manchas de calor e nas áreas rurais nós percebemos também modificações, áreas ali com maiores temperaturas por falta de Mata Atlântica. E nas áreas rurais com Mata Atlântica, temperaturas menores”, explicou o pesquisador.

Quem está todo dia no campo também reparou que as coisas mudaram. Até mesmo quem trabalha com isso há anos por aqui tem encarados condições climáticas atípicas.

“Temperatura aí de 28ºC, 30ºC. Solo molhado, sol brilhando, isso é maravilhoso. Agora quando você tem um sol de 36ºC, aí vem uma chuva, vem um vendaval ou granizo, isso é prejuízo certo”, disse o agricultor Josemir Barbosa de Moraes.

Mogi das Cruzes tem cerca de 15 mil hectares de áreas verdes, que produzem de tudo um pouco. Mas é forte mesmo na produção de hortaliças, uma agricultura que sente bem estas mudanças no tempo.

“A gente está percebendo no período de estiagem um aquecimento muito alto. Inclusive em outubro de 2021, eu fiz uma planta aqui e perdi a semente, não conseguiu germinar por conta do calor muito alto. Para mim, já foi um choque, eu olhava a semente, ela germinando e cozinhando. Não nasceu. Já foi um prejuízo. A gente mora aqui mas eu sempre estou dando um capricho em algum canto, cuidando da natureza. Como eu moro aqui na beira de uma estrada municipal, tem alunos, muitas pessoas que passam e eu sempre estou cuidando em volta do meu sítio”, explicou Josias Barbosa de Morais Filho, outro produtor da região.

Mas não é sempre que dá pra proteger a plantação. Jorge Hideo Nagahashi cuida de uma área de 50 mil metros quadrados, na Chácara Santo Ângelo. Trabalha bastante para deixar tudo dobrado quando o tempo não ajuda. No começo do ano foi assim.

“Foi muito difícil por causa do calor. Precisa regar umas três vezes por dia, se não regasse queimava tudo o sol. Mais trabalho. Se não ia perder”, disse o agricultor.

O estudo pode ajudar a região a encarar um problema que é a preocupação do mundo todo: o risco de faltar água.

“A gente tem que lembrar que a gente está numa região das nascentes, numa região de cabeceiras, que é onde os rios estão começando a ganhar volume. Então, eles são bem pequenos ainda e a gente tem que cuidar desses rios para que eles cresçam, para que eles ganhem volume. E acaba que a disponibilidade hídrica na nossa região é baixa”.

Em 20 anos, a produção de água no Sistema Produtor Alto Tietê caiu quase pela metade. De acordo com os dados da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), que cuida do sistema, em 2000 a produção das cinco represas era de 141,62 milímetros.

E sem água, não dá pra plantar. Este foi um dos temas do segundo dia do seminário, nesta quinta-feira (2), que o Consórcio de Desenvolvimento dos Municípios do Alto Tietê (Condemat) realiza na região.

Ana Paula Contador Packer é engenheira agrônoma e chefe geral da Embrapa Meio Ambiente. Foi uma das palestrantes do dia. Ela trouxe pro auditório os impactos do risco climático na agricultura.

“Aqui a gente está falando numa região de pequenos agricultores, então isso é muito importante. O poder público é muito importante nessa hora, para que essas tecnologias de aumento e de produção, de diminuição de 'input' de insumos, de diminuição de colocação de insumos na agricultura, uma agricultura com uma produção mais integrada chegue. Que vai minimizando todos esses impactos na agricultura e que vai aumentando a renda do produtor”, disse a engenheira agrônoma.

Tecnologia que aos poucos vai chegando e somando com o conhecimento do agricultor que, além de sabedoria, tem outro requisito.

“Um pouco de teimosia. O produtor rural é um pouco teimoso, ele tem os seus conhecimentos. Por mais que ele leve prejuízo, ele está sempre batendo na tecla que não vai desistir e que vai produzir”, conclui o agricultor Josemir Barbosa de Moraes.

https://g1.globo.com/sp/mogi-das-cruzes-suzano/noticia/2022/06/02/mudancas-climaticas-tem-afetado-as-temperaturas-do-alto-tiete.ghtml

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