O interesse zero dos partidos por uma alternativa a Lula e Bolsonaro
Ricardo Noblat
13/04/2022
A um aflito companheiro, preocupado com a fortuna que poderia ser gasta pelo MDB com a campanha da senadora Simone Tebet (MS) se ela vier de fato a ser candidata à sucessão de Bolsonaro, o deputado Baleia Rossi (SP), presidente do partido, primeiro olhou para os lados para certificar-se de que não havia ouvidos atentos, depois respondeu baixinho:
“Prometemos a ela a cota do dinheiro reservado por lei às candidaturas de mulheres. É um dinheiro que nunca gastamos mesmo ou que acaba sobrando”.
O interlocutor de Rossi, deputado federal e candidato à reeleição, respirou aliviado e foi embora. A esmagadora maioria dos partidos não está interessada em disputar a eleição presidencial com candidato próprio. Nada a ver com a polarização entre Lula e Bolsonaro, isso é apenas uma desculpa. Tudo a ver com a eleição de grandes bancadas de deputados federais e de senadores.
É o que vai contar na hora da repartição das verbas do orçamento secreto da União, seja Lula ou Bolsonaro o próximo presidente. Partidos com bancadas maiores valem mais para o governante na hora de aprovar seus projetos no Congresso. Sem o apoio deles, a governança fica comprometida. E apoio custa caro, como Bolsonaro tem provado na pele desde que se rendeu ao Centrão.
Lula tem dito que acabará com o orçamento secreto. O mensalão do PT surgiu em 2005 justamente porque lhe faltava apoio no Congresso. Os líderes do Centrão acham graça da promessa de Lula de pôr um fim no orçamento secreto. Com quantos votos ele contará para isso? Política deixou de ser política como foi um dia. Virou um negócio lucrativo como outro qualquer.
A terceira via não passa de um embuste para dar tempo ao tempo e enganar os que de longe torcem por ela.
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