Produtores de orgânico do Alto Tietê relatam dificuldade para contratar trabalhadores





Eles afirmam que mão de obra do campo vai para a cidade em busca de emprego.




Por Gladys Peixoto, g1 Mogi das Cruzes e Suzano


No sol ou na chuva, os trabalhadores do campo não param. Eles são responsáveis pela comida que abastece os centros urbanos. No Alto Tietê essa realidade é mais fácil de ser notada. Afinal, a região faz parte do cinturão verde do Estado de São Paulo. Segundo a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), ligada a Secretaria Estadual da Agricultura, são 5 mil agricultores nas 10 cidades. Desse total, 2 mil estão em Mogi das Cruzes.




No entanto, a mão de obra do campo está diminuindo a cada ano, especialmente na agricultura orgânica. A baixa remuneração atrelada a falta de perspectiva de crescimento e um trabalho desgastante nos campos faz com que o trabalhador, especialmente os jovens, deixem a agricultura em busca de trabalho na cidade.




A professora do curso de agronegócio da Fatec, Samira Gardiulis, analisa que o êxodo rural acontece nas duas pontas da agricultura, especialmente, a familiar: produtor e empregados. “É uma questão histórica de décadas o êxodo rural. O produtor em si é pouco valorizado, especialmente, os pequenos. Se ele não é valorizado, ele não quer que o filho siga a atividade. As famílias, a agricultura familiar, que antes eram numerosas vão encolhendo e envelhecendo.”




Quanto aos trabalhadores, ela avalia que o valor da diária deles no campo é baixa. E que na área urbana também não conseguem bons salários pela baixa escolaridade. “Se vai na cidade será ajudante geral, empregada doméstica, construção civil que é pesado. Mas no campo é mais pesado ainda. O trabalho braçal debaixo de sol e chuva, ele não quer. Às vezes, até para ganhar menos na cidade, mas com mais conforto. Ele escolhe outra oportunidade em vez de ficar na roça.”




A Cati informou ainda que o Alto Tietê é responsável pela produção de 25 mil toneladas de hortaliças por dia, isso equivale a 30% do que é produzido em todo o Estado de São Paulo.




Nesse cenário, a professora Samira avalia que a agricultura orgânica cresce velozmente, especialmente, por conta da alta demanda de consumidores. “Por isso tem valores maiores para os consumidores que mesmo assim estão dispostos a pagar. Em São Paulo a demanda por produtos orgânicos é maior que a oferta. Eles conseguem retorno mais bacana. Quem consome orgânico sabe pelo que está pagando. É um momento grande de consumo de orgânicos”, avalia a professora.




Agricultura orgânica

Ricardo Noburo Nonaka é produtor de orgânicos em Mogi das Cruzes. Ele vem de uma família de produtores. E chegou a abandonar o campo para continuar os estudos. Trabalhou como empregado e foi comerciante na área urbana. Mas voltou para a agricultura. hoje cultiva orgânicos em uma propriedade de 20 mil metros no Conjunto Santo Ângelo.




.Ele afirma que ocupa entre 2 mil a 3 mil metros com hortaliça. Já o restante está ocupando com árvores frutíferas, como cambuci e limão. Segundo Nonaka, na área onde está sua propriedade, 90% são pequenos produtores. Segundo o produtor, o maior entrave para aumentar a produção é a dificuldade em encontrar trabalhador. “A gente faz quase tudo manual. O convencional faz quase tudo na máquina”.




Nonaka destaca que trabalha sozinho no cultivo de alface, repolho, cenoura e berinjela. A produção é escoada entre a clientela que ele formou e para quem entrega semanalmente os produtos.




Paulo Honda também é produtor de orgânicos. Ele afirma que a produção depende muito de mão de obra. “E não pode ser qualquer pessoa, que não entende. Precisa estar acostumado a prática da horticultura.” Ele aponta que por estar na região da Grande São Paulo, a dificuldade de encontrar trabalhadores é maior. A propriedade dele está no limite de Mogi das Cruzes e Biritiba Mirim.




A professora Samira Gardiulis explica que a produção de orgânico exige trato rotineiro na terra não só com o plantio, mas com o controle de pragas também. E assim demanda ainda mais de mão de obra.




O presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Empregados Rurais, Benedito de Almeida, concorda com os produtores. A entidade atua em Salesópolis, Biritiba Mirim, Mogi das Cruzes, Suzano, Guararema e Santa Isabel





Ele ressalta que desde o início da pandemia o êxodo rural só aumentou. Para Almeida os baixos salários e a falta de perspectiva são alguns dos fatores que levam os jovens a abandonarem o campo.





Segundo o presidente, hoje a diária do trabalhador no campo está em torno de R$ 50. “Hoje não dá para trabalhar com dignidade e sobreviver no campo. Quem está na agricultura não pode fazer uma faculdade, ter um carro bom. Isso é ruim”, avalia Almeida.





Ele aponta que a agricultura orgânica pode ser uma forma de manter as pessoas no campo. Porque com o preço dos defensivos agrícolas em alta, o produtor não tem dinheiro para comprar. Almeida também aposta que o turismo rural pode ser uma alternativa para o setor. Ele diz ainda que é preciso incentivo do poder público para o jovem poder trabalhar e sobreviver com dignidade no campo. “Quando o produtor não planta, a cidade não almoça e não janta. Não tem alimento e essa é a minha preocupação.”




Para a professora Samir a questão do salário baixo no campo é histórica. “Quem faz o trabalho mais pesado é o menos valorizado. E o trabalhador rural menos ainda por não ter estudo. Tudo isso desvaloriza todos que vivem nesse meio pelo olhar da sociedade.”




Segundo a professora no Brasil apenas. os grandes produtores, como os de seja e pecuaristas, são reconhecidos. “A valorização do produtor teria que acontecer. Ser mais reconhecido pode gerar mais renda. Políticas públicas que valorizem a produção rural e tragam benefícios. Se tem remuneração do trabalho, as pessoas vão começar a pensar duas vezes para sair do campo para cidade. Isso é lento, mas tem que ter uma transformação de olhar.”



https://g1.globo.com/sp/mogi-das-cruzes-suzano/noticia/2022/03/12/produtores-de-organico-do-alto-tiete-relatam-dificuldade-para-contratar-trabalhadores.ghtml


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