Categoria de entregadores se fortalece durante pandemia

 Felipe Antonelli

A pandemia da Covid-19 reforçou a importância de determinados segmentos da sociedade. Na Saúde, o melhor exemplo, são os médicos, enfermeiros e outros profissionais da área, que trabalham diretamente no combate à doença. No efeito dominó causado pelo coronavírus, outros serviço se tornaram ainda mais primordiais, neste caso, o de entrega de alimentos em domicílio está entre os principais destaques.

A imagem, antes desgastada dos entregadores, foi substituída pela de alguém que, em meio à necessidade momentânea e a falta de opção causada pelas medidas restritivas do comércio, se arriscam ao contágio para levar alimentos às famílias que não puderam sair de casa por um longo período.
Com a popularização do serviço, o número de entregadores quintuplicou na região, chegando a cinco mil profissionais que utilizam motocicletas e bicicletas para realizar a entrega.
Segundo integrantes da categoria, em relação a compra de itens de proteção individual durante a pandemia, o auxílio das empresas não foi completo, ou seja, os entregadores precisaram tirar dinheiro do bolso para adquirir itens como máscaras, óculos de proteção, álcool em gel, dentre outros. Por outro lado, o grupo admite que o protocolo adotado pelas empresas em relação a casos suspeitos e confirmados dá a segurança para continuar atuando no ramo.
O entregador e vice-presidente da Associação de Motoboyos de Mogi das Cruzes e região, Luiz Fernando Branco, explicou que a exposição da categoria ao novo coronavírus é grande. "Quando alguém é contaminado, a empresa dá um amparo legal. A partir do momento em que o motoboy apresenta o teste positivo, o aplicativo afasta o profissional da atividade, dá amparo médico, uma quantia em dinheiro para ele se manter e só volta a trabalhar quando obtém alta médica", explicou Branco. 
O vice-presidente da associação também explicou que vive da renda angariada nas entregas, o que representa a realidade de uma parcela considerável da categoria. Há também um grupo que divide seus rendimentos entre as encomendas e empregos fixos.
É o caso do porteiro Carlos Eduardo Minas de Jesus, apelidado pelos companheiros de corridas como Zé Pequeno. Desde o ano passado, ele faz entregas em Mogi das Cruzes para completar a renda da casa. A rotina de Jesus é quase uma maratona. Ele trabalha 12 horas na portaria de um prédio em Mogi e, por volta das 19 horas, pega sua "bag" (mochila térmica de entregas) e sai pelas ruas fazendo entregas. Seu segundo expediente só termina por volta da meia-noite.
No outro dia, sem o compromisso com a portaria, Jesus deixa o aplicativo ligado para receber chamadas das 11 até as 16 horas, e depois das 18h30 até a meia-noite. "Apesar de eu ficar muito cansado, vale a pena", disse Jesus também tem críticas as empresas de delivery. "Uma delas, mesmo que de forma tardia, distribuiu kits de segurança sanitária. Mas, nem quando a gente sofre acidente durante uma corrida a empresa ajuda como deveria", lamentou Jesus.
Plataformas investem
As principais empresas do ramo de entrega de alimentos e produtos em domicílio dizem se movimentar desde o início da pandemia da Covid-19 para prestar apoio aos entregadores cadastrados em suas plataformas. Entre reclamações dos profissionais. estão a falta de assistência.
Após manifestações realizadas pela categoria, as empresas investiram e mudaram seus protocolos. 
O iFood informou que destinou mais de R$ 33 milhões em iniciativas exclusivamente voltadas aos entregadores durante a pandemia. Além da distribuição dos kits de higiene com álcool em gel e máscaras reutilizáveis, dois fundos solidários foram criados para apoiar quem precise permanecer em isolamento por fazer parte do grupo de risco ou apresentar sintomas do coronavírus.
Um plano de benefícios em serviços de saúde da empresa Avus também foi disponibilizado gratuitamente, o valor das gorjetas doadas pelos clientes aumentou e são repassadas integralmente aos entregadores, e foi desenvolvida a modalidade de Entrega sem Contato para preservar a saúde dos parceiros de entrega e clientes.
Já a Uber, responsável pela plataforma Uber Eats, implementou uma política para que qualquer entregador parceiro possa receber assistência financeira por até 14 dias, enquanto estiver impossibilitado de usar a plataforma - isso vale para pessoas diagnosticadas com a Covid-19 ou que tiverem a quarentena individual solicitada por uma autoridade de saúde ou por um médico, pelo risco de disseminar a doença. A medida se estende para aqueles que fazem parte do grupo de risco, com chances de desenvolver uma forma grave da doença.
O valor da assistência financeira é baseado na média diária de ganhos do entregador nos três meses anteriores ao pedido de recebimento do auxílio. Desde o início da pandemia, entregadores cadastrados na Uber Eats podem solicitar, por meio do próprio aplicativo, reembolso para itens de proteção, como álcool em gel e máscaras. "A Uber priorizou essa solução exatamente pela capilaridade, para garantir que qualquer entregador de qualquer lugar do Brasil possa ter acesso aos recursos", afirmou a empresa em nota.
Para ajudar a proteger entregadores parceiros, a Uber também enviou mensagens aos usuários da plataforma Uber Eats solicitando para preferirem a entrega de pedidos sem contato direto - o que pode ser feito no aplicativo. (F.A.)

Convívio amigável beneficia profissionais
Com o aumento expressivo de entregadores nas ruas, seria natural uma competitividade grande entre os profissionais na disputa por entregas e pelas melhores gorjetas. Entretanto, o que a categoria conta é que nas ruas o convívio entre os entregadores é plenamente amigável, respeitoso e de compreensão com a realidade de cada uma das pessoas que estão prestando o serviço. 
Segundo conta o entregador Luiz Fernando Branco, que atua em Mogi das Cruzes, a categoria é receptiva com os novos membros. "Uma boa parte de quem está na rua fazendo o serviço de entrega é porque ficou desempregada e precisa levar comida para casa. Entendemos a realidade de cada parceiro e acaba não tendo confusão nenhuma, pelo contrário", completou Branco.
No mesmo sentido, o entregador Carlos Eduardo Minas de Jesus afirma que em Mogi, onde também atua, a disputa  desrespeitosa não existe. Segundo ele, até o apelido dado pelos amigos de profissão - Zé Pequeno - foi uma brincadeira que surgiu entre as corridas. "É muita amizade, sempre conversamos entre as viagens. Eu, pessoalmente, peguei o conhecimento das ruas, dessa 'malícia' da entrega, desse contato com os outros motoboys", completou Jesus.

Protesto
Colocando em prática essa união, cerca de 180 entregadores fizeram na semana passada uma manifestação em Mogi das Cruzes para cobrar iniciativas dos órgãos de segurança pública em relação a quantidade de assaltos que a categoria vem sofrendo. Segundo lideranças do grupo, assaltos e emboscadas têm aumentado nos últimos meses com o crescimento da quantidade de entregadores nas ruas devido às restrições impostas pelo novo coronavírus. (F.A.)
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