Série do JN sobre inovação mostra que futuro chegou e até já passou - Repórter faz sua própria miniatura em impressora 3D. - No parque tecnológico da UFRJ, a experiência da realidade aumentada.

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Faz alguns meses, o Jornal Nacional recebeu uma sugestão de pauta bem ambiciosa.
A ideia era produzir uma série de reportagens sobre inovação, a necessidade de inovar, as dificuldades de ser inovador, e como o resultado desse esforço pode ser fantástico para quem inova, para um país, para toda a humanidade.

A repórter que trouxe essa proposta de pauta para a gente foi a Sandra Passarinho e isso praticamente já garantiu a riqueza das reportagens. Porque aqui, na tela da Globo, a Sandra apareceu muitas e muitas vezes trazendo notícias sobre esse assunto, que a apaixona desde o início da carreira. E, ao longo desse período, o futuro que ela viu chegar já passou.

1984
Há um serviço que existe há pouco mais de 1 ano mas que é pouco conhecido do grande público e que ajuda as pessoas a saber o saldo da sua conta bancária. Não é isso? Como é que funciona isso?

O futuro que eu vi no século 20 já era, mas ele abriu um caminho para o que chegou no século 21. Olha aí, esta é a repórter! O mínimo que a impressora pode fazer é uma miniatura de gente. O máximo ainda não tem limite.
É um potencial que está começando a renovar a indústria e a maneira de se trabalhar no Brasil.
As impressões 3D estão tomando conta do mundo e o Brasil está nessa. A máquina não imprime letras e sim camadas de peças em terceira dimensão desenvolvidas no computador.
Na área da medicina, a impressora 3D se tornou uma ferramenta indispensável.
O pesquisador Jorge Lopes cria modelos de medicina fetal no Instituto Nacional de Tecnologia e na PUC do Rio de Janeiro.
Além de saciar a curiosidade dos pais, a impressão 3D permite identificar problemas no desenvolvimento do feto.
O pesquisador começou fazendo um modelo de seu próprio filho, que hoje está no Science Museum, de Londres.
“Foi o primeiro bebê, o primeiro feto impresso em 3D da história. Ele fica lá na coleção permanente”, disse Lopes.
O desafio mais recente do pesquisador foi a modelagem de uma gravidez de quadrigêmeos, com 32 semanas de gestação.
“Pudemos avaliar melhor alguns pontos dos bebês que eu não conseguia ver isoladamente no ultrassom”, disse Heron Werner, obstetra especialista em medicina de imagens.
“Nunca pensei em passar por tanta emoção, sentir que eles já estavam assim. Onde estava o pezinho de cada um, cabeça, como o Henrique estava apertadinho”, contou Fernanda Lima Facchetti, a mãe dos quadrigêmeos.
Para a Fernanda, ver esse modelo perfeito, numa gravidez de risco, foi como ter os filhos antes de eles nascerem.
“As pessoas perguntam: como você vai saber quem é quem? Eu falei, eu já tenho a impressão, eu já sei a posição de cada um. Eu sei a ordem de nascimento de cada um”.
O modelo dos quadrigêmeos está na capa de uma revista médica inglesa de junho.
Esses bebês também são filhos de uma nova revolução industrial. 

“Daqui a uns anos, todo mundo vai ter uma impressora 3D em casa, e vai ser tão comum quanto um computador e um celular”.

Thiago imprimiu uma cadeira de rodas para um cachorro que foi atropelado e perdeu os movimentos das patas traseiras.
“Levou uns três meses para a gente fazer tudo, mas com dedicação exclusiva saía em dois ou três dias”, disse o engenheiro Thiago Palhares.
Sandra: Quanto é que custou essa cadeirinha de rodas?
Thiago: Deve ter custado menos de 80 reais.
Sandra: Agora vai ser o primeiro teste dele na rua?
Thiago: Viu que ele passou na parte de barro, de buracos, testou as pedras portuguesas, que no Rio tem muitas, subida, então está testando já.

E como uma inovação puxa outra, os pesquisadores acreditam que o próximo passo na medicina fetal vai ser investigar a vida dentro do útero, navegando com uns óculos de realidade virtual. Ideia brasileira.
Vamos ver de novo os quadrigêmeos?
Na medida que você vai chegando mais perto, aumenta a percepção de determinadas áreas, se você quiser explorar mais uma determinada área. 
E se dá para misturar o ambiente real ao virtual, agora a aplicação é para a engenharia.
Eu estou agora aqui no parque tecnológico da UFRJ, e você me vê através de um processo conhecido como realidade aumentada. Esse recurso, que permite que a gente fique aqui brincando com o mundo real, também é útil para o dia a dia da nossa vida.
Vamos dar um exemplo do que a realidade pode fazer numa cozinha. Vamos dizer que a gente quer fazer uma obra na cozinha e a gente não sabe onde passam os fios, onde é a eletricidade. Como é que eu vou enxergar isso através da realidade aumentada?
“A parte hidráulica está passando exatamente aqui. Se eu fizer um furo aqui, vou furar um cano de água”, diz Gerson Gomes Cunha, pesquisador e professor de pós-graduação da Coppe/UFRJ.

Mas, para ter essa visão completa, é preciso inserir a planta baixa do imóvel no aplicativo. Ah, se esse aplicativo já estivesse no mercado!

Sandra: Gisele, sua dor de cabeça mora nesta cozinha?
Gisele: Isso
Sandra: Por que está quebrado até agora?
Gisele: Porque teve um vazamento de gás, e depois que toda a obra estava finalizada, a gente teve que voltar e quebrar para se descobrir onde era o vazamento.
Sandra: Foi um pedreiro que fez a obra? Ele sabia o que tinha aqui?
Gisele: Exatamente, não.

Uma inovação que poderia reduzir erros. Mas o que falta para tirar essa inovação do laboratório e transformá-la num produto do mundo real?
“Toda inovação precisa de um convencimento, porque existe um grupo de pessoas que está apto e ávido por novidades. Tem um grupo de pessoas que só aceita novidades depois que ela já está testada e comprovada por alguém. E tem os resistentes. É que nem o celular, no início as pessoas pensavam: Pra que eu vou precisar de celular; é uma coisa cara, se tem orelhão em toda a esquina?”, afirma o professor Gerson.
Se a gente não tiver vontade de inovar, nunca vai sair do passado.
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Inovar não é só ter uma ideia boa. É também uma questão de ousadia e de persistência. Na última reportagem da série que o Jornal Nacional apresenta nesta semana sobre o esforço de brasileiros para inovar, a Sandra Passarinho mostra que a lista de problemas vai da dificuldade para conseguir incentivos até o excesso de burocracia.
Essa não é uma nebulização comum. A fumacinha é de um medicamento inovador para tratar o câncer de cérebro.
“Eu não fazia planos para o carnaval do ano que vem, uma viagem. Eu não fazia planos a longo prazo, porque eu não sabia se ia estar viva. Agora eu faço planos”, disse a advogada e paciente Lourdes Sauer.
A substância que traz uma esperança para pacientes é chamada de álcool perílico, um óleo extraído de frutas cítricas, como o limão. A novidade descoberta pelo médico da Universidade Federal Fluminense e sua equipe é que a inalação desse óleo pode reduzir o tumor e controlar a doença, complementando o tratamento convencional. Doutor Clovis começou a aplicar testes em pacientes e o tratamento continua em fase experimental.
Lourdes descobriu o câncer em 2009, operou, e desde 2013 faz a inalação do álcool perílico.
Sandra: O tumor reduziu?
Lourdes: Está totalmente inerte. Ele não está em atividade. Ele está quieto.
Sandra: Isso aparece nos resultados?
Lourdes: Sim, sim.

O médico demorou 13 anos até conseguir a patente da inovação, concedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial em 2014, e extinta meses depois, no mesmo ano, por falta de pagamento de uma anuidade. Ele só recuperou a patente em junho de 2017, depois de recorrer ao Superior Tribunal de Justiça.
O próximo passo é procurar uma indústria que se interesse em produzir o medicamento, se o resultado final dos testes for positivo. A burocracia e o longo tempo perdido atrapalham o futuro dos projetos, na opinião do doutor Clovis.
“Os investidores querem segurança e nós não podemos dar essa segurança devido ao nosso atraso no sentido de tecnologia e inovação”, explicou o pesquisador Clovis Orlando da Fonseca.
Cinco universidades americanas estão interessadas em fazer testes clínicos com esse álcool.
“Nós temos pressa. ‘Mas é porque ainda não saiu lá no ministério. Ah, porque depende’. Não interessa. Para a gente, não interessa. Interessa é ter o remédio hoje. E quem tem câncer tem pressa”, afirmou o engenheiro e paciente Fernando Moreira.
O INPI começou, em 2016, a facilitar o exame dos pedidos de patente na área da saúde, considerados estratégicos para o SUS. Nesse caso, quem solicita pode passar à frente na fila de espera, que tem mais de 200 mil pessoas. Mas o presidente do INPI reconhece a enorme dificuldade para se conseguir a maioria das patentes no Brasil.
“O trâmite de uma patente hoje está estimado em 10 anos e 9 meses. A nossa capacidade de exame técnico hoje é de cerca de 9 mil patentes por ano. E, nos últimos 3 anos, a média de pedidos que o INPI tem tido é 30 mil pedidos. Então nós estamos sempre aquém”, explicou o presidente do INPI, Luiz Otávio Pimentel.
A dificuldade para obter uma patente ajuda a manter o Brasil em baixa no índice global da inovação. Pense no ranking da inovação como uma ladeira em que o ideal é chegar ao topo e quanto mais alto melhor. Subir, é claro, é sempre mais difícil do que cair, porque a competição entre os países só aumenta. Mas onde estamos?
Entre 2011 e 2016, o Brasil caiu do 47º lugar para o 69º. Na região da América Latina e Caribe, o Brasil ficou atrás do ChileCosta RicaMéxicoUruguaiColômbia e Panamá. E estamos a uma longa distância dos cinco primeiros colocados: SuíçaSuécia, Holanda, Estados Unidos e Reino Unido.
O Brasil investe apenas 1,27% do PIB em pesquisa e desenvolvimento e 2/3 desse dinheiro vêm apenas do estado. O professor Caetano Penna, da UFRJ, diz que essa situação precisa mudar. Ele acredita que inovar tem que ser um esforço coletivo.
“A inovação vem das empresas, mas o estado tem um papel de coordenar e também de fomentar a inovação com financiamento ou com outras políticas estratégicas. A inovação é esforço coletivo, então quando nós juntamos diferentes cérebros jovens dentro do mesmo espaço, o potencial de gerar ideias inovadoras é muito grande”, afirmou o economista Caetano Penna.
Veja um exemplo dessa iniciativa no Senai Fab Lab, um laboratório de fabricação. Os primeiros passos rumo à inovação levam a esse ambiente informal onde a única regra é criar com rapidez, em pequena escala e para desenvolver produtos que atendam a interesses das indústrias.
Os garotos estão quebrando a cabeça para criar um protótipo de uma nova máquina para fazer chapas metálicas. A encomenda é de um fabricante que não tem obrigação de comprar a peça.
“Na parte do protótipo, teve uns problemas que a gente montava e não é assim e desmonta. Até conseguir chegar nisso foram muitas dificuldades, muitos desafios”, contou uma aluna.
“Além de você saber que está tendo uma crise, está difícil lá fora, isso te motiva ainda mais”, contou outro estudante.
Semanas de preparo e de vai e vem no laboratório, e o protótipo está pronto. Hora de o empresário conferir a inovação e fazer um ajuste final: “Agora vai funcionar. Corta automático. Antes era um funcionário que vinha aqui e fazia”, disse o empresário Orlando Marques.
Sandra: Cortava manualmente?
Orlando: Exatamente. Ele já sai e já cai aqui.
Sandra: Pelo o que o senhor está dizendo, esse protótipo está aprovado?
Orlando: Está aprovado por mim! A gente precisa das ideias desses jovens, porque às vezes a gente não dá atenção para certas coisas e são até óbvias.

“Tem faltado inovação, tem faltado aquela pessoa que pensa diferente, porque é tudo naquela metodologia. É tudo naquela rotina. Mas, às vezes, é necessário você se desafiar. Ás vezes é necessário você sair daquilo que você está acostumado para você ver que existe outro horizonte”, declarou a técnica em eletrônica Juliana Ferreira da Silva.
No passado se achava que o inovador era um gênio da lâmpada. Bastava acender e surgia uma grande ideia. Mas como a gente acabou de ver nessa reportagem, hoje em dia, as inovações em geral surgem de uma troca de experiências entre pessoas que de alguma forma descobrem um novo significado em coisas que já existem. O amanhã será um outro dia para tentar reinventar a vida.

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