Estado de SP tem 150 mil benefícios do seguro-desemprego a menos com novas regras Na contramão, a quantidade de desempregados subiu e chegou a quase 17% no ano passado na Região Metropolitana. Para especialista ouvido pela CBN, as mudanças na regra de concessão estão corretas, mas foram tomadas pelo governo no momento errado.
Carteira de trabalho
Crédito: Marcos Santos/USP Imagens |
Por Évelin Argenta-------------------------------------------------------------
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Mesmo
desempregada, a operadora de telemarketing Rosane Aparecida acordou
cedo: ela precisava encaminhar o seguro-desemprego em São Paulo. ‘Eu
tentava agendar durante o dia, mas me disseram para tentar de manhã
cedinho. Um dia entrei no site às 6h e saíram 96 vagas para um dia.
Em
dez minutos não tinha mais nenhuma’.
Rosane faz
parte dos quase 1,9 milhão de trabalhadores que foram demitidos em
novembro no estado.
O número representa 17% da população economicamente
ativa.
Ao lado de
Rosane, na fila em busca do seguro-desemprego está a auxiliar de
escritório Fabiana Barion. Ela e o marido estão desempregados e, agora,
contam com o dinheiro do seguro para pagar algumas contas.
'Os pais dele
nos cederam uma casa pra gente ficar, então não pagamos aluguel. Mas as
contas, a gente sempre vai deixando alguma de lado’.
Um
levantamento do Ministério do Trabalho feito a pedido da CBN mostra que,
só no ano passado, foram concedidos 2,1 milhões de benefícios. Uma
redução de quase 150 mil pagamentos em relação a 2015.
Um dos motivos
apontados para essa queda é o endurecimento da regra que prevê o
pagamento de seguro-desemprego.
No pior
ano da crise, a restrição de parcelas tinha o objetivo recuperar os
cofres públicos.
Se por um lado ajuda o governo, por outro tem
prejudicado os trabalhadores.
É que muitas pessoas foram obrigadas a
buscar emprego em um mercado que não tem conseguido absorver a demanda.
Para o
pesquisador da Fundação Getúlio Vargas, Bruno Ottoni, uma medida certa,
tomada na hora errada.
'Se você implementa uma medida dessa num momento
em que o país está crescendo, as pessoas pensam: ‘olha, é melhor eu me
preparar, poupar mais enquanto estou empregado porque o
seguro-desemprego agora está menor’.
Ou seja, você dá mais tempo para
que as pessoas incorporem essas novas regras nas suas tomadas de
decisão’.
É o caso
do motorista Sandro Barion, marido de Fabiana.
Ele está desempregado há
mais de um ano e não conseguiu se recolocar no mercado.
O seguro
terminou e, agora, ele tenta pagar as contas fazendo instrumentos
musicais. ‘Quando muito eu consigo R$ 1,2 mil. Mas não é todo mês. Eu
fiquei quase três meses o ano passado sem vender nada. Começou a crise e
eu não vendi mais nada’.
As
mudanças no seguro-desemprego são justificadas pelo governo através dos
gastos com o benefício. Entre 2003 e 2014, quando o desemprego caiu para
4,7%, o pagamento do seguro chegou a R$ 35 bilhões por ano.
Os cálculos
depois da nova regra ainda não estão prontos.