Quase um terço da população acha que roupa justifica estupro - mulheres que se dão ao respeito não são estupradas.
Um número alto: 85% das mulheres
brasileiras têm medo de sofrer algum tipo de violência sexual.
Outro
dado revela como a visão machista do estupro é ainda presente e ajuda a
explicar o que pode parecer uma contradição:
Entre o público feminino,
32%, quase 1/3, acreditam na frase mulheres que se dão ao respeito não
são estupradas. 42% dos homens compartilham dessa ideia.
No geral, 30%
das pessoas concordam que a mulher que usa roupas provocativas não pode
reclamar se for violentada.
A pesquisa é do Datafolha e foi
encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Revela que são
os mais velhos - especialmente com mais de 60 anos - e com menos
escolaridade - os que mais culpam a mulher pela agressão.
Isso
também ocorre mais em cidades pequenas do que nos grandes centros. Porém
mesmo no grupo que menos aceita a responsabilização da mulher, o
percentual ainda espanta: de cada cinco pessoas que têm curso superior
completo, uma concorda que o comportamento da mulher é a causa do
estupro.
Samira Bueno, coordenador do Fórum de
Segurança, diz que a esperança também vem de um dado: 91% dos
entrevistados acham que é preciso educar meninos a não estuprar.
Esforço
para se mudar ideias arraigadas que se comprovam num caso concreto.
Bueno cita a conclusão da polícia sobre o
estupro sofrido por uma jovem de 16 anos no Rio de Janeiro, filmada
desacordada com vários homens ao seu redor tendo partes íntimas tocadas e
expostas.
Ele lembra que um delegado foi afastado do caso e que várias
pessoas tentaram responsabilizar a adolescente.
No Brasil acontece um estupro a cada 11
minutos e a estimativa é de que esses registros signifiquem apenas 10%
dos casos.
Na maioria, a vítima conhece o agressor.
A entidade diz que o
crime sexual contra a mulher é algo a se combater no mundo todo, mas
que aqui enfrenta ainda o obstáculo de se olhar a vítima muitas vezes
como vilã, prova de que tal ideia permeia a sociedade é o calvário que a
vítima enfrenta nos órgãos de segurança e justiça, sem apoio.
O Fórum Brasileio de Segurança defende a
abordargem da questão de gênero nas escolas como instrumento de
transformação.