Havia
quase uma centena de pessoas naquela reunião popular em Jundiapeba. Era
mais uma etapa da jornada desenvolvida no ano 2000 para elaboração do
PGP – Plano de Governo Participativo, instrumento que se tornou a
bússola dos meus dois mandatos como prefeito de Mogi das Cruzes.
Manifestações acaloradas, discussões paralelas, burburinhos, o furor que
vem a reboque de um tema polêmico: a saúde pública. Todos queriam
opinar ao mesmo tempo. Em meio ao alvoroço, uma jovem grávida ergueu o
braço e se apresentou.
Chamava-se Maria, tinha 27 anos, seis filhos e o sétimo a caminho. Nunca
fizera um exame de prevenção do colo do útero. A filha mais velha, de
14 anos, entrara no quinto mês de gestação sem ter passado por um único
exame pré-natal.
Instalou-se o silêncio, testemunha da relação de identidade firmada com a
história que ela trazia. Maria prosseguiu dizendo que uma consulta com
ginecologista parecia quase tão difícil quanto enfrentar as dores do
parto. E se a criança já não tinha assistência no ventre da mãe, também
não receberia cuidados adequados depois de nascer. Nada de pediatra; só
clínico geral.
Maria expressava-se com desenvoltura escancarando refinado conhecimento
do dramático panorama da saúde pública. Mãe, filha, esposa e, em poucos
meses, também avó, defendia maior atenção à mulher e a medicina
preventiva. Falou com a dignidade de cidadã. Aos ouvintes, provou que a
experiência emerge como sábia mestra de quem tem a humildade de
aprender.
O que Maria não sabia é que seu depoimento seria a semente para começar a
revolução na saúde pública de Mogi das Cruzes. Assumi a Prefeitura em
2001 com uma filosofia de governo alicerçada na qualidade de vida dos
moradores. Significa que o ser humano vem em primeiro lugar. Tudo mais
tem de ser ajustado a esse propósito. Os cuidados começam quando ele
ainda está na barriga da mãe. E se estendem ao longo de sua existência.
Foram conceitos de prática obrigatória em todas as áreas da
administração municipal.
Para enfrentar as graves deficiências da saúde, reorganizamos e
modernizamos a estrutura, e investimos pesado – sempre além do que manda
a legislação – para ampliar a rede de atendimento, a frota de
ambulâncias e, principalmente, a equipe de profissionais. Ao longo de
três anos, perseguimos os meios para consolidar o projeto capaz de
garantir às mulheres de todas as idades um tratamento especial. Em 8 de
março de 2004, inauguramos a primeira unidade do Pró-Mulher. A segunda,
em Braz Cubas, chegaria dois anos depois.
Foi o meio de prestar uma homenagem cotidiana às mulheres, sob a forma
de assistência especializada e de serviços que incluíam programas de
prevenção, planejamento familiar – de orientação até encaminhamentos
para laqueadura e vasectomia –, gestação segura, acompanhamento e de
saúde bucal para gestantes e bebês.
Houve uma série de outras iniciativas para melhorar a saúde pública na
Cidade, tanto em minhas gestões como nas do atual prefeito Marco
Bertaiolli (PSD). Puxei esse relato da memória para propor uma reflexão
sobre a importância da mulher. É minha singela homenagem às guerreiras
celebradas no dia 8 de Março.
Sempre fui cercado por grandes mulheres, de quem sou um eterno devedor.
Delas, aprendo um pouco todo dia. E me torno um ser humano mais sensível
e essencialmente grato. A Deus, à vida, ao mundo. Falo de gente
guerreira que não foge da raia e, apesar da aparente fragilidade, faz
emergir uma força sobrenatural capaz de superar os maiores obstáculos.
São exemplares femininos que, por si, justificam a existência de um dia
em homenagem à mulher. Penso que todos os dias deveriam ser especiais
para elas. São guerreiras inatas, cada qual com suas habilidades,
encantos e peculiaridades. Rezo a Deus para que proteja e ampare todas
no planeta. Apelo aos homens que se esforcem um pouco mais para serem
dignos da presença delas. Que aprendamos com elas o indescritível
significado de gerar vida. Acima de tudo, que saibamos ouvi-las sempre.
Afinal, uma delas pode dizer aquilo que mudará o curso da história. Como
fez Maria, a jovem que inspirou a revolução da saúde mogiana com o peso
da verdade que nunca exagera. E nem exclui. Parabéns, grandes mulheres! |