Dentro do Planalto, falou-se muito da questão da anistia. Virou até uma certa 'piada interna'. Ficou muito claro que a anistia era para ele [Bolsonaro], e não para quem está preso na Papuda ou na Colmeia.
Bolsonaro e o bolsonarismo continuam com uma megaforça. Isso o governo do PT não nega. Mas, para ele, isso não vai influenciar as investigações da Polícia Federal e muito menos os julgamentos no STF. Pelo contrário: o domingo mostra um 'risco Bolsonaro' para a democracia brasileira caso ele não seja freado pelos crimes que cometeu.
Leonardo Sakamoto, colunista do UOL
Sakamoto ressaltou, porém, que o governo avaliou o ato na Paulista como uma "demonstração de força" de Bolsonaro, o que gera certa preocupação para as eleições municipais deste ano.
Há a questão eleitoral, e isso preocupa de verdade o PT e o governo de uma maneira geral. Eles não vão reconhecer isso publicamente, mas sabem que a força eleitoral do bolsonarismo continua muito grande. Nos locais onde o bolsonarismo 'raiz' ainda é muito forte, quem colar no Bolsonaro deve ter uma boa votação em 2024.
Para o bolsonarismo, o Senado é importante. Eles querem eleger uma bancada grande para influenciar no STF a partir de 2027, sabendo que Bolsonaro não estará eleito e, para tanto, precisam agora eleger prefeitos e vereadores que sejam a base desses candidatos ao Senado em 2026. Ninguém [no governo] viu como uma surpresa, mas uma constatação de que a força eleitoral do bolsonarismo continua grande. Isso será levado em consideração para os planos em outubro.
Leonardo Sakamoto, colunista do UOL
Conteúdo UOL
O UOL News vai ao ar de segunda a sexta-feira em duas edições: às 10h com apresentação de Fabíola Cidral e às 17h com Diego Sarza. O programa é sempre ao vivo.
“Eu descobri nessa manifestação um nível surreal de desinformação e de desconexão com a realidade”, relatou o jornalista
Eduardo Guimarães (Foto: Felipe L. Gonçalves/Brasil247 | Rovena Rosa/Agência Brasil)
247 - O jornalista Eduardo Guimarães esteve na Avenida Paulista, em São Paulo, no último domingo (25) para cobrir ‘in loco’ a manifestação convocada por Jair Bolsonaro (PL) para se defender das investigações da Polícia Federal sobre uma tentativa de golpe de Estado. “Eu fui mergulhar no multiverso na loucura. É um universo paralelo. Eu me senti em outro planeta. Uma das coisas mais surpreendentes é o nível de alienamento”.
Guimarães se mostrou perplexo com o nível de desinformação dos seguidores de Bolsonaro. “Eu descobri nessa manifestação um nível surreal de desinformação e de desconexão com a realidade. Eu fiquei cerca de uma hora fazendo entrevistas, entrevistei todo tipo de gente. Teve um deles com quem eu falei sobre o vídeo da reunião ministerial. O sujeito falou ‘o quê? Vocês têm um vídeo do Bolsonaro falando que era para fazer alguma coisa antes das eleições? Então por que não prendem ele? Por que ele já não está preso?’. ‘Você me desculpa, meu amigo, mas isso é mentira’, ele falou para mim. ‘Se isso existisse o Bolsonaro já estaria preso. Onde você viu isso? Isso não é verdade’”.
“Eu entrevistei muita gente. O que você percebe é que eles não estão informados, eles não sabem o que está acontecendo. Eles estão muito mal informados. É o multiverso da loucura, da insanidade, da falta de nexo”, complementou.
O jornalista ainda relatou momentos de tensão e de iminente violência por parte dos manifestantes que, segundo ele, contavam com a conivência da Polícia Militar.
88% dos manifestantes na Paulista creem na falsa teoria de que Bolsonaro venceu em 2022
Levantamento também mostrou que 94% acreditam que “os excessos e perseguições da Justiça caracterizam a situação atual como uma ditadura”
Ato de Jair Bolsonaro na Avenida Paulista, em São Paulo (SP) (Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil)
CartaCapital - Um estudo de pesquisadores da Universidade de São Paulo indicou que 88% dos manifestantes presentes na Avenida Paulista no domingo (25) acreditam na falsa teoria de que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) venceu a eleição de 2022, em vez do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A crença não condiz com a realidade: o Tribunal Superior Eleitoral contabilizou 50,9% a favor de Lula e 49,1% a favor de Bolsonaro no segundo turno da disputa, em 30 de outubro do ano passado. Segundo o relatório, apenas 8% disseram não crer na vitória de Bolsonaro naquela ocasião e 4% afirmaram não saber.
Apoiadores, Jair, Michelle Bolsonaro e Silas Malafaia no ato na Paulista. Créditos: Facebook Fabrício Queiroz / Paulo Pinto Agência Brasil
Por Plinio Teodoro
POLÍTICA27/2/2024 · 06:49
Em meio à explosão de memes que invadiram mais uma vez as redes sociais satirizando apoiadores de Jair Bolsonaro (PL), pesquisa do Monitor do Debate Político no Meio Digital da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP realizada no ato na Paulista no último domingo (25) mostra que os apoiadores do ex-presidente orbitam um universo paralelo criado pelas mentiras propagadas pela extrema-direita fascista no Brasil.
Segundo o estudo, 88% dos presentes no ato "acreditam que foi Bolsonaro e não Lula quem de fato ganhou a eleição para presidente em 2022" - apenas 8% dizem o contrário e 4% não sabem. O dado mostra a influência dos ataques às urnas eletrônicas que ainda são feitos pelo Gabinete do Ódio, além do discurso do próprio ex-presidente.
Além disso, 94% dos extremistas acreditam viver hoje em uma "Ditadura", diante do que consideram "excessos e perseguições da Justiça", mais uma vez fazendo eco à narrativa fascista - 4% se colocam contrários e 2% não sabem.
Quase metade dos presentes no ato - 49% - afirmam que Bolsonaro deveria ter dado um golpe e decretado Garantia da Lei e da Ordem (GLO) no final de 2022 - 39% dizem que não e 12% não sei.
Mugido do desespero: Discurso de Bolsonaro é o último ato antes da prisão
Já quanto a invocar o Artigo 142, sobre uma ilusória interpretação de que as Forças Armadas assumem o governo como poder moderador, há uma divisão: 42% dizem que Bolsonaro deveria ter usado o artigo e 45% afirmam que não - 12% não sabem.
O Estado de Sítio, cogitado em uma das minutas golpistas apreendidas pela PF, teve apoio de apenas 23%, enquanto 61% rechaçaram - 15% não sabem.
Homem branco de classe média
O estudo ainda mostra que a horda bolsonarista que esteve na Paulista tem um perfil muito diferente da população brasileira, formada em sua maioria por mulheres 51,5%, pardos (45,3%) e pretos (10,2%) - brancos são 43,5%. Segundo o IBGE, a mairia da população (52,5%) se concentra entre os mais pobres (classes D/E), com renda média mensal de até R$ 3,2 mil. A idade média é de 35 anos.
Na Paulista, os apoiadores de Bolsonaro mostraram um perfil bem diverso da sociedade brasileira, segundo dados do monitor da USP a maioria era formada por homens (62%), brancos (65%) e de classe média e média alta.
Segundo a pesquisa, 26% dizem ter renda familiar entre 3 e 5 salários mínimos, 25% enbtre 5 e 10 S.M.s, 13% entre 10 e 20 S.M.s e 9% acima de S.M.s.
O estudo mostra ainda que 67% declararam ter Ensino Superior, 6% Fundamental e 26% Ensino Médio. Em relação à religião, mesmo com o pastor Silas Malafaia sendo o organizador, 43% disseram ser católicos e 29% evangélicos. Outros 10% se declararam "espíritas/kardecistas", 7% outras e 10% nenhuma.
Outro dado interessante mostra que 1 a cada 3 extremistas viajaram para participar do ato: 66% dizem morar na Grande SP e 34% em outra cidade.
Em relação às eleições de 20226 e a inelegibilidade de Bolsonaro, 61% apontam o governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) como o melhor nome para concorrer à Presidência. Michelle Bolsonaro (PL) vem em segundo com 19%, seguida do governador mineiro Romeu Zema (7%). Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Damares Alves (Republicanos-DF), Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e Braga Netto (PL) registraram 1%.
A pesquisa do Monitor do Debate Político no Meio Digital foi coordenada pelos professores Pablo Ortellado e Márcio Moretto Ribeiro. O levantamento foi feito a partir de entrevistas presenciais com 575 pessoas entre 13h30 e 17h de domingo, em toda a extensão da Avenida Paulista. A margem de erro é estimada em quatro pontos percentuais para mais ou menos, para um grau de confiança de 95%.
Mensagens encaminhadas pelo tenente-coronel do Exército Sergio Ricardo Cavalieri a Mauro Cid, em novembro de 2022, relatam um encontro de agentes da Abin com hackers que alegavam terem constatado “inconsistências” no sistema eletrônico de votação.
Nas mensagens, eles dizem que a ex-ministra e agora senadora, Damares Alves (Republicanos–DF), pode ter mediado o contato entre eles e o Palácio do Planalto. A conversa consta no relatório da Polícia Federal entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Cavalieri, um dos alvos da investigação que apura a tentativa de golpe de Estado, enviou áudios que, segundo ele, seriam de dois hackers do interior de São Paulo. Neles, um interlocutor — supostamente um dos hackers — conta que os dois “analisaram arquivos do TSE e constataram inconsistências”.
Após isso, conforme o áudio, eles procuraram pessoas do governo federal, governadores e parlamentares para relatar a descoberta, mas não obtiveram resposta. O deputado Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, é citado nominalmente como uma das pessoas que foi procurada.
O narrador afirma então que a tia de um deles (identificado como Gabriel) frequentava a mesma igreja da senadora Damares Alves e passou a história para ela. Damares teria repassado o contato de uma assessora de Jair Bolsonaro.
“Por coincidência uma tia do Gabriel tá na mesma igreja da Damares, da ministra. É… aí a Damares ela escutou, beleza é amiga dela e passou um contato de uma assessora do Bolsonaro. Aí em vez deles ali, no núcleo do Governo, acho que ou por desconsiderar ou não acreditar alguma coisa… que que ela fez… ela passou a informação pro pessoal e de alguma forma essa assessora… não sei se ela que falou ou não. Mas chamaram o pessoal da Abin, da agência nacional”, diz a transcrição do áudio feita por investigadores da PF.
O suposto hacker fala que a Abin foi lá para “especular, saber como eles haviam chegado naquele resultado”, mas diz que os agentes eram “tecnicamente fracos”:
“(…) esses caras da Abin vieram aqui ficaram dois ou três dias… Aí não é desmerecendo, cara, mas a gente entr… chegou numa conclusão que caras estudaram pra entrar num concurso… passaram no concurso, mas tecnicamente são fracos demais (…) Então, eles vieram e a gente percebeu que foi mais… pra especular e saber como que a gente chegou naquele resultado”.
As mensagens foram encaminhadas no período em que os investigados buscavam encontrar fundamento na tese de que houve fraude no processo eleitoral. Cavalieri pergunta a Cid se ele já recebeu aquilo e Cid, sem demonstrar surpresa, responde: “Nosso pessoal que fez… Hahahahaha”. Não é possível concluir a quem o então assessor de Jair Bolsonaro se refere quando diz “nosso pessoal”
Formada pela UFSC com mestrado no CPDOC da FGV-Rio. Foi repórter especial do jornal O Globo e colunista do portal UOL. É apresentadora do podcast "A vida secreta do Jair" e autora do livro "O negócio do Jair: a história proibida do clã Bolsonaro", da editora Zahar, finalista do prêmio Jabuti de 2023.
Costumava-se dizer, antigamente, que, para um fato efetivamente existir no Brasil, tinha que passar na Globo. Os tempos são outros e a Globo não é mais a mesma. Mas o fato de a emissora mais poderosa do país ignorar completamente o ato golpista de Bolsonaro na Avenida Paulista neste último domingo reforça a mensagem amarga de que o ex-mito está sendo abandonado por tudo e por todos, como acontece nos melhores crepúsculos do fascismo pelo mundo.
“Pastor” extremista serviu de ventríloquo para Jair Bolsonaro em ataques às instituições e à democracia e possivelmente entrará no inquérito do golpe
Créditos: Twitter/Reprodução
Por Henrique Rodrigues
POLÍTICA 26/2/2024 · 14:01
O “pastor” Silas Malafaia pode ter conseguido, finalmente, se ver enroscado de forma oficial no inquérito da Polícia Federal que investiga a tentativa de golpe de Estado ocorrida no país entre o fim das eleições de 2022 e o começo de 2023.
Os federais estão analisando de maneira minuciosa seu discurso incendiário proferido no domingo (25,) durante o ato dos golpistas de extrema direita apoiadores de Jair Bolsonaro, realizado na Avenida Paulista, para tipificar os crimes potencialmente cometidos pelo clérigo radical, que por várias vezes já desafiou as autoridades dizendo duvidar que alguém tenha coragem de prendê-lo. A informação é da colunista Bela Megale, do diário carioca O Globo.
De acordo com os agentes e delegados que atuam no inquérito, Malafaia estaria atuando de forma aberta em defesa de uma organização criminosa e para atrapalhar as investigações, inclusive pagando do próprio bolso manifestações como a de ontem, pelas quais os fanáticos seguidores extremistas do ex-presidente são insuflados com várias mentiras e interpretações propositalmente distorcidas dos fatos, a fim de criar animosidades e clima hostil contra a PF, o Ministério Público Federal e o Judiciário.
“Alexandre de Moraes diz que a extrema direita precisa ser combatida na América Latina. Como o ministro do STF tem lado? Ele não tem que combater nem a extrema direita nem a extrema esquerda. Ele é guardião da Constituição. O presidente do STF, ministro Barroso, disse ‘nós derrotamos o bolsonarismo’. Isso é uma afronta, uma vergonha”, disse aos berros o “pastor”, claramente inflamando a multidão com o repetitivo discurso ultrarreacionário de Bolsonaro.
Afonso Marangoni e o comentarista João Bosco Rabello recebem o jornalista e humorista Marcelo Madureira e Paulo Cappelli, colunista do Metrópoles, para comentar detalhadamente se a manifestação saiu como esperado, ou não.
O colunista do UOLReinaldo Azevedo afirmou durante o programa Olha Aqui! que o ex-presidente Jair Bolsonaro se vinculou aos atos golpistas do dia 8 de janeiro de 2023 ao pedir anistia para os presos pela invasão em Brasília
Quando Bolsonaro pede anistia, ele se vincula ao ato de 8 de janeiro. O dia 8 de janeiro não era, na verdade, uma conspiração da esquerda que o governo Lula teria sido responsável? Não foi isso que eles disseram? O responsável foi o Lula e Bolsonaro pede anistia para aqueles que cometeram os crimes que o Lula é responsável? Nada faz sentido.
Reinaldo Azevedo
Durante ato realizado na Avenida Paulista, em São Paulo, ontem (25), Bolsonaro clamou por anistia ao Congresso Nacional. "É por parte do parlamento brasileiro uma anistia para os pobres coitados que estão presos em Brasília. Nós já anistiamos no passado quem fez barbaridades no Brasil. Pedimos um projeto de anistia para que seja feita justiça no Brasil. Quem, porventura, depredou, que pague. Mas essas penas [mais de 15 anos] fogem ao mínimo da razoabilidade", disse.
Vale destacar que apesar do pedido de anistia feito por Bolsonaro, o pastor Silas Malafaia sugeriu que Lula sabia dos ataques em 8 de janeiro. Sem apresentar provas, Malafaia citou a viagem do presidente para Araraquara (SP), ocorrida naquele dia, como se fosse uma saída de cena.
Apesar do clamor feito por Bolsonaro ao Congresso, que tem como a anistia como uma de suas prerrogativas, Reinaldo explicou que o STF (Supremo Tribunal Federal) tornaria o ato sem efeito, caso acontecesse.
O Congresso não pode anistiar todo mundo. Apesar de a anistia estar entre as prerrogativas do Congresso, o Congresso não pode se comportar como corte revisora do judiciário. A anistia tem uma natureza, assim como é prerrogativa do presidente conceder graça, desde que esse presidente não esteja se comportando apenas como corte revisora do judiciário. Não existe ato nenhum, mesmo atos privativos do Congresso ou do presidente que estejam imunes a avaliação do judiciário, e essa é a natureza da Constituição. Portanto, se houver anistia, o Supremo vai simplesmente tornar a anistia sem efeito.
Reinaldo Azevedo
Conteúdo UOL
Por fim, o colunista do UOL também destacou que após os discursos durante o ato, que ligam Bolsonaro ao ato de 8 de janeiro, e onde o ex-presidente admitiu ter conhecimento de uma minuta golpista, ele deverá acabar sendo preso.
Se fosse como o Bolsonaro está querendo, o Congresso é que decidiria quem fica preso ou solto no Brasil. Simplesmente o judiciário como um poder iria desaparecer e isso é uma coisa estúpida que não vai acontecer. Não só não vai acontecer, como Bolsonaro irá para a cadeia e não será anistiado.
Reinaldo Azevedo
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O Olha Aqui! vai ao ar às segundas, quartas e quintas, às 13h.
Onde assistir: Ao vivo na home UOL, UOL no YouTube e Facebook do UOL.
Veja abaixo o programa na íntegra:
Opinião
Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
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Comece o dia bem informado sobre os fatos mais importantes do momento. Edição diária de segunda a sexta.
O mundo pode estar testemunhando o crime de genocídio, crimes de guerra e crimes contra a humanidade. O alerta foi emitido nesta segunda-feira pelo ministro de Direitos Humanos, Silvio Almeida, numa reunião na sede da ONU dedicada para tratar da crise no Oriente Médio.
Nesta segunda-feira, o ministro já havia feito um discurso no Conselho de Direitos Humanos da ONU, com um apelo para que Israel tome medidas para se evitar um genocídio.
Horas depois, porém, uma reunião com governos de todo o mundo foi estabelecida paralelamente ao Conselho da ONU. No encontro, em uma sala abarrotada de ministros, diplomatas e negociadores, o governo brasileiro foi ainda mais enfático no apoio à causa palestina. Mas sem decretar que um genocídio era uma realidade. A reportagem do UOL foi a única entre a imprensa de fora do Oriente Médio a estar presente na sala.
Governo "ajusta" declaração de Lula
Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou de forma clara em duas ocasiões que o que ocorria em Gaza era um genocídio. Na ONU, porém, o tom foi ajustado. No lugar de confirmar o crime, o governo brasileiro pediu que uma investigação seja realizada para determinar tal situação.
"Podemos estar testemunhando o crime de genocídio, crimes de guerra e crimes contra a humanidade, tendo em vista as evidências de deslocamento forçado e limpeza étnica", disse.
Para ele, uma investigação é "imprescindível".
"Esperamos, adicionalmente, que seja dado integral e imediato cumprimento às medidas cautelares adotadas pela Corte Internacional de Justiça em função de requerimento da África do Sul sobre a aplicação da Convenção para a Prevenção e Repressão do Genocídio", afirmou.
Há um mês, a Corte em Haia havia estabelecido um prazo de um mês para que Israel revelasse o que faria para evitar um genocídio.
Em sua fala, diante do chanceler palestino Riad Al Maliki, o ministro indicou que o Brasil "presta a sua mais sincera e profunda solidariedade ao povo palestino, particularmente aqueles que ainda se encontram em Gaza, aqueles que foram forçados a se deslocar e aqueles muitos que perderam seus entes queridos".
O encontro contou com discursos de apoio por parte da nobreza saudita, representantes da Indonésia e de outros países. O chanceler do Egito atacou a comunidade internacional por seu imobilismo. "Vergonhoso", disse. Já o Irã falou abertamente sobre a existência de um genocídio.
Ao tomar a palavra, o ministro brasileiro deixou claro que não apoia o Hamas. "Não restam dúvidas de que os ataques terroristas perpetrados pelo Hamas e a manutenção de civis como reféns devem ser inequivocamente condenados por toda comunidade internacional, e que os cidadãos israelenses, especialmente aqueles que tiveram seus familiares mortos ou sequestrados, também merecem toda a nossa solidariedade", disse.
Mas seu discurso durante o debate foi claro em acusar Israel por crimes.
"A cada dia que passa, no entanto, resta claro que a reação de Israel ao ataque sofrido é desproporcional e não tem como alvo somente aqueles responsáveis pelos ataques, mas todo povo palestino. Trata-se de punição coletiva", disse.
"Tal atitude é absolutamente contrária aos princípios mais básicos do Direito Internacional Humanitário. A atual situação humanitária em Gaza é intolerável, seja do ponto de vista jurídico, seja do ponto de vista ético", alertou.
Segundo ele, as ações israelenses em Gaza já mataram cerca de 30.000 civis, dentre os quais mais de 12 mil crianças, e provocou o deslocamento de mais de 1,9 milhão de pessoas, o que representa cerca de 85% da população.
Ele ainda se diz preocupado com o anúncio de autoridades israelenses de que está sendo preparada operação militar terrestre na região de Rafah, no sul de Gaza, fronteira com o Egito.
"Se concretizada, as consequências humanitárias serão ainda mais dramáticas. Além do número inaceitável de vítimas civis, arrisca-se novo deslocamento forçado de centenas de milhares de palestinos, além daquele já observado do norte para o sul da Faixa, desde 8 de outubro", disse.
Durante a reunião, Silvio Almeida fez um apelo por um "cessar-fogo imediato" e pelo fornecimento contínuo de ajuda humanitária essencial a Gaza. Ele ainda pediu que "todos os reféns restantes sejam libertados o mais rápido possível".
O governo brasileiro ainda apontou que a "expansão dos assentamentos israelenses ilegais representa contínua fonte de tensão e violência, além de inequívoca violação ao direito internacional". "Estamos preocupados com o agravamento das violações de direitos humanos na Cisjordânia, com o aumento da violência por parte das forças armadas de Israel e dos colonos israelenses", disse.
Negociação de paz
Silvio Almeida ainda apontou que o Brasil está "pronto a apoiar esforços que visem à retomada de negociações concretas de paz".
Segundo ele, há um compromisso da parte do país por uma solução de dois Estados, com um Estado da Palestina vivendo lado a lado com Israel, em paz e segurança, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas, que incluem a Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental como sua capital.
"Propostas que envolvam o deslocamento forçado de palestinos para fora da Faixa de Gaza e o restabelecimento de assentamentos israelenses naquele território são absolutamente inaceitáveis e apenas aprofundarão a tragédia em curso", defendeu.
"O Brasil, ademais, reconhece a Palestina como Estado e apoia sua aspiração legítima de tornar-se membro pleno das Nações Unidas", disse Silvio Almeida.
O governo brasileiro também atacou o "atual imobilismo da comunidade internacional, cujo retrato mais dramático são as seis resoluções do Conselho de Segurança até o momento rejeitadas, uma delas proposta pelo Brasil, demonstram a obsolescência do sistema de governança global, que precisa urgentemente ser reformado".
Num apelo final, o ministro foi enfático.
"Senhoras e senhores, olhem o que está acontecendo com os palestinos em Gaza", disse.
"Escutem as manifestações públicas dos responsáveis por essa tragédia. Que tenhamos a coragem e a dignidade de defender aqueles já não tem mais como se proteger, se abrigar, zelar por sua família, projetar um futuro. Enquanto crianças e mulheres palestinas não estiverem em segurança, nenhuma criança ou mulher, em qualquer parte do mundo, estará", completou.
Reportagem
Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
O ex-presidente Jair Bolsonaro prestará depoimento à Polícia Federal nesta terça-feira (27/2) no inquérito que apura suposta “importunação” a uma baleia jubarte enquanto andava de jet ski em São Sebastião, litoral norte de São Paulo, em junho de 2023.
Ao contrário do último depoimento que prestou à PF na quinta-feira (22/2), quando ficou em silêncio sobre a suposta articulação para um golpe de Estado após as eleições de 2022, Bolsonaro pretende prestar esclarecimentos sobre o caso das baleias.
O inquérito investiga se o ex-presidente da República se aproximou em demasia da baleia com o motor de sua moto aquática ligado. A legislação atual proíbe “molestamento intencional” dos animais, com pena de dois a cinco anos de prisão, além de multa.
Advogado e assessor de comunicação de Bolsonaro, Fabio Wajngarten também prestará depoimento à Polícia Federal no mesmo caso nesta terça. Na época do ocorrido, Wajngarten estava junto com o ex-presidente no passeio de jet ski.
Outras agendas em SP
Após o ato do domingo, Bolsonaro ficará em São Paulo até a quarta-feira (28/2). Além do depoimento à PF, ele visitará veículos de imprensa nesta segunda-feira (26/2) e fará um check up médico na quarta antes de embarcar de volta à capital federal.
'Muitas bandeiras de Israel foram vendidas', destaca o jornalista na TV 247
Jair Bolsonaro na Av. Paulista e Joaquim de Carvalho (Foto: Reprodução)
247 - Repórter especial e documentarista do 247, o jornalista Joaquim de Carvalho disse nesta segunda-feira (26) que investigadores precisam apurar se representantes do sionismo financiaram o ato a favor de Jair Bolsonaro (PL) na Avenida Paulista.
'Michelle e Bolsonaro balançaram a bandeira de Israel. Muitas bandeiras de Israel foram vendidas. É preciso ver se tem alguém patrocinando isso', afirmou Carvalho durante análise no programa Boa Noite 247.
'É explorada a ignorância das pessoas. Israel não é um país cristão, pelo contrário. Essa confusão não é de hoje, e alguém ganha com isso. As igrejas ganham, mas no ato de ontem chamou atenção. Era ostensivo demais'.
Responsável pela organização do ato pró-Bolsonaro em São Paulo, o pastor-empresário pode responder por tentar embaraçar as investigações
(Foto: Reprodução)
247 - A Polícia Federal (PF) está considerando incluir o pastor-empresário Silas Malafaia, organizador do ato pró-Bolsonaro deste domingo (25) na Avenida Paulista, no rol de investigados no âmbito do inquérito que apura uma trama golpista envolvendo Jair Bolsonaro (PL), membros de seu governo e militares.
“Na avaliação de policiais federais, o pastor pode ser investigado por tentar embaraçar o inquérito que apura uma tentativa de golpe de Estado”, diz a jornalista Bela Megale em sua coluna no jornal O Globo.
Segundo a análise dos investigadores, o pastor teria disseminado informações falsas com o intuito de influenciar parte da população contra a investigação de uma “organização criminosa” que teria planejado um golpe de Estado. Os policiais federais também afirmam que Malafaia teria estimulado os presentes no evento a se posicionarem contra membros do Poder Judiciário, utilizando premissas falsas.
Em seu discurso, o pastor acusou a Justiça Eleitoral de tratamento diferenciado entre os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Bolsonaro durante a campanha presidencial de 2022, além de questionar a imparcialidade dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, presidente da Suprema Corte.
No ato bolsonarista de domingo, o ex-ocupante do Palácio do Planalto buscou se defender das acusações de tentativa de golpe de Estado, mas acabou fornecendo mais provas à PF
247 - O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes alertou as forças democráticas que não devem baixar sua guarda para não receberem um novo golpe, e pediu o fortalecimento da democracia.
As declarações surgem na esteira do ato bolsonarista do último domingo (25), quando eles agitaram bandeiras do Brasil e de Israel no protesto convocado pelo ex-ocupante do Palácio do Planalto para se defender das acusações de tentativa de golpe de Estado que a cada dia se agravam. O evento lotou a Paulista, segundo relatos.
Moraes ainda comparou a "batalha" atual à luta recente entre o ex-BBB Kleber Bambam e o ex-lutador Popó. "Nós não podemos nos enganar. Nós não podemos baixar a guarda... Não podemos dar uma de [Kleber] Bambam contra Popó – que durou 36 segundos. Nós temos que ficar alertas e fortalecer a democracia. Fortalecer as instituições e regulamentar o que precisa ser regulamentado", disse Moraes durante a palestra de abertura do ano letivo na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da Universidade de São Paulo (USP), nesta segunda-feira (26), conforme citado pelo G1.
Popó e Bambam enfrentaram-se no ringue durante o Fight Music Show 4, realizado na Vibra São Paulo. Conforme antecipado, o ex-campeão mundial de boxe por quatro vezes superou seu adversário, o ex-participante do Big Brother Brasil, ao derrubá-lo com dois 'knockdowns'.