Lula anuncia ação contra fome na Palestina, "onde desnutrição tem sido usada como arma de guerra"

 LÍDER MUNDIAL

Lula anuncia ação contra fome na Palestina, "onde desnutrição tem sido usada como arma de guerra"





Lula anunciou ação prática após a tentativa de genocídio na Faixa de Gaza, enquanto Trump se gabava de acordo de paz em discurso no Knesset, o parlamento sionista. Aliança contra a fome terá mais 8 projetos-pilotos.

Por Plinio Teodoro
Escrito  GLOBAL 13/10/2025 · 10:12 hs

Enquanto Donald Trump se gaba de ter costurado um "acordo de paz" em discurso no Knesset, o parlamento sionista em Israel, Lula anunciou ações práticas contra os efeitos do genocídio promovido por Benjamin Netanyahu em Gaza durante participação na reunião do Conselho de Campeões da Aliança contra a Fome e a Pobreza, durante evento anual da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), em Roma, na manhã desta segunda-feira (13). 
No discurso, Lula anunciou que a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza - iniciativa criada pelo governo brasileiro - já tem 9 projetos-pilotos prontos e citou uma iniciativa em território palestino como prioridade. 
"Na Palestina, onde a desnutrição tem sido cruelmente usada como arma de guerra, vamos apoiar programas de atenção especial voltados às mulheres e crianças", anunciou o presidente brasileiro. 

Lula ainda listou os outros projetos, que contarão com apoio técnico da FAO.

"Junto com Haiti e Zâmbia, implementaremos iniciativas de transferência de renda. No Quênia, nosso foco será o acesso à água potável. A escolha da Etiópia foi guiada pela urgência de fortalecer a agricultura familiar. No Benin, apoiaremos a expansão do sistema de merenda escolar. Em Ruanda, trabalharemos pela inclusão socioeconômica. Reconhecendo tanto as vulnerabilidades quanto a força transformadora das mulheres, a Tanzânia quer dedicar atenção especial a elas e às crianças. Ainda temos estudos para projetos em Moçambique, Indonésia, Camboja, Bangladesh e República Dominicana", revelou.

Leia o discurso na íntegra

Discurso do presidente Lula durante Reunião do Conselho de Campeões da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza

É uma enorme satisfação encerrar a 2ª Reunião do Conselho de Campeões da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.

Quero cumprimentar a todos pelo trabalho durante este ano. O empenho desse Conselho nos permitiu chegar até aqui.

Vivemos em um mundo hiper conectado, com inteligência artificial, avanços científicos e até planos de habitar a lua.

Mas a persistência da fome e da pobreza são as provas mais dolorosas de que falhamos como comunidade global.

Foi com esse senso de urgência que o Brasil, ao assumir a presidência do G20, propôs a criação desta Aliança Global.

A fórmula é simples:

1) Reunir políticas públicas que deram certo

2) Articular essas políticas com recursos e conhecimento

3) Apostar em cooperação, sem condicionalidades e

4) Garantir que a adaptação e a implementação de programas seja liderada pelos países receptores.

O objetivo é dobrar esforços para o cumprimento das Metas 1 e 2 da Agenda 2030.

Em apenas um ano de funcionamento da Aliança, alcançamos 200 membros: 103 países, 53 fundações e ONGs, 30 organizações internacionais e 14 instituições financeiras.

A Espanha tem sido parceira na liderança deste Fórum.

Hoje, damos um passo decisivo: inauguramos o Mecanismo de Apoio da Aliança, com sede, secretariado e direção.

Com contribuições da Noruega, Portugal, Espanha e Brasil, asseguramos parte dos recursos necessários para o funcionamento do Mecanismo até 2030.

A FAO será nosso braço técnico.

Já temos 9 projetos-piloto prontos.

Na Palestina, onde a desnutrição tem sido cruelmente usada como arma de guerra, vamos apoiar programas de atenção especial voltados às mulheres e crianças.

Junto com Haiti e Zâmbia, implementaremos iniciativas de transferência de renda.

No Quênia, nosso foco será o acesso à água potável.

A escolha da Etiópia foi guiada pela urgência de fortalecer a agricultura familiar.

No Benin, apoiaremos a expansão do sistema de merenda escolar.

Em Ruanda, trabalharemos pela inclusão socioeconômica.

Reconhecendo tanto as vulnerabilidades quanto a força transformadora das mulheres, a Tanzânia quer dedicar atenção especial a elas e às crianças.

Ainda temos estudos para projetos em Moçambique, Indonésia, Camboja, Bangladesh e República Dominicana.

Mas sejamos claros: sem recursos financeiros não haverá transformação.

Ano passado a ajuda oficial ao desenvolvimento registrou uma queda de 23% em relação aos níveis pré-pandêmicos.

Essa retração atinge em cheio os países mais pobres e endividados, sobretudo na África, onde a insegurança alimentar cresceu de forma alarmante.

Se não agirmos com urgência, em 2030 ainda teremos quase 9% da população mundial vivendo em situação de extrema pobreza.

Por isso, faço dois apelos urgentes.

Primeiro, aos bancos multilaterais e países doadores:

É necessário rever as prioridades.

Programas de ajuste fiscal não são um fim em si mesmo que justifiquem a redução do investimento em desenvolvimento humano e social.

Não há melhor estímulo para a economia global do que o combate à fome e à pobreza.

Os recursos disponíveis devem ser mobilizados para enfrentar os desafios reais da humanidade.

Quando isso acontece, o consumo aumenta, o mercado aquece e novos ciclos de desenvolvimento florescem.

Meu segundo apelo é para aos governos nacionais.

É hora de colocar os pobres no orçamento.

A inclusão social não pode ser apenas uma promessa — ela precisa estar refletida na arquitetura fiscal, nos investimentos públicos e nos planos de transformação produtiva.

O Brasil voltou a sair do Mapa da Fome da FAO por conta de políticas integradas de transferência de renda, fortalecimento da agricultura familiar, merenda escolar, geração de empregos e aumento de salário-mínimo.

Instituímos ainda um Plano Nacional de Cuidados que deve tirar o fardo do trabalho doméstico e não remunerado das mulheres.

Neste mês, a Câmara de Deputados aprovou a isenção do imposto de renda para quem ganha até aproximadamente mil dólares mensais, e o aumento de 10% para quem ganha mais de 100 mil dólares por ano.

Essa progressividade tributária vai ampliar os recursos para o financiamento se políticas públicas essenciais. 

Meus amigos e minhas amigas,

Quero agradecer o governo do Catar, na figura do Emir Tamim ibn Hamad Al Thani, por sediar o primeiro Encontro de Líderes da Aliança, no dia 3 de novembro, à margem da Segunda Cúpula do Desenvolvimento Social da ONU.

Devido à proximidade com a Cúpula de Líderes da COP, infelizmente, eu não poderei comparecer.

Mas o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Wellington Dias [Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome] representarão o Brasil.

Mostraremos que a Aliança é uma resposta concreta e real.

Na COP30, em Belém, queremos adotar uma Declaração sobre Fome, Pobreza e Clima.

A segurança alimentar precisa estar no centro da ação climática.

As Contribuições Nacionalmente Determinadas precisam incluir proteção social, resiliência do pequeno produtor e soluções que gerem renda e preservem a biodiversidade.

Somente um novo modelo de desenvolvimento justo e sustentável poderá assegurar um futuro para as próximas gerações.

Nesse futuro,

» Nenhuma mulher ou homem terá que trabalhar sem se alimentar

» Nenhuma criança deve estudar com fome

» Nenhum agricultor deve sofrer com falta de crédito ou de assistência técnica

» Ninguém deve viver sem acesso à água

Sigamos com seriedade e coragem.

Muito obrigado. 

https://revistaforum.com.br/global/2025/10/13/lula-anuncia-ao-contra-fome-na-palestina-onde-desnutrio-tem-sido-usada-como-arma-de-guerra-189658.html

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