Desgaste com eleitor fez Câmara desistir da PEC da blindagem
28/08/2025
Por Cleber Lourenço
A Câmara dos Deputados recuou diante da pressão popular e do desgaste político em torno da chamada PEC da blindagem. A proposta, que buscava ampliar prerrogativas parlamentares e impor barreiras adicionais à atuação do Supremo Tribunal Federal (STF), foi retirada de pauta sem previsão de retorno. O adiamento representa uma derrota para líderes que tentaram acelerar a votação nesta semana.
A versão discutida incluía dispositivos como a exigência de aval de dois terços do STF para autorizar prisão preventiva ou medidas cautelares contra deputados e senadores. Também previa que inquéritos envolvendo parlamentares só poderiam ser abertos com autorização do Congresso e até mesmo sustados pela própria Casa, em alguns rascunhos com possibilidade de voto secreto. O pacote ainda restringia hipóteses de prisão em flagrante, criando uma blindagem inédita contra investigações e decisões judiciais.
A repercussão negativa foi imediata. Nas redes sociais, a hashtag “PEC da impunidade” se manteve entre os assuntos mais comentados. Parlamentares que inicialmente defendiam a proposta passaram a recuar, diante da percepção de que o tema, considerado de difícil compreensão para o eleitorado, poderia ser interpretado como uma tentativa de autoproteção.
Câmara dos Deputados
Um dos principais articuladores do debate, o líder do PL, Sóstenes Cavalcante, admitiu em entrevista que a própria base desconhecia os detalhes do texto e reconheceu o custo político da iniciativa. No dia seguinte, anunciou publicamente que o partido deixaria de defender a PEC, classificando a movimentação como “politicagem barata”.
Ao ICL Notícias Sóstenes confirmou o incômodo e disparou contra o centrão: “Eles [o centrão] agora que coloquem a cara”.
O recuo também foi influenciado pela falta de consenso interno. O relator Lafayette de Andrada trabalhava com minutas sem versão final consolidada, e líderes avaliaram que não havia votos suficientes para aprovação. O presidente da Câmara, Hugo Motta, evitou marcar nova data de análise, deixando a proposta paralisada.
Para setores da oposição e até mesmo de partidos do centrão, a manobra expôs o risco de desgaste generalizado. Em meio ao cenário de crise econômica e insatisfação social, a tentativa de avançar com a PEC foi lida como desconexão com as demandas reais da população. O adiamento, ainda que temporário, foi interpretado como recuo estratégico para evitar uma derrota explícita em plenário.
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