Quaquá está certo: os Brazão são bode expiatório de Carlos Bolsonaro, por Luís Nassif
Quaquá está certo: os Brazão são bode expiatório de Carlos Bolsonaro, por Luís Nassif
O Jornal Nacional deu a nota. De madrugada, Bolsonaro divulgou uma live com ataques à Globo e informando que, no momento indicado pelo porteiro, ele estava em Brasília. Logo, não poderia ter recebido a ligação.
Aliás, o primeiro ridículo da cobertura jornalística foi não ter levantado ligações dos Bolsonaro com Ronnie Lessa: ambas as famílias ligadas ao crime organizado, com Flávio e Carlos Bolsonaro empregando familiares de matadores e homenageando-os na Câmara Municipal e na Assembleia Legislativa; e ambas as famílias morando a poucos metros uma da outra.
Em julho passado, a Folha levantou que Bolsonaro auxiliou Ronnie Lessa em tratamento médico. Nem isso foi capaz de despertar a letargia da Polícia Federal, da Polícia Civil do Rio de Janeiro e do Ministério Público Estadual sobre o envolvimento dos Bolsonaro com o crime.
A segunda evidência – mais forte ainda – foi um vídeo gravado por Carlos Bolsonaro no mesmo dia. Ele retirou o equipamento da cabine, em um caso claro de mexer nas provas, ignorado totalmente pelos promotores estaduais que investigavam o caso. Depois, gravou um vídeo onde ele próprio mostrava o visor do equipamento.
Mostrava que, de manhã, não havia nenhuma ligação para a casa do pai. Quando começou a analisar as ligações de tarde, deu-se conta de uma ligação para sua casa. Teclou o gravador e apareceu a voz do porteiro avisando “seu Carlos”, que havia chegado “o seu Uber” Era 17 horas.
Ora, o álibi de Carlos Bolsonaro era de que passou a tarde do crime na Câmara Municipal. E, agora, ele próprio comprovava que estava no condomínio no mesmo momento em que se reuniam os assassinos. E saía de lá no mesmo momento em que os assassinos partiam para sua empreitada.
Segundo as primeiras investigações, Élcio de Queiroz chegou às 17:10 no condomínio e saiu, junto com Ronnie Lessa, pouco depois. O Uber para pegar Carlos Bolsonaro chegou às 17:58.
Não ficou nisso.
Na época, delegados críticos da operação me disseram que, internamente, trabalhava-se com a motivação política – não a disputa de terras, que acabou sendo aceita pelas investigações. Análises do Google de Ronnie Lessa comprovaram que ele procurava personalidades contrárias à operação GLO (Garantia de Lei e Ordem).
Recortes de jornais da época mostravam que os maiores críticos da GLO eram justamente Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão, supondo que fizesse parte de um acordo entre Michel Temer e General Villas Boas, visando apoiar a candidatura de Temer em 2018.
Segundo o Congresso em Foco:
“Réu por incitação ao crime de estupro e injúria, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) disse nesta sexta-feira (16) que o modelo de intervenção federal determinada por Michel Temer na segurança pública do Rio de Janeiro, formalizada em decreto no início da tarde, se presta a “servir esse bando de vagabundos” – ou seja, aos membros do governo. Pré-candidato à Presidência da República, o parlamentar reclamou do fato de que a decisão foi tomada “dentro de um gabinete” e não consultou as Forças Armadas”.
No final do ano, com Bolsonaro disparando nas pesquisas, o general Villas Boas patrocinou um acordo entre Bolsonaro e Braga Neto, que assumiu cargo relevante no governo.
Nos meses seguintes, a verdade foi aparecendo aos poucos, como o envolvimento do delegado Rivaldo Barbosa com o crime. Em depoimento à polícia, Rivaldo afirmou que recebeu ordens do general Richard Nunes para apagar as mensagens de WhatsApp que trocava com Marielle.
Mas o caso Marielle caiu nas costas dos irmãos Brazão, ligados ao pequeno crime do Rio de Janeiro.
No início de 2019, o interventor General Braga Neto, afirmou saber quem foi o mandante, mas não queria se antecipar às investigações.
– Nós fizemos todo um trabalho. Não procuramos um protagonismo. Eu poderia ter anunciado quem a gente acha que foi, ou dito ao (general) Richard (Nunes, secretário de Segurança Pública durante a intervenção, para que o fizesse), mas quisemos fazer um trabalho realmente profissional – afirmou o ex-interventor nesta sexta-feira, no evento de transmissão de cargo do comando do Exército, em Brasília.
No início do inquérito, foi apontado o ex-capitão Adriano da Nóbrega – estreitamente ligado aos Bolsonaro – como responsável pela contratação de Ronnie Lessa. Adriano foi executado na Bahia, não se soube de seu celular e abandonou-se completamente as investigações sobre a conexão entre ele e Ronnie Lessa.
Agora, com Braga Neto preso, Rivaldo Barbosa afastado e com a próxima prisão de Bolsonaro, espera-se que o caso, finalmente, possa ser esclarecido, e Marielle possa descansar em paz.
Comentário ao post: “Quaquá está certo: os Brazão são bode expiatório de Carlos Bolsonaro, por Luís Nassif“
Vivendas da Barra é a grande ponta solta no caso Marielle, por jsfilho
Desde o início das investigações dois movimentos ficaram nítidos. O primeiro foi a ocultação de provas, incluindo aí a queima de arquivos (os vivos, principalmente). O segundo movimento foi o de achar um bode expiatório para levar a culpa. A série da Globoplay, baseada exclusivamente nos documentos da investigação, deixa esses fatos bem evidentes.
Foi um crime muito bem planejado, sofisticado, com apoio de agentes públicos. O que os mandantes do crime não contavam foi a imensa comoção nacional e internacional que se deu em torno do caso.
A prisão dos executores só foi possível graças a isso.
Os executores negaram o crime até o momento da derrota eleitoral do Bolsonaro, de quem certamente esperavam um indulto. Talvez até soubessem que havia um golpe sendo articulado. Fechada essa porta de saída, resolveram colaborar fazendo a delação que incrimina o Brazão.
Brazão nunca foi santo. Miliciano de conhecida atuação em Jacarepaguá. Acusá-lo de ser o mandante seria algo bem factível.
Os executores sabem que terão uma longa temporada na cadeia. Podem apodrecer lá dentro. Quiça “eliminados”. Porém, com uma condenação de um mandante, podem sonhar com o indulto se o neofascimo retornar ao poder (o retorno de Trump lhes dá esperanças).
Pode ser que o Brazão seja realmente o culpado. Seria capaz disso, sem dúvida. Mas a grande ponta solta estão nos acontecimentos do dia do crime no Vivendas da Barra. As relações promíscuas da família Bolsonaro com o crime organizado das milícias são mais do que conhecidas.
O capitão Adriano foi executado. O porteiro sumiu. Salvo apareça algum fato novo daquele fatídico dia, o Brazão vai pagar o pato. Exceto se ele ou ex-delegado Rivaldo abrirem a boca (que poderá amanhecer cheia de formiga). Ou ainda uma confissão daquele general de quatro estrelas, que de tudo sabe, neste momento numa prisão VIP.
O fato do prefeito de Maricá levantar a defesa de um miliciano não deveria causar estranheza, pelo histórico do político. Tem um cálculo político aí (como teve o apoio à Daniela do Waguinho. Que me perdoem as freiras de bordel). Teorias da conspiração à parte, pode haver um grande acordo político nas sombras desse caso. O tempo dirá. Ou não.
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