Plano de golpe de Estado detalha formação do Gabinete de Crise, que seria chefiado por Heleno
Plano de golpe de Estado detalha formação do Gabinete de Crise, que seria chefiado por Heleno - ICL Notícias
Por Heloisa Villela
As investigações da Polícia Federal encontraram, nos arquivos do general Mario Fernandes, o desenho do que seriam os dias seguintes à ruptura democrática. O documento chamado HD_2022 detalha o que seria e como funcionaria o chamado Gabinete de Gestão de Crise. O plano era criar uma crise, com o assassinato do ministro Alexandre de Moraes, do presidente Lula e do vice Geraldo Alckmin, e passar o controle do governo a esse gabinete criado pelo Gabinete de Segurança Institucional, presidido, na época, pelo general Augusto Heleno.
Detalhado, o documento define os objetivos e a estrutura da organização que seria, de fato, uma junta militar. Ela entraria em ação no dia 16 de dezembro de 2022. Um dia depois da operação, abortada, que tinha como objetivo assassinar Alexandre de Moraes. A junta se instalaria no segundo andar do Palácio do Planalto. O general Heleno seria o chefe de gabinete, o general Braga Netto o coordenador-geral e a assessoria estratégia seria integrada pelo general Mario Fernandes e pelo coronel Elcio Franco.
A grande maioria do gabinete seria composta por militares que dariam assessoria a Jair Bolsonaro, o candidato derrotado à reeleição que, dessa forma, permaneceria no cargo. O auto-proclamado gabinete de crise teria como finalidade principal assessorar Bolsonaro. Mas ia além. Também se atribuiu a função de influenciar a opinião pública, o Congresso Nacional e a comunidade internacional para evitar que se voltassem contra o golpe. Para tanto, entre outras medidas, escreveram que seria preciso estabelecer um discurso único, em todos os níveis, e escolher um porta-voz conhecido no Brasil e no mundo.
A longa lista de atribuições do gabinete do golpe também incluía supervisionar as ações e decisões do Congresso Nacional e buscar apoio parlamentar, o que demonstra a certeza que de não seriam totalmente rechaçados na Câmara e no Senado. Escolhido para suceder Arthur Lira na presidência da Câmara, o deputado Hugo Motta do Republicanos da Paraíba, ainda hoje não tem posição clara a respeito do projeto de anistia para os que planejaram e tentaram executar o golpe de estado, por exemplo.
Entre as atribuições do chamado gabinete, uma das que mais chama a atenção, especialmente para quem conheceu os anos mais duros da ditadura militar instalada no Brasil em 1964, diz que o gabinete do golpe, em coordenação com o GSI e os Centros de Inteligência das Forças Armadas, criaria uma rede nos estados e municípios “para atuar como gestor das informações, sensor e catalisador de conhecimentos de inteligência oriundos da coleta de informações das instituições e da população civil”.
Entre os agentes encarregados a assessoria de comunicação social do golpe são citados os coronéis André e Vilela, dois oficiais da Polícia Militar do Distrito Federal, instituição que teve vários representantes da cúpula presos logo após o 8 de janeiro, por omissão diante da tentativa de golpe e de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Filipe Martins, também investigado pela Polícia Federal, seria designado Assessor de Relações Internacionais da junta.
Vários militares citados para ocupar cargos diferentes no tal gabinete ainda não foram mencionados no inquérito. Não fica claro como se deu a escolha dos nomes. E se estavam cientes de que fariam parte da organização pós golpe.
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