Espionagem aproximou israelenses ao governo Bolsonaro


Jamil Chade Colunista do UOL

25/01/2024 17h00

Atualizada em

25/01/2024 18h10



A busca por ferramentas capazes de espionar opositores levou aliados de Jair Bolsonaro e seus filhos a promover uma aproximação a empresas israelenses e membros do governo de Benjamin Netanyahu, desde os primeiros dias do governo Bolsonaro.

O israelense esteve na posse de Bolsonaro, enquanto delegações realizaram visitas frequentes, entre 2019 e 2022. Algumas das viagens foram permeadas por polêmicas, como a ida do então chanceler Ernesto Araújo para Israel, supostamente para negociar a compra de um "spray nasal" que seria usado contra a covid-19. 

O projeto jamais se concretizou . 

Mas um setor sempre esteve nas pautas entre os dois governos: a espionagem. 

Uma das tentativas de negociação ocorreu em novembro de 2021, quando delegações de ambos os países compareceram numa das maiores feiras aeroespaciais do mundo, conhecida como "Dubai AirShow". 

Um integrante do chamado "gabinete do ódio" entrou no estande de Israel com o interesse de municiar o grupo paralelo no Palácio do Planalto com uma poderosa ferramenta espiã, para ser usada, em especial, na eleição de 2022.

Pouco antes do encontro em uma sala privativa no espaço cedido por Israel, o então presidente Jair Bolsonaro cumpria uma das agendas de sua viagem aos Emirados Árabes em novembro de 2021: a inauguração, no mesmo evento, do "pavilhão Brasil".

No estande de Israel, porém, o membro do órgão informal, perito em inteligência e contrainteligência, conversou com um representante da empresa Dark Matter.

A companhia com sede em Abu Dhabi, composta, em sua maioria, por programadores israelenses egressos da Unidade 8200 (força de hackers de elite vinculada ao exército de Israel), desenvolveu sistemas capazes de invadir computadores e aparelhos celulares de alvos, inclusive estando eles desligados. As informações deste encontro foram reveladas pelo UOL em 2022, pelos jornalistas Lucas Valença e Jamil Chade.

Em outra frente, o "gabinete do ódio" manteve conversas com a empresa Polus Tech, com o objetivo também de obter artefatos. 
produzidos pela companhia. Com sede na Suíça, a Polus Tech tinha como CEO o programador israelense Niv Karmi, um dos ex-fundadores da NSO Group, empresa dona da poderosa ferramenta espiã Pegasus, sendo o "N" da sigla.

Em maio de 2021, o UOL já havia revelado que o vereador carioca Carlos Bolsonaro interveio em uma licitação (a de nº 03/21), promovido pelo Ministério da Justiça, para que o órgão contratasse o avançado programa de espionagem Pegasus.
Jamil Chade

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