Vídeo de bolsonarista arrependido desmoraliza Guedes de modo irrespondível

Reinaldo Azevedo
Colunista do UOL
Pastor Jackson Villar, um ex-bolsonarista radical e organizador de motociatas, vai ao supermercado e desmoraliza Paulo Guedes e Jair Bolsonaro
Pastor Jackson Villar, um ex-bolsonarista radical e organizador de motociatas, vai ao supermercado e desmoraliza Paulo Guedes e Jair Bolsonaro Imagem: Reprodução

Continua a provocar estrago, não há como, um vídeo publicado por um ex-bolsonarista — acho que se pode falar assim. O pastor Jackson Villar foi o organizador de duas motociatas em favor de Jair Bolsonaro, dentro de um movimento chamado "Acelera para Cristo". Era um radical, extremista a valer. Chegou a falar em quebrar as urnas e em "dar um tiro na cabeça de Xandão". Tinha páginas pavorosas no Telegram. Tentou ser deputado federal pelo Republicanos. Não conseguiu se eleger. Em seu histórico, ameaça de agressão a jornalistas. Moderação não era o seu forte.

Pois bem. Ele gravou um vídeo que viralizou e provocou a fúria de antigos aliados. Num supermercado, exibe um litro de óleo que custa, diz, "cinco paus". Custava "15 paus" no governo Bolsonaro. Aí evoca o ex-ministro da Economia: "Viu, Paulo Guedes? Pilantra! Por que não conseguia baixar essa porra?" E ainda: "Esse Paulo Guedes deveria ser preso. Tinha de pagar pelo que ele fez com o país. Ele ferrou o país". Aí exalta o preço baixo da carne hoje. Diz sentir-se um trouxa por ter apoiado o "Mito"...

Guedes merece mesmo ser preso? Não. Mas não merece perdão intelectual e político e já digo por quê. Aliás, ele é quem mais sai chamuscado do vídeo viral de Villar. Quem tem de ir em cana, é inescapável, é o chefe daquela zorra que nos atormentou por quatro anos.

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Vídeo de bolsonarista arrependido desmoraliza Guedes de modo irrespondível

Reinaldo Azevedo
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Pastor Jackson Villar, um ex-bolsonarista radical e organizador de motociatas, vai ao supermercado e desmoraliza Paulo Guedes e Jair Bolsonaro
Pastor Jackson Villar, um ex-bolsonarista radical e organizador de motociatas, vai ao supermercado e desmoraliza Paulo Guedes e Jair Bolsonaro Imagem: Reprodução

Continua a provocar estrago, não há como, um vídeo publicado por um ex-bolsonarista — acho que se pode falar assim. O pastor Jackson Villar foi o organizador de duas motociatas em favor de Jair Bolsonaro, dentro de um movimento chamado "Acelera para Cristo". Era um radical, extremista a valer. Chegou a falar em quebrar as urnas e em "dar um tiro na cabeça de Xandão". Tinha páginas pavorosas no Telegram. Tentou ser deputado federal pelo Republicanos. Não conseguiu se eleger. Em seu histórico, ameaça de agressão a jornalistas. Moderação não era o seu forte.

Pois bem. Ele gravou um vídeo que viralizou e provocou a fúria de antigos aliados. Num supermercado, exibe um litro de óleo que custa, diz, "cinco paus". Custava "15 paus" no governo Bolsonaro. Aí evoca o ex-ministro da Economia: "Viu, Paulo Guedes? Pilantra! Por que não conseguia baixar essa porra?" E ainda: "Esse Paulo Guedes deveria ser preso. Tinha de pagar pelo que ele fez com o país. Ele ferrou o país". Aí exalta o preço baixo da carne hoje. Diz sentir-se um trouxa por ter apoiado o "Mito"...

Guedes merece mesmo ser preso? Não. Mas não merece perdão intelectual e político e já digo por quê. Aliás, ele é quem mais sai chamuscado do vídeo viral de Villar. Quem tem de ir em cana, é inescapável, é o chefe daquela zorra que nos atormentou por quatro anos.

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Os bolsonaristas radicais querem o fígado de Villar, um extremista como eles próprios até outro dia. Ele também se negou a reconhecer o resultado das eleições. Está sob investigação, e não descarto que tente uma estratégia de redução de danos, na linha "minha culpa, minha máxima culpa, mas fui enganado". Não tenho como adivinhar essas coisas.

Que os primeiros desdobramentos na economia, nestes quase sete meses de governo Lula, desautorizam o catastrofismo, bem, como negar? O homem traduz isso para não especialistas que atuavam no antilulismo e antipetismo radicais, daí a preocupação na extrema-direita com o seu vídeo.

Atenção! Nem vou aqui mangar do barata-voa nas hostes do terra-planismo político. Chamo a atenção para um vídeozinho que ele inseriu em sua diatribe contra antigos aliados. Trata-se de um trecho da prosa frouxa do então ministro da Economia, Paulo Guedes, falando num podcast no dia 2 de março de 2021. Afirmava ali que, se o PT fosse eleito, ainda que não se tenha citado o partido, que o Brasil viraria uma Argentina em seis meses e uma Venezuela em um ano e meio. Depois, com cara de pau peculiar, afirmou ter exagerado: seria a argentinização em três anos e a venezuelização em cinco ou seis.

Estamos no sétimo mês do governo petista. A Câmara já aprovou a reforma tributária. Assim que voltar do recesso, conclui a votação do novo arcabouço fiscal A S&P, mais respeitada agência de classificação de risco, pôs o Brasil em perspectiva positiva. Numa reunião entre países da América Latina e Caribe, União Europeia e representantes do governo e da oposição venezuelanas, chegou-se a um documento que pede, a um só tempo, eleições livres naquele país, com observadores internacionais, e também o fim das sanções. Lula foi um dos organizadores do texto.

O maior mérito do vídeo do bolsonarista arrependido é, constate-se, a desmoralização de Guedes. Não fazia análise, mas terrorismo político. Não combatia ideias, mas promovia demonização ideológica. Em vez do caos, a frente liderada pelo PT está oferecendo a chance de o país organizar o seu presente e o seu futuro.

O deputado Baleia Rossi (MDB-SP), autor original do texto da reforma tributária, afirmou ter tido a chance de debater com Guedes o assunto. Não deu bola, revelou o parlamentar. Queria uma nova CPMF para aumentar a arrecadação. E pronto! Aquilo que se vendia aos mercados — "enfim, o liberalismo no comando!" — era só conversa mole.

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"Ah, mas houve a pandemia!" Verdade! Familiares e amigos dos mais de 700 mil mortos certamente se lembram disso. Guedes e Bolsonaro tiveram todas as facilidades, concebidas pelo Congresso em articulação com o Supremo, para levar adiante um programa de contenção de desastres sociais. Funcionou em parte. Ao mesmo tempo, concorreram para desestruturar políticas públicas de atendimento aos mais vulneráveis.

Viu-se um governo incapaz de responder minimamente à disparada do preço de alimentos. "Não dependia do Brasil..." As causas, com efeito, não. A resposta do governo, que não houve, sim. Bolsonaro se limitou a dizer, como lembra o vídeo de Villar, que carne era artigo de luxo no mundo todo. Só faltou normalizar o assalto a caminhões de ossos...

O tal governo "de um grosseirão sincero, mas com um ministro da economia capaz" era mera fantasia dos tais "mercáduz", também eles contaminados pela burrice e pela truculência. Digam uma só medida estruturante, de longo prazo, que tenha saído da mente divinal de Guedes, o Leporello atrevido, e de seu Don Giovanni tosco. Reforma da Previdência? Não foram eles.

Argentinização? Venezuelização? O capitalismo brasileiro, para desespero do reacionarismo burro, tem encontrado uma saída, quem diria?, pelas mãos "com nove dedos", como a canalha gosta de destacar, de Lula. Nada restou à extrema-direita, exceto os temas que são literalmente do outro mundo. Ou, então, a satanização de movimentos sociais.

Essa gente tem futuro político? Espero que não. Com ela, só o abismo nos contempla. E que se lembre: não foi apenas Guedes a usar o fantasma da Argentina e da Venezuela. Até alguns "editorialões" o fizeram. Que um dia tenham a coragem do "mea culpa". Villar já fez o seu.

Abaixo, o vídeo de Guedes. A quantidade de bobagens arrogantes que se diz é um assombro. Como produzir um resultado diferente? Estamos saindo do buraco.

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Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Os bolsonaristas radicais querem o fígado de Villar, um extremista como eles próprios até outro dia. Ele também se negou a reconhecer o resultado das eleições. Está sob investigação, e não descarto que tente uma estratégia de redução de danos, na linha "minha culpa, minha máxima culpa, mas fui enganado". Não tenho como adivinhar essas coisas.

Que os primeiros desdobramentos na economia, nestes quase sete meses de governo Lula, desautorizam o catastrofismo, bem, como negar? O homem traduz isso para não especialistas que atuavam no antilulismo e antipetismo radicais, daí a preocupação na extrema-direita com o seu vídeo.

Atenção! Nem vou aqui mangar do barata-voa nas hostes do terra-planismo político. Chamo a atenção para um vídeozinho que ele inseriu em sua diatribe contra antigos aliados. Trata-se de um trecho da prosa frouxa do então ministro da Economia, Paulo Guedes, falando num podcast no dia 2 de março de 2021. Afirmava ali que, se o PT fosse eleito, ainda que não se tenha citado o partido, que o Brasil viraria uma Argentina em seis meses e uma Venezuela em um ano e meio. Depois, com cara de pau peculiar, afirmou ter exagerado: seria a argentinização em três anos e a venezuelização em cinco ou seis.

Estamos no sétimo mês do governo petista. A Câmara já aprovou a reforma tributária. Assim que voltar do recesso, conclui a votação do novo arcabouço fiscal A S&P, mais respeitada agência de classificação de risco, pôs o Brasil em perspectiva positiva. Numa reunião entre países da América Latina e Caribe, União Europeia e representantes do governo e da oposição venezuelanas, chegou-se a um documento que pede, a um só tempo, eleições livres naquele país, com observadores internacionais, e também o fim das sanções. Lula foi um dos organizadores do texto.

O maior mérito do vídeo do bolsonarista arrependido é, constate-se, a desmoralização de Guedes. Não fazia análise, mas terrorismo político. Não combatia ideias, mas promovia demonização ideológica. Em vez do caos, a frente liderada pelo PT está oferecendo a chance de o país organizar o seu presente e o seu futuro.

O deputado Baleia Rossi (MDB-SP), autor original do texto da reforma tributária, afirmou ter tido a chance de debater com Guedes o assunto. Não deu bola, revelou o parlamentar. Queria uma nova CPMF para aumentar a arrecadação. E pronto! Aquilo que se vendia aos mercados — "enfim, o liberalismo no comando!" — era só conversa mole.

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"Ah, mas houve a pandemia!" Verdade! Familiares e amigos dos mais de 700 mil mortos certamente se lembram disso. Guedes e Bolsonaro tiveram todas as facilidades, concebidas pelo Congresso em articulação com o Supremo, para levar adiante um programa de contenção de desastres sociais. Funcionou em parte. Ao mesmo tempo, concorreram para desestruturar políticas públicas de atendimento aos mais vulneráveis.

Viu-se um governo incapaz de responder minimamente à disparada do preço de alimentos. "Não dependia do Brasil..." As causas, com efeito, não. A resposta do governo, que não houve, sim. Bolsonaro se limitou a dizer, como lembra o vídeo de Villar, que carne era artigo de luxo no mundo todo. Só faltou normalizar o assalto a caminhões de ossos...

O tal governo "de um grosseirão sincero, mas com um ministro da economia capaz" era mera fantasia dos tais "mercáduz", também eles contaminados pela burrice e pela truculência. Digam uma só medida estruturante, de longo prazo, que tenha saído da mente divinal de Guedes, o Leporello atrevido, e de seu Don Giovanni tosco. Reforma da Previdência? Não foram eles.

Argentinização? Venezuelização? O capitalismo brasileiro, para desespero do reacionarismo burro, tem encontrado uma saída, quem diria?, pelas mãos "com nove dedos", como a canalha gosta de destacar, de Lula. Nada restou à extrema-direita, exceto os temas que são literalmente do outro mundo. Ou, então, a satanização de movimentos sociais.

Essa gente tem futuro político? Espero que não. Com ela, só o abismo nos contempla. E que se lembre: não foi apenas Guedes a usar o fantasma da Argentina e da Venezuela. Até alguns "editorialões" o fizeram. Que um dia tenham a coragem do "mea culpa". Villar já fez o seu.

Abaixo, o vídeo de Guedes. A quantidade de bobagens arrogantes que se diz é um assombro. Como produzir um resultado diferente? Estamos saindo do buraco.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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