Hacker fala de deboche em "prisão" de Moraes e complica para Carla Zambelli

 

Faz o L

À PF, Walter Delgatti afirmou que documento fake contra ministro do STF foi escrito por deputada bolsonarista Carla Zambelli, que ainda pediu para inserir zombaria.

Walter Delgatti com Carla Zambelli. Créditos: Reprodução/Twitter
Plinio Teodoro
Por Plinio Teodoro
POLÍTICA13/7/2023 · 11:37 hs

À medida que informações sobre a delação de Walter Delgatti, o hacker de Araquarara, são divulgadas, a situação da deputada Carla Zambelli (PL-SP), uma das mais radicais aliadas de Jair Bolsonaro (PL) se complica.

Fontes da Polícia Federal revelaram a Octavio Guedes e Andréia Sadi, da TV Globo, que Delgatti responsabilizou a deputada pelo deboche a Alexandre de Moraes em uma ação hacker encomendada a ele: um falso mandado de prisão contra o próprio ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), que também preside o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Delgatti diz ter recebido o texto do suposto mandado, que foi inserido por ele no Banco Nacional de Monitoramento de Prisões do Conselho Nacional de Justiça.

O documento fake, com o texto enviado por Zambelli, determinava a prisão de Moraes e era assinado pelo próprio ministro.

Ao final, antes da assinatura em vez do tradicional “publique-se e intime-se” está escrito “publique-se, intime-se e faz o L. Assinado: Alexandre de Moraes".

Segundo Delgatti, o "faz o L" foi uma ideia de Zambelli. Ele só teria recebido o texto e feito algumas correções gramaticais.

À PF, Delgatti afirmou que a falsa ordem de prisão para Alexandre de Moraes era uma ideia para compensar Carla Zambelli, que queria alguma coisa para atacar o ministro e revelar suposta fragilidade da Justiça brasileira.

Em troca da liberdade

Para obter a sua soltura, Walter Delgatti, que estava preso por violar determinações judiciais, disse em depoimento à PF que a deputada federal Carla Zambelli lhe pediu para invadir as urnas eletrônicas e que, caso não conseguisse, que tentasse invadir o e-mail e o telefone de Alexandre de Moraes.

No depoimento à PF, Walter Delgatti também teria revelado que o pedido de Carla Zambelli foi feito em setembro de 2022 durante um encontro dos dois na Rodovia dos Bandeirantes, em São Paulo. Na época, já estava em curso a disputa e a campanha eleitoral.

Walter Delgatti admitiu à PF que não conseguiu invadir o sistema da urna eletrônica nem o celular do ministro Alexandre de Moraes.

Bolsonaristas estão em pânico 

A soltura deixou setores do bolsonarismo apavorados devido a possíveis delações que o especialista em computação possa vir a fazer. Entre os prováveis alvos está a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), de quem Delgatti cuidou das redes sociais e de campanhas de financiamento por pix durante as últimas eleições. O principal temor é de que ele faça uma delação a respeito do envolvimento de Zambelli no episódio em que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) teve seu sistema digital invadido por hackers.

O que mais assusta Zambelli e o setor do bolsonarismo próximo dela é justamente o desconhecimento a respeito do que Delgatti possa vir a falar. A própria deputada declarou à imprensa que não sabe o teor de uma possível delação do hacker sobre o episódio.

Na referida invasão, em 19 de janeiro deste ano, foram alterados dados do Banco Nacional de Mandados de Prisão do CNJ, inserindo um falso mandado contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “Xandão”, como foi alcunhado pelos bolsonaristas, é um dos principais alvos da extrema-direita no Poder Judiciário.

Com a soltura, Delgatti terá de usar tornozeleira eletrônica e apresentar relatórios mensais completos, por e-mail, ao delegado responsável pelo caso, sobre suas atividades na internet. Além disso, também terá de atualizar seu endereço residencial para a Justiça e terá de avisar a polícia caso precise sair do estado de São Paulo por mais de 48 horas. Uma eventual delação ainda não foi confirmada, mas possibilidade existe.

De algoz da Lava Jato aos braços de Zambelli e Bolsonaro

Em um primeiro momento, ainda antes de ter sua identidade revelada, mostrou ao Brasil as relações completamente irregulares entre o então juiz Sergio Moro, o então procurador – hoje ex-deputado cassado – Deltan Dallagnol, e outros membros da operação Lava Jato. As revelações primeiro tiveram o The Intercept na dianteira que, em seguida, incluiu um conjunto de meios de comunicação numa força-tarefa para analisar e publicar os conteúdos. À sério foi dado o nome Vaza Jato.

O resultado disso, ao longo do tempo, foi o fato de Moro ter sido declarado suspeito e seus processos da Lava Jato anulados, o que permitiu ao presidente Lula (PT) concorrer nas últimas eleições. Até aí, Delgatti era uma figura querida, e quase que folclórica, para o campo democrático.

Foi justamente quando começava oficialmente a campanha eleitoral do ano passado, mais precisamente em agosto de 2022, que Delgatti se aproximou do campo bolsonarista. A campanha de Bolsonaro, guiada pelas paranoias conspiratórias do então presidente, procurou Delgatti para saber o que pensava sobre a segurança das urnas eletrônicas. Entre as pessoas com quem Delgatti esteve está Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL. Ele dizia que tinha condições de hackear o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes. A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), aliada de Bolsonaro, também confirmou ter se encontrado com o hacker.

Fizemos um levantamento a partir dos arquivos recentes da Revista Fórum a fim de recordar os episódios que explicam essa relação entre Zambelli, Bolsonaro e o ‘hacker de Araraquara’. 

https://revistaforum.com.br/politica/2023/7/13/faz-l-hacker-fala-de-deboche-em-priso-de-moraes-complica-para-carla-zambelli-139408.html

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