Vitimismo ignora que Marcos Do Val disse à PF que tratou de golpe de Estado

 Colunista do UOL 15/06/2023 19h23.

Leonardo Sakamoto 

Reprodução/Facebook
Imagem: Reprodução/Facebook


Desde que a Polícia Federal bateu à porta dos endereços e do gabinete de Marcos "Swat" Do Val para uma busca e apreensão, nesta quinta (15), bolsonaristas estão em polvorosa nas redes tentando vender a tese de que isso é vingança pelo senador tentar convocar o ministro Alexandre de Moraes para depor na CPMI dos Atos Golpistas.

É bobagem? Claro que é. E nem é bobagem inédita. Aliados de Jair Bolsonaro têm investido na tática de culpar o governo Lula pela agressão que ele próprio sofreu no dia 8 de janeiro, afirmando que a segurança da sede do Palácio do Planalto foi enfraquecida de propósito para o petista se fazer de vítima. Acreditam que isso cola porque, convenhamos, há sempre um chinelo velho para um pé cansado.


Do Val sustenta a mesma coisa, dizendo que o STF foi alertado sobre a invasão, dando a entender que Moraes não fez nada para impedir.

Como já disse aqui é o equivalente a afirmar que o dono de uma casa é que deve ser punido pelo roubo que sofreu ao não ter colocado lanças no portão ou cacos de vidro no muro. Enquanto isso, o bandido vestido com uma camiseta amarela "Eu Autorizo, Bolsonaro" ganha uma passada de pano.

O processo de vitimização do senador não resiste a quem sabe consultar o Google. No depoimento que deu à Polícia Federal, no dia 2 de fevereiro, confirmou que Jair Bolsonaro havia lhe pedido uma resposta sobre o que achava de uma conspiração golpista. O plano bisonho havia sido apresentado a ele em reunião secreta no Palácio do Alvorada no dia 9 de dezembro do ano passado.

"O único momento em que o ex-presidente se manifestou foi quando o depoente disse que precisaria de alguns dias para dar a resposta, quando o ex-presidente respondeu que o aguardaria", afirma a PF.

Do Val afirmou em seu depoimento que Bolsonaro permaneceu em silêncio durante toda a explanação da conspiração pelo então deputado federal Daniel "Surra de Gato Morto" Silveira, não demonstrando contrariedade ou negando o plano. Ou seja, pelo relato, Bolsonaro sabia exatamente o que havia sido proposto. O silêncio, mais do que prevaricação, demonstra cumplicidade.

O objetivo, segundo o exposto por Marcos do Val, era "invalidar as eleições, manter o ex-presidente no poder e prender Alexandre de Moraes", grampeando-o e tentando fazer com que ele dissesse algo que poderia ser usado contra ele. Tipo uma pegadinha do Ivo Holanda. O senador alertou o ministro sobre isso na época, mas se negou a repetir a história em um depoimento formal.

Depois da PF, Marcos do Val mudou a versão, chegando a dizer que criou essas histórias para dificultar investigações de Moraes contra Bolsonaro. Se ele está acostumado a mentir durante os cursos que deu para a Swat, é problema dele e dos Estados Unidos. O fato é que se inventou tudo, terá mentido em depoimento à Polícia Federal.

Como o senador entrou na mira por ter afirmado que tratou de golpe com um deputado federal e o presidente da República, a Polícia Federal e Alexandre de Moraes chegam um pouco mais perto de Jair Bolsonaro com a ação de hoje.

E o círculo vai se fechando.

Chega a ser irônico que o autointitulado treinador da Swat não imaginasse que, depois de tudo o que fez e disse, não seria alvo de uma operação da Polícia Federal. Por isso, deveria ser grato a Moraes. A PF queria prendê-lo, o ministro é quem disse não.

Em tempo: Com isso, a CPMI dos Atos Golpistas tem mais um investigado pelos atos golpistas entre os seus membros. E, por ser investigado, a parte do inquérito que envolve Do Val não deve ser compartilhada com a comissão.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

https://noticias.uol.com.br/colunas/leonardo-sakamoto/2023/06/15/operacao-da-pf-contra-marcos-do-val-e-mais-um-passo-em-direcao-a-bolsonaro.htm

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