Decisão da S&P sobre Brasil desmoraliza as Hardys, nossas hienas enfezadas

 


Reinaldo Azevedo - 

Colunista do UOL

15/06/2023 05h04

Vocês se lembram de Hardy, a hiena triste, que fazia um par improvável, na selva real, com o leão Lippy? Ela nunca ria, coitadinha!, como não riem aquelas que disputam carniça e presas na savana. Era particularmente deprimida e vivia a reclamar: "Ó céus, ó vida!"..

De tanto ouvir maus conselheiros e palpiteiros do mercado financeiro, parte considerável do jornalismo econômico foi tomado pela "Síndrome de Hardy", sempre a antever um horizonte sombrio. Com uma diferença: a hiena catastrofista do estúdio Hanna-Barbera padecia, assim, de algum fatalismo existencial. As nossas não. Seu pessimismo é enfezado, feito da mistura de bola de cristal disfuncional, convicções liberais da Escolinha do Professor Mercado (Nível Massinha I)  primitivismo ideológico.


Erraram feio.

Ah, não! Não estou aqui a dizer que tudo já está no seu lugar e que só o triunfo nos espera. Mas vamos ver.

O Brasil não deveria estar agora na lona, com a Bolsa mergulhada no abismo, o dólar na estratosfera, e a inflação cutucando a curva da Lua? Lembram-se da conversa dos tais "Mercáduz"? Tudo iria à breca, e nosso destino maldito teria sido traçado já na PEC da Transição, quando Lula, apenas presidente eleito, teria feito a opção por arrombar o cofre. Afinal, sabem como é, esses petistas são mesmo terríveis...

Aí veio o arcabouço fiscal. E não havia, como naquele poema, "amor de ninfa o bastante para o tamanho do gigante". Jamais haveria carniça e presas o bastante para a fome das hienas. Ainda que, em essência, o pilar do modelo imponha que o percentual das despesas cresça sempre menos do que o da receita — com uma série de travas para impedir que o modelo desande —, falta ao texto aquela paixão sanguinolenta pelo corte de gastos que sempre faz a tristeza dos pobres e a alegria dos nababos. Não é que essa gente seja má; é que suas preocupações não costumam contemplar, vocês sabem, aquela outra gente. Tendem a confundir três refeições por dia com populismo. Nada de dar o peixe. É preciso ensinar a pescar no mar de iniquidades. Como disse aquele bilionário daquela rede do rombo de R$ 50 bilhões, chega de coitadinhos e de impunidade, né???

A economia vai crescer acima do que "se" previu, já sabemos. O Ibovespa subiu 1,99% nesta quarta, aos 119.060 pontos, maior patamar desde 21 de outubro do ano passado. O dólar recuou 1,15%, cotado a R$ 4,8063, menor valor desde 6 de junho de 2022. Como também a China vai crescer mais do que "se" esperava, e a recessão americana deve demorar mais do que "se" antevia, as commodities brasileiras caminham para fazer um novo recorde do superávit comercial neste ano: algo em torno de US$ 70 bilhões. O único vexame em curso, na economia, como se sabe, vem dos bacanas das Americanas, não é? Oh, a mão invisível do mercado não conseguiu conter a mão ligeira dos pilantras!

As nossas "Hardys" enfezadinhas já estavam, suponho, em busca de uma explicação para justificar seus desatinos. Mas aí veio uma espécie de golpe também na vaidade intelectual -- elas acreditam ter uma... A agência de classificação de risco S&P Global Ratings elevou a perspectiva de longo prazo da economia brasileira de "estável" -- qualidade em que estava desde abril de 2020 -- para "positiva". E explicou por que o fez:
"O crescimento contínuo do PIB somado ao quadro emergente para a política fiscal pode resultar em uma carga de dívida pública menor do que o esperado, o que pode apoiar a flexibilidade monetária e sustentar a posição externa líquida do país".

Eita! Até a S&P acha que uma queda da taxa de juros é compatível com os números do país. Informou a Folha:
"Os mercados de juros futuros tiveram queda significativa e também deram fôlego para a Bolsa nesta quarta. Os contratos com vencimento em janeiro de 2024 foram de 13,06% para 13,01%, enquanto os para 2025 caíram de 11,17% para 11,07%. No longo prazo, a queda foi ainda maior: os juros para 2026 saíram de 10,58% para 10,46%, e os para 2027 foram de 10,66% para 10,53%.".

Fernando Haddad, ministro da Fazenda, que não tem cometido erros políticos, escolheu mais um acerto e dividiu os louros:
"É um passo importante, depois de quatro anos, ter uma sinalização dessas. Gostaria de compartilhar com o Congresso e com o Judiciário as iniciativas que estão sendo tomadas na direção correta de arrumar as contas do Brasil".

E, acreditem, já dá para perceber aqui e ali a insatisfação de alguns nativos com a S&P... A agência estaria sendo leniente com o Brasil. Vai ver andam a fazer o "L" por lá, não é mesmo?

"Ó céus, ó vida!" 

https://noticias.uol.com.br/colunas/reinaldo-azevedo/2023/06/15/decisao-da-sp-sobre-brasil-desmoraliza-as-hardys-nossas-hienas-enfezadas.htm

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