O fujão e seus militares agora são problemas da Justiça. Vamos tocar a vida
-Balaio do Kotscho -
Ricardo Kotscho
Quase um mês após a posse do novo governo, naquela festa tão bonita e emotiva, carregada de esperança, continuamos falando todo dia do ex-presidente homiziado nos Estados Unidos e no papel de militares aliados na tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro.
Parecia que a partir daquele dia viveríamos um novo tempo, mas uma rápida passada d'olhos no noticiário desses dias nos jornais, nas TVs e nos portais, nos dá a impressão que o passado ainda não passou, e continua atazanando a vida dos brasileiros.
Se, depois de todas as denúncias contra o antecessor de Lula, saber quando o indigitado vai ou não voltar ao Brasil é um problema dele, dos seus advogados, do Judiciário e da Polícia Federal, que cuidam dos seus muitos inquéritos, investigações e processos.
Nós e o novo governo precisamos agora virar essa página, cuidar da vida e tocar a vida, porque o tempo urge para consertar tantos estragos e salvar nossas crianças, ameaçadas de morrer de fome, não só nas aldeias distantes, onde assistimos durante quatro anos a um genocídio planejado contra os povos originários, mas nas ruas e periferias das nossas cidades e nos grotões desassistidos pelo Estado. Basta olhar pela janela de casa ou do carro.
É preciso convocar as Forças Armadas, sim, mas para se incorporar a esse esforço nacional, voltando a cuidar das fronteiras, que parecem um queijo suíço, das estradas, que derretem nas chuvas de verão, e para dar assistência aos flagelados de desastres naturais e da falta de políticas públicas. E não para fazer política, que não é tarefa deles.
Nunca se falou tanto de militares no noticiário, nem nos tempos da ditadura dos generais. É preciso abrir nossos espaços na mídia para novos atores e personagens da vida real, debater os planos e projetos apresentados pelos novos governantes, que ainda não tiveram tempo nem para respirar, preocupados com a própria segurança.
Não é possível que a gente continue temendo novos ataques a Brasília, como esta semana, com a posse do novo Congresso, e já pensando no que pode acontecer no próximo dia 31 de março, quando os militares costumam comemorar mais um ano do golpe de 1964.
É preciso que todos entendam uma coisa: no dia 1º de janeiro, o Brasil voltou a ser de todos os brasileiros, submetidos ao mesmo poder civil e à Constituição, sob o comando de um presidente eleito que respeita os outros poderes e conquistará novamente o respeito dos demais países, como foi nos dois mandatos em que já governou o país. Esse processo já começou.
O Brasil voltou, como o presidente Lula costuma repetir, mas tem gente até agora que não se conforma com isso. Paciência. Vão ter que esperar a próxima eleição.
Até lá, a nova oposição terá tempo e condições de apresentar ao país novas lideranças para o eleitorado conservador (não confundir com a extrema direita, que virou caso de polícia).
Não é possível numa democracia de fato criar uma nova crise a cada troca de comando ou demissão de militares. As decisões do Executivo e da Justiça terão que ser respeitadas. Ponto.
Tem gente demais falando em nome da caserna para ocupar espaço no noticiário, porta-vozes voluntários de interesses particulares, não do país, que precisa da união e do trabalho de todos, numa das quadras mais difíceis da nossa história. A mim pouco importa o que eles pensam, desde que cumpram a lei.
É desumano jogar toda carga de responsabilidade por reconstruir o país nas costas do presidente, um cidadão de 77 anos, que já teve câncer e ficou 580 dias preso sem culpa formada. Lula vai acertar e errar, como qualquer um de nós, mas precisamos zelar pela sua saúde e fazer a nossa parte, porque neste momento é o único que pode unificar o país em bases mais humanas e projetar um futuro melhor.
Vida que segue.
Torcer contra o governo é um direito. Mas promover baderna em frente aos quarteis, fechar estradas e insuflar os devotos da seita derrotada nas urnas a atacar prédios públicos e pedir intervenção militar, é crime. Desta vez, pelo que garantem as autoridades responsáveis pela segurança nacional, ninguém ficará impune depois da Intentona Golpista.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
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