Bolsonaro quer manter suspeita sobre urnas como "colchão" para derrota

 

Thaís Oyama - Colunista do UOL


11/10/2022

As Forças Armadas não encontraram nenhuma irregularidade no processo de votação organizado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no primeiro turno das eleições, mas o presidente Jair Bolsonaro (PL) desautorizou a divulgação do relatório atestando isso.

A informação é da colunista de O Globo, Malu Gaspar. Segundo ela, ao ser informado sobre as conclusões do trabalho de fiscalização, "Bolsonaro disse que os militares deveriam se esforçar mais, porque as informações não batiam com o que ele próprio soube a respeito do assunto".

Bolsonaro pretende insistir na desmoralizada tese da vulnerabilidade das urnas eletrônicas?

Politicamente, a ideia é impraticável, dado que nenhum dos 99 deputados federais ou oito senadores eleitos pelo seu partido, para ficar só no Congresso, embarcariam numa aventura capaz de arriscar sua própria eleição.

Eleitoralmente, a iniciativa configuraria também um desastre.

Pesquisas qualitativas feitas pela equipe de campanha do presidente já mostraram que os embates com o Judiciário fazem o presidente perder votos. São mal-vistos sobretudo por mulheres de classe média baixa, um público que Bolsonaro precisa desesperadamente cativar.

Bolsonaro não quer ver divulgado o relatório das Forças Armadas endossando a lisura do pleito porque, de outra forma, perde o "colchão" sobre o qual pretende espernear em caso de derrota. "Ter esse 'trunfo' é uma questão de sobrevivência para ele", diz um colaborador do Palácio do Planalto.

E em caso de esperneio diante da derrota, terá Bolsonaro o apoio das Forças Armadas?

Generais já bocejam diante da pergunta tantas vezes feita.

"Não há hipótese de sairmos da normalidade", repete um deles. Afirma o militar, com interlocução junto ao Alto Comando do Exército: "Se a lisura das urnas foi atestada pelo TSE e pelas Forças Armadas, quem vai abraçar essa causa [do presidente]?".

Para o colaborador do Palácio, Bolsonaro, com a ameaça de retomar o questionamento das urnas, está apenas resguardando a chance de, em caso de derrota, poder fazer barulho nas redes sociais e mostrar que tem apoiadores. "Ou seja, que não está morto", afirma o colaborador.

Com relatório das Forças Armadas divulgado ou não, Bolsonaro, em caso de derrota, esperneará por pouco tempo e sozinho. Como diz um um estrategista da campanha: "Para choro de perdedor, ninguém dá ouvidos".

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL 

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