Datafolha indica que o bolsonarismo falhou em sua última jogada
Entendendo Bolsonaro
Cesar Calejon*
Os atos do último dia 7 de Setembro, durante os quais o bolsonarismo tentou se apropriar do bicentenário da Independência do Brasil para avançar a sua busca pela reeleição, foram a última grande jogada do atual governo antes do primeiro turno do pleito presidencial.
Nesse contexto, Bolsonaro tinha dois grandes objetivos com as convocações de quarta-feira: tentar mudar a correlação de forças na disputa com Lula e diminuir a sua rejeição para preparar o terreno de um possível golpe de estado.
Os dados apresentados pela sondagem do Datafolha são claros no sentido de demonstrar que o bolsonarismo falhou em ambos durante, o que pode ser considerada a sua última chance de virar a disputa antes do dia 2 de outubro.
A pesquisa, que foi realizada entre quinta e sexta-feira, indicou que Lula mantém 45% contra 34% de Bolsonaro e que o ex-presidente tem 48% dos votos válidos, sustentando a viabilidade real de vitória ainda no primeiro turno.
Além disso, a avaliação de Bolsonaro teve a trajetória de melhora interrompida mesmo com os eventos do 7 de Setembro, que os apoiadores do governo, até então, consideraram um grande sucesso.
Outro aspecto central a três semanas da eleição é o que aponta que 51% dos eleitores dizem não votar em Bolsonaro de jeito nenhum, contra 39% que afirmaram que jamais optariam por Lula.
Ou seja, na melhor das hipóteses para o bolsonarismo, os eventos do dia 7 de Setembro foram somente úteis para criar uma falsa impressão de que Jair Bolsonaro e os seus filhos não poderão responder pelos seus crimes a partir de 2023.
Ainda assim, essa impressão também é falsa, porque o 7 de Setembro de 2022 não reflete a força do bolsonarismo, propriamente.
Os atos se deram em virtude de uma conjunção específica de fatores: a última chance que a parcela da população que se alinhou com o bolsonarismo teve de se manifestar antes das eleições e a captura da data, que mobiliza sentimentos nacionalistas para fins eleitoreiros.
Criou-se certo senso de urgência aliado ao patriotismo.
Em 2023, sem o cargo e o poder correlato à Presidência e caso não esteja preso, as convocações feitas por Jair Bolsonaro não reunirão sequer parte do público que foi verificado há três dias.
O melhor que o bolsonarismo leva dos atos realizados no 7 de Setembro são algumas imagens que serão usadas ao longo dos próximos dias na campanha eleitoral, o que, em última análise, não evitará a iminente derrota que se aproxima.
* Cesar Calejon é jornalista, com especialização em Relações Internacionais pela FGV e mestrando em Mudança Social e Participação Política pela USP (EACH). É escritor, autor dos livros A Ascensão do Bolsonarismo no Brasil do Século XXI (Kotter), Tempestade Perfeita: o bolsonarismo e a sindemia covid-19 no Brasil (Contracorrente) e Sobre Perdas e Danos: negacionismo, lawfare e neofascismo no Brasil (Kotter).
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.
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