Milton Ribeiro perdeu condições de permanecer como ministro da Educação, dizem entidades

 

UNE, UBES e ANPG pedem ainda que o Congresso Nacional, Ministério Público Federal e autoridades judiciárias tomem providências para acabar com o esquema de favorecimento a municípios.

Por g1 — São Paulo

22/03/2022 16h40 Atualizado há 9 minutos 

Entidades do âmbito da educação disseram estar indignadas com a afirmação do ministro da Educação, Milton Ribeiro, de que repassa verbas para municípios indicados por dois pastores, a pedido do presidente Jair Bolsonaro. Segundo a UNE, UBES e ANPG, trata-se de um gabinete paralelo que funciona "às margens da legalidade". 
"No momento em que vivemos a maior crise da educação brasileira, quando milhares de jovens evadem das escolas e universidades e pós-graduandos padecem com 9 anos de bolsas congeladas, realidade que exigiria do Ministro um grande esforço para reverter esse cenário, vimos o ministério ser transformado num grande balcão de negócios a céu aberto para alimentar esquemas eleitorais do presidente", diz a nota assinada pela União Nacional dos Estudantes, União Brasileira dos Estudantes Secundaristas e Associação Nacional de Pós-Graduandos. 
No documento divulgado nesta terça-feira (22), as entidades repudiaram a atitude e cobraram transparência e impessoalidade na utilização dos recursos públicos. A nota ainda diz que Ribeiro "perdeu todas as condições" de permanecer como ministro (veja a nota completa mais abaixo).

A UNE, UBES e ANP ainda cobraram que o Congresso Nacional, o Ministério Público Federal e autoridades judiciárias tomem providências para acabar a negociata. 

Entenda o caso
O ministro da Educação, Milton Ribeiro, afirmou em reunião com prefeitos que repassa verbas para municípios indicados por dois pastores, a pedido do presidente Jair Bolsonaro.

O áudio da reunião foi obtido pelo jornal "Folha de S.Paulo", que revelou o conteúdo da fala de Ribeiro em reportagem na edição desta terça-feira (22).

Os pastores a que o ministro se refere no áudio são Gilmar Santos e Arilton Moura. Eles não têm cargo no governo, mas participaram de várias reuniões com autoridades nos últimos anos. 

Gilmar Santos é presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil Cristo Para Todos (Conimadb). Arilton Moura também é da Assembleia de Deus. 

"Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar", disse o ministro, segundo o áudio revelado pelo jornal. Além dos prefeitos, estavam na reunião também os dois pastores.

"Porque a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar", complementou Ribeiro.

Em determinado ponto da reunião, o ministro diz ainda que há uma contrapartida para esses repasses, mas não dá detalhes sobre isso.

"Então, o apoio que a gente pede não é segredo. Isso pode ser [inaudível] é apoio sobre construção das igrejas", disse.

Em nota, o Ministério da Educação negou favorecimento a pastores e disse que Bolsonaro não pediu atendimento preferencial. 

Nota das entidades
A UNE, UBES e ANPG vêm a público manifestar indignação com as estarrecedoras gravações em que o ministro da Educação admite, de viva voz, beneficiar amigos de determinados pastores na liberação de verbas públicas do MEC, atendendo ordem direta do próprio presidente da República. Trata-se do funcionamento de um gabinete paralelo, funcionando às margens da legalidade e sob critérios políticos e ideológicos nada republicanos. 

No momento em que vivemos a maior crise da educação brasileira, quando milhares de jovens evadem das escolas e universidades e pós-graduandos padecem com 9 anos de bolsas congeladas, realidade que exigiria do Ministro um grande esforço para reverter esse cenário, vimos o ministério ser transformado num grande balcão de negócios a céu aberto para alimentar esquemas eleitorais do presidente. 

Por isso, a UNE, UBES e ANPG repudiam a negociata em curso e exigem transparência, impessoalidade e projeto amplamente discutido com a sociedade para a utilização dos recursos do cidadão brasileiro.

A Educação precisa ser pilar para reconstrução nacional e de geração de oportunidades para nossa juventude. Se antes, por não lutar por avanços na educação brasileira, já não reunia condições de seguir à frente do MEC, diante deste escândalo, o ministro perdeu todas as condições de permanecer no cargo. A Educação precisa ser pilar para reconstrução nacional e de geração de oportunidades para nossa juventude. Se antes, por não lutar por avanços na educação brasileira, já não reunia condições de seguir à frente do MEC, diante deste escândalo, o ministro perdeu todas as condições de permanecer no cargo.

É imperioso que o Congresso Nacional, em sua atividade de fiscalização do Executivo, e o Ministério Público Federal e autoridades judiciárias tomem providências para cessar esse descalabro. 

https://g1.globo.com/educacao/noticia/2022/03/22/milton-ribeiro-perdeu-condicoes-de-permanecer-como-ministro-da-educacao-dizem-entidades.ghtml

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