Adeus, Bolsonaro - Por: Marco Antonio Villa - 26/jun/20 - 09h30

A gravidade da crise brasileira não parece incomodar Jair Bolsonaro. 

Ele continua agindo como se fosse um deputado do baixo clero. 

Dá até a impressão que não deseja ser Presidente da República. 

A vida de parlamentar dedicado as pautas do extremismo político — e, na maioria das vezes, sem qualquer efeito prático — era mais cômoda. Agora tem de ter uma visão de conjunto, governar para todos os brasileiros. E, pior, em um momento mais complexo da vida do país. Estamos assistindo — e aí é quase no sentido de simplesmente observar — a crise mais aguda da história republicana, tanto no campo da saúde pública, como na economia e na sempre presente tensão político-institucional.

O despreparo é evidente. 
Desconhece questões comezinhas da administração pública. De nada ajudou permanecer 28 anos como deputado federal e, em tese, acompanhar a os grandes temas da política nacional. 
Assumiu a Presidência da República como se fosse um deputado federal reeleito, com a mesma linguagem, a mesma prática e a mesma visão de mundo.
O mais terrível — para ele e, principalmente, para o Brasil — foi à coincidência da inépcia para o exercício de tão alta função com a mais grave crise desde 1889.
Neste cenário de horrores, Bolsonaro estimulou nos últimos meses um confronto permanente com as instituições e a Constituição. 

O tensionamento retirou o foco dos efeitos da pandemia e de como combatê-la. 

O país está sem rumo. 

A reunião de 22 de abril, que o Brasil tomou conhecimento com a divulgação determinada pelo ministro Celso de Mello, representa bem o estilo administrativo de Bolsonaro. 

É o caos como método de governo. 

E para agravar ainda mais este caldeirão de turbulências, a prisão do seu amigo — de mais de trinta anos — e auxiliar — um espécie de faz-tudo, literalmente falando —, Fabrício Queiroz, transformou o cotidiano do Presidente da República em um contínuo trabalho de buscar artifícios jurídicos para evitar, além do impeachment, uma possível prisão por delitos gravíssimos cometidos nas relações perigosas — não as do livro de Choderlos de Laclos — com as milícias cariocas, sempre de acordo com as investigações principalmente do Ministério Público do Rio de Janeiro.


Se a imagem externa do Brasil já estava arranhada, os últimos acontecimentos apresentaram ao mundo um país que, além de agir pessimamente em relação à pandemia, ao meio ambiente e aos direitos humanos, tem na Presidência da República um cidadão envolvido, segundo as denúncias, com o crime organizado.

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