Pós-TSE, conflito entre Temer e Janot deve ter escalada Parte do Congresso quer que presidente confronte procurador-geral

Com a provável vitória do presidente Michel Temer no julgamento em curso no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a tendência é que haja uma escalada do conflito entre o governo e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
No cenário de derrota de Temer no TSE, haveria possibilidade de recurso. Mas o presidente se enfraqueceria muito politicamente. Perderia margem de manobra para enfrentar uma provável denúncia de Janot.
Com a provável vitória na Justiça Eleitoral, Temer ganha fôlego em meio à maior crise de sua administração. Uma parcela considerável do Congresso apoia a decisão do presidente de confrontar o procurador-geral da República. Para um grupo expressivo de deputados e senadores, boa parte deles também na mira a Lava Jato, a vitória de Temer no TSE permitiria ao presidente aumentar a chance de permanecer no poder até o fim do ano que vem.
Essa vitória daria ao governo apoio suficiente na Câmara para barrar a autorização de dois terços dos deputados federais para que uma denúncia por crime comum siga adiante no Supremo e para impedir a tramitação de eventual processo de impeachment.
Temer recebeu ontem ajuda importante de Gilmar Mendes, presidente do TSE, que disse que “aparentemente” teria havido uma combinação do Ministério Público Federal com delatores da JBS para que falassem que todas as doações da JBS eram propinas. Também ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes se referiu indiretamente a um vídeo de Ricardo Saud, no qual o delator da JBS se corrige perante depoimento a procuradores ao falar de doação, dizendo que, na verdade, tratava-se de propina.
Um fôlego político para Temer e essa fala de Gilmar Mendes são música para um grupo de congressistas.
Mas o Ministério Público Federal deverá reagir em relação à acusação de Gilmar Mendes. Também deverá fazer uma denúncia dura contra Temer. Há rumores em Brasília de que Janot teria mais munição contra o governo. Ou seja, mais um sinal de escalada da crise.
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Tendência clara
O TSE entra hoje no quarto dia de julgamento da chapa Dilma-Temer. Pelo que se viu até agora, só uma reviravolta mudaria o resultado e provocaria a cassação da chapa.
Ontem, no terceiro dia, todos os ministros falaram. Foi possível então mapear a tendência de uma decisão favorável ao presidente Michel Temer. Provavelmente, votarão contra a possibilidade de cassação da chapa os ministros Gilmar Mendes, Napoleão Maia, Tarcisio Vieira e Admar Gonzaga. E deverão optar pela punição os ministros Luiz Fux e Rosa Weber, além de Herman Benjamin, que ainda não concluiu seu voto, mas já pediu a condenação.
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Reparo necessário
O ministro Luís Roberto Barroso teve uma atitude digna e necessária ao pedir desculpa ontem por ter dito anteontem, numa homenagem no STF, que o ex-ministro Joaquim Barboso seria “um negro de primeira linha”. É um gesto raro na vida pública.
Quando alguém com o peso de um ministro do STF admite ter um racismo inconsciente, isso ajuda o país todo a debater um problema grave. É importante a discussão sobre um racismo não admitido. Existe o mito da democracia racial brasileira.
Barroso acertou ao fazer o mea culpa. Acertou ao não deixar o tema de lado, sob o argumento de que só aumentaria o dano causado. Fez o correto. Procurou reparar o dano que causou. E o fez com rapidez e contundência. Ninguém deve ter compromisso com o erro.
O racismo quando admitido, como fez com todas as letras o ministro Barroso, dizendo que dedicou parte da vida a lutar contra o preconceito e se viu reproduzindo uma visão racista, contribui para uma sociedade melhor e mais justa.
Ouça o comentário no “Jornal da CBN”:

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