Delações à vista - POR MERVAL PEREIRA
Não é preciso ter uma informação privilegiada para apostar na possibilidade de o ex-assessor do Palácio do Planalto Rodrigo Rocha Loures, preso ontem pela manhã em Brasília, fazer uma delação premiada, denunciando o presidente Michel Temer.
Assim como são conseqüências naturais das investigações as delações dos ex-ministros Antonio Palocci e Guido Mantega. Rocha Loures com mais razão ainda, pois não parece desses militantes convictos que se calam para ajudar o partido, como o ex-tesoureiro do PT João Vaccari, ou José Dirceu, que, condenado várias vezes por corrupção, tenta preservar artificialmente a narrativa do “guerreiro do povo brasileiro”.
Nem Palocci nem Mantega são desse tipo, embora petistas de raiz. Pelo que já se sabe, no esquema de corrupção implantado pelo PT, ajudaram o partido e se ajudaram, assim como Dirceu, mas não têm, mesmo falsa, uma biografia heroica a preservar.
Entre ficar na cadeia por muitos anos para proteger Lula e safar-se, escolherão a segunda hipótese, assim como Rocha Loures. O cerco parece estar se fechando em torno dos chefes da organização criminosa montada nos últimos anos no país.
A denúncia, também ontem, contra o ex-presidente Lula no processo do tríplex do Guarujá é uma antecipação do processo do quadrilhão que está sendo organizado pela Procuradoria-Geral da República. Como no famoso Power point do procurador Deltan Dallagnol, Lula é apontado como o chefe da organização criminosa, que montou todo o esquema de corrupção nas estatais do país, a começar pela Petrobras, para preparar um esquema de permanência no poder do PT.
O presidente Temer, por sua vez, terá mais um teste pela frente: o Supremo Tribunal Federal (STF) só poderá analisar o recebimento de uma eventual denúncia contra ele, que parece estar a caminho, com apoio de pelo menos dois terços (342 de 513) da Câmara dos Deputados.
Mais votos que para aprovar a emenda constitucional de reforma da Previdência, por exemplo, que precisa de três quintos dos membros de cada uma das Casas do Congresso, isto é, 308 deputados e 49 senadores.
Está difícil aprovar a reforma, mas, ao contrário, é possível que Temer escape de um processo por falta de quorum para condená-lo, por um corporativismo que domina a atuação dos parlamentares.
Se antes os estrategistas do governo, à frente o ministro do Gabinete Civil Eliseu Padilha, considerado um especialista em medir a pressão da Câmara, faziam contas para aprovar as reformas, agora as fazem para evitar um processo contra Temer.
O governo precisa apenas de 171 votos a seu favor para impedir a continuidade de um eventual processo, e por enquanto parece que ainda tem esse apoio. Mas, a depender do impacto das revelações de Rocha Loures, se acontecerem, é possível que esse apoio a Temer desapareça.
À medida que a Operação Lava- Jato vai desvendado as tramas de corrupção acontecidas no país nos últimos anos, vai também revelando de que maneira os partidos políticos montaram seus esquemas de poder. E a auto-proteção acaba prevalecendo.
Só que a cada delação, a cada revelação de detalhes das tramóias, vai ficando insustentável essa situação. Um governo que luta para sobreviver, cujo principal objetivo passa a ser salvar-se da guilhotina em vez de aprovar projetos no Congresso, está fadado ao fracasso.
A qualquer momento chegará à exaustão e não encontrará mais caminhos para superar os obstáculos pela frente. O julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que começa na terça-feira, é apenas mais um deles. Difícil sobreviver.