Relatório do ACNUR aponta que há 65 milhões de refugiados no mundo Contingente é o maior já registrado. Síria, Afeganistão e Somália são os principais países de origem. O ACNUR critica a paralisia política da comunidade internacional nesta assunto e alerta para o aumento da xenofobia.
Por Guiherme Balza
Uma combinação de guerras que nunca
acabam, novos conflitos a cada ano e inoperância da comunidade
internacional provoca a pior crise migratória desde a Segunda Guerra.
Esta é a conclusão do relatório do ACNUR, órgão da ONU para os
refugiados. O documento mostra que em 2015 havia 65 milhões e 300 mil
refugiados no mundo, metade deles crianças.
É o maior número já
registrado. Em um ano houve um aumento de mais de 10% no contingente
global de refugiados. O montante inclui 21 milhões de refugiados que
estão em outros países e 40 milhões que foram forçados a fugir de suas
casas, mas que continuam no mesmo país. Luiz Fernando Godinho, porta-voz
do ACNUR no Brasil, é enfático: a crise dos refugiados é uma questão
política.
- São conflitos que quase estão ficando
esquecidos, sem nenhuma solução e cada vez mais gerando refugiados.
Acabar com as guerras é a única maneira de acabar com os refugiados. Não
se pode achar que é uma solução humanitária. A solução é uma solução
política, que só será atingida se toda a comunidade internacional
atingir, trabalhar junto. Não há plano B pra isso.
A Síria está no topo da lista com quase
cinco milhões refugiados . Em seguida estão o Afeganistão, com dois
milhões e setecentos mil, e a Somália, com um milhão e cem mil. Dos dez
países que mais acolheram refugiados, todos estão na Ásia e na África.
São países como Turquia, Paquistão, Líbano e Irã, vizinhos de áreas
belicosas.
O relatório do ACNUR cita como agravantes para a questão
migratória o fechamento de fronteiras, a xenofobia e o crescimento de
uma retórica política desagregadora. Militante de Direitos Humanos,
Omana Kasongo chegou ao Brasil em 2013, fugido da Republica Democrática
do Congo, onde foi preso e torturado várias vezes.
Hoje ele consegue se
sustentar dando aulas de francês, culinária e cultura africanas na Zona
Leste de São Paulo, mas o começo foi difícil.
- A vida do refugiado é muito díficil
aqui no Brasil. O Brasil não tem política para refugiados. Em outros
países você vai, eles dão casas para vocês. Aqui no Brasil não tem esse
sistema.
O engenheiro mecânico Talal Al-Tinawi
está há dois anos e meio em São Paulo com a mulher e três filhos, um
deles nascido no Brasil. Há um mês ele abriu um restaurante na Zona Sul
da capital e não tem planos de voltar pra Síria.
- Se eu voltar vou começar a minha vida
do zero. Aqui no Brasil comecei minha vida do zero. Não quero mais
começar do zero. E meus filhos agora estão estudando em português. Se eu
voltar eles vão ter que estudar em árabe, que é muito difícil pra eles.