FecomercioSP projeta nova retração de 3% no PIB em 2016 e inflação acima do teto da meta - De acordo com a Entidade, possivelmente deverá ocorrer um fato que não era observado desde o início da década de 1930 na economia brasileira:

São Paulo, 09 de dezembro de 2015 -

 A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) está pouco animada em relação ao cenário econômico para 2016 e estima que, novamente, o desempenho será ruim. 

O ano de 2015 foi considerado o de pior desempenho da economia brasileira desde 1990 e deve encerrar com queda de 3% do PIB, além de inflação de 10%, aumento da taxa de juros, retração de 5% a 6% das vendas no varejo restrito, perda de 7% do produto industrial e redução significativa do estoque de emprego.
De acordo com a Entidade, possivelmente deverá ocorrer um fato que não era observado desde o início da década de 1930 na economia brasileira: dois anos consecutivos de retração do PIB. Em relação ao ano anterior, 2015 ainda deve registrar queda em torno de 8% dos investimentos, o que reforça perspectivas nada favoráveis de que 2016 trará muitos desafios para empresários e consumidores.
A expectativa da FecomercioSP é que algumas das variáveis mais importantes da economia tenham um desempenho um pouco melhor no próximo ano, mas isso decorrerá basicamente dos fortes ajustes para baixo já ocorridos na massa de rendimentos, na produção industrial e no consumo nesses dois últimos anos.

Confiança
O ano de 2015 ficou marcado pela entrada da confiança de consumidores e empresários na zona de pessimismo. O consumidor paulistano iniciou o ano demonstrando as mesmas preocupações de 2014 com o baixo crescimento da renda em virtude da inflação elevada e do crédito mais caro e restrito, além de um fator a mais: a insegurança cada vez maior em relação ao seu emprego, fazendo as incertezas relacionadas à manutenção da estabilidade financeira das famílias crescerem mês após mês. Diante disso, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) entrou em rota decrescente e, na média, deve fechar o ano com queda de 20,1% em relação ao verificado em 2014.
Já o sentimento de insatisfação visto pelos empresários foi afetado não só pelo baixo volume de vendas, mas por todas as variáveis econômicas. Dessa forma, o Índice de Confiança do Empresário do Comércio (ICEC) quebrou sucessivamente os recordes negativos de menor patamar histórico ao longo de todo ano até setembro, permaneceu estável nos meses de outubro e novembro e estima-se que atinja 71,3 pontos em dezembro. Se essa projeção se confirmar, além de registrar o nível mais baixo da série histórica iniciada em março de 2011, o indicador apontará em 2015 uma média 23% abaixo da verificada em 2014.
Estoques e expansão
As apostas iniciais para 2015 eram de que a adequação dos estoques no varejo crescesse, baseada na redução gradativa de pedidos a fornecedores, o que resultaria em um ajuste nos estoques excessivos. De fato, essa redução ocorreu, porém, o ritmo das vendas se deteriorou mais do que o esperado e os estoques permaneceram inadequados. O indicador de estoques caiu, em média, 10,8% durante 2015, resultado de um aumento significativo da proporção de empresários do varejo que perceberam os estoques acima do desejado: 5,9 pontos porcentuais em relação ao ano passado. A FecomercioSP acredita que grande parte do ajuste já foi feito neste ano e, diante  das expectativas dos empresários de vendas baixas, é menor o espaço para novas surpresas negativas em 2016.
O Índice de Expansão do Comércio, formado pelas perspectivas de contratação e de investimento dos empresários do varejo paulista, em 2015, mostrou trajetória de queda ainda maior do que a esperada. Com isso, o indicador de expansão caiu mais de 27% em relação à média de 2014.
Endividamento e inadimplência
A queda da confiança se traduziu em um comportamento mais cauteloso por parte dos consumidores. Diante das incertezas do cenário, da instabilidade política, do aumento dos juros e dos preços, o consumidor, desde 2013, já estava mais cuidadoso, evitando novas dívidas, quitando antigas, e privilegiando o consumo de bens essenciais.
O consumidor cortou gastos e ajustou orçamento até onde pôde. Apesar disso, com preços e juros cada vez mais altos, viu-se obrigado a se endividar novamente - agora, porém, não para comprar bens duráveis, mas para tentar manter o padrão de vida conquistado nos últimos anos. De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), em novembro, 49,3% das famílias paulistas tinham algum tipo de dívida, uma alta de 5,5 pontos porcentuais em relação ao mesmo período do ano anterior (43,8%). As famílias com contas em atraso alcançaram 17,1% no mesmo mês (ante 10,5% em novembro de 2014), e as que não terão condições de honrar com os seus compromissos no mês seguinte atingiram 6,8% (ante 3,5% no mesmo mês do ano passado).
A Pesquisa de Risco e Intenção de Endividamento (PRIE) mostrou um grau de conservadorismo do consumidor ainda maior em 2015. Essa é uma das poucas notícias econômicas positivas deste ano, afinal, o consumidor já vem ao longo de dois anos antecipando um futuro mais complicado. Por isso, endividou-se menos, reduzindo em 14,7% a intenção de financiamento neste ano - ainda assim, teve que lançar mão de parte da sua poupança, o que diminuiu a segurança de crédito. O cenário ainda não é devastador para o sistema financeiro, mas tende a piorar em 2016, quando a inadimplência da pessoa física deve subir em razão do aumento do desemprego, e ser seguida pela inadimplência das empresas, que já registrou alta em 2015.
Inflação
No primeiro semestre de 2015, Custo de Vida por Classe Social (CVCS), formado pelo Índice de Preços do Varejo (IPV) e pelo Índice de Preços de Serviços (IPS), acumulava aumento de 6,24%. Na segunda parte do ano, o CVCS variou a uma média de 0,78%, com destaque para a elevação de 1,18% em outubro.
As classes D e E foram as que mais sentiram os efeitos das altas nos preços, acumulando em dez meses 11,05% e 10,86%, respectivamente. Já as classes A e B foram menos impactadas, sofrendo aumento do custo de vida de 8,34% e 8,95% no período.
Ao longo de todo o ano, o segmento de Alimentação e bebidas foi o principal responsável pela pressão no IPV, com alta de 8,6%. A segunda maior pressão aconteceu por causa da alta em Transportes, que de janeiro a outubro chegou a 9,59%, em virtude dos aumentos em Combustíveis (14,4% em 2015).
Em paralelo, o Índice de Preços de Serviços (IPS) apresentou, na primeira metade do ano, uma elevação média de 1,25%, enquanto no período de julho a outubro, o acréscimo médio foi de 0,91%. Ainda que tenham arrefecido no terceiro trimestre, os preços dos serviços atingiram alta de 11,7% no ano. O segmento de Habitação exerceu a principal contribuição de alta no IPS, assinalando no ano aumento de 22,62%, muito acima da média geral. As altas observadas em Energia elétrica residencial (71,1%) e em Taxa de água e esgoto (17,5%) - no acumulado de 2015 - foram contundentes e afetaram negativamente o orçamento das famílias, especialmente das mais pobres.
Consumo
O índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) registrou, em 2015, o seu pior desempenho da série histórica iniciada em 2010. O indicador atingiu em novembro 65,3 pontos, o menor valor já registrado, e a projeção é que em dezembro tenha nova queda. Todos os sete itens que compõem o indicador estão abaixo dos cem pontos e chegaram a novembro nos seus menores patamares, com destaque para os itens Nível de consumo atual e Momento para duráveis, com 41,2 e 41,3 pontos, respectivamente. Essa queda contínua do ICF indica famílias mais cautelosas no consumo, priorizando os bens de primeira necessidade.
Emprego
O estoque de empregados no comércio varejista do estado deve fechar o ano com variação negativa de 2,1% no contraponto com o ano anterior, o primeiro recuo em oito anos, segundo a Pesquisa de Emprego no Comércio Varejista de São Paulo (PESP). Apesar da queda das vendas observada no ano passado, o varejo paulista ainda gerou postos de trabalho em 2014. Quando a magnitude da crise ficou evidente, com queda das vendas e aumento dos custos, sem perspectiva de retomada a médio prazo, os empresários precisaram acelerar o ajuste nas despesas. Com isso, o setor deve fechar 46 mil postos de trabalho em 2015.
A expectativa é que, com a redução da atividade econômica (somada à alta dos preços básicos, que restringe o poder de compra das famílias), o cenário de queda no estoque de empregados no comércio varejista se mantenha ao longo de 2016.

Postagens mais visitadas deste blog