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domingo, 31 de março de 2024

Vítimas da tortura relembram violência da ditadura militar


Muitos brasileiros que nos anos 1960 lutavam para restaurar a democracia no Brasil acabaram vítimas dos agentes da ditadura iniciada em 64. Alguns foram mortos ou desapareceram. Outros acabaram capturados e passaram por sessões de tortura cuja crueldade chegou a níveis estarrecedores.

Segundo um levantamento feito pela Human Rights Watch em 2019, o número de pessoas torturadas durante a ditadura teria sido superior a 20 mil.

O portal ICL Notícias publica a seguir depoimento de três vítimas da tortura praticada por servidores do Estado durante a ditadura militar que dão ideia do que esse milhares de ativistas sofreram:

“Eu estava roxa, pelos hematomas”

Amelinha Teles, torturada na ditadura militar

Amelinha Teles, torturada na ditadura militar

Maria Amélia Teles, a Amelinha Teles, fazia parte do Partido Comunista do Brasil, quando foi sequestrada por agentes da ditadura e levada para o DOI-Codi de São Paulo, junto com o marido, Cézar, e com Carlos Nicolau Danielli. Ela hoje tem 79 anos.

“Fomos sequestrados na Vila Clementina, bem perto do DOI-Codi, e levados para lá no dia 28 de dezembro de 1972. Logo que chegamos no pátio, arrancaram meu marido e o Danielli do carro e passaram a dar chutes e socos no estômago e na cara. Eram muitos homens, mas tinha um que comandava. Depois viria a saber que era o Carlos Alberto Brilhante Ustra, na época major. Ele usava nome falso, era chamado de dr. Silva ou dr. Tibiriçá.

Por achar absurdo que tantos homens estivessem agredindo os dois que estavam comigo, me dirigi ao Ustra e perguntei a ele: “O sr. que está comandando esses homens, vai deixar um negócio desses acontecer aqui? Vai permitir que eles sejam mortos?”.

Antes de responder qualquer coisa, ele me deu um safanão com as costas das mãos que me fez cair longe, no chão do pátio. Depois gritou: “Foda-se, sua terrorista!”. Os homens naquele momento vieram me agarrar.

Então, nós três fomos levados para a sala de tortura.

Era Ustra quem comandava as torturas. Eles arrancavam as roupas dos torturados, nunca fui torturada vestida. Chamavam aquilo de interrogatório.

Passei por diversos tipos de torturas. Tinha choque elétrico na vagina, no seio, na boca, no ouvido. Tinha palmatória, com uma madeira toda furada, de maneira que a pele vai soltando. Fui espancada por vários homens, além dele. Normalmente ficavam cinco a oito homens fazendo essas agressões.

Além de espancamento, colocavam arma na cabeça, dizendo que poderiam estourar meus miolos a qualquer momento.

Naquela primeira noite mesmo eu fui estuprada por um deles que era Lourival Gaeta, que tinha o codinome Mangabeira.

Ustra dava ordens e algumas vezes também torturava, quando não achava que os subordinados estavam sendo violentos o suficiente. Fazia isso gritando palavrões.

Um dia, Ustra foi buscar em casa meus dois filhos, Edson, de 4 anos, e Janaína, de 5 anos, e minha irmã, Criméia, grávida de oito meses. Ele espancou a minha irmã. E teve a desfaçatez de levar meus filhos para dentro de uma sala onde eu estava sendo torturada, nua, vomitada, evacuada.

Minha filha me olhou e perguntou: “Mãe, por que você ficou azul?”. Eu estava toda roxa, pelos hematomas.

Fiquei ali de 28 de dezembro a 14 de fevereiro.

Ustra era uma pessoa extremamente perversa, tinha todas as características de fascista.

Anunciou a morte de meu amigo Danielli com alegria. Morreu nas mãos dele, de tanto ser torturado. ‘Vai para a vanguarda popular celestial’, ele falou. Ustra é responsável por mais de 50 mortes. Não se trata de assunto pessoal, os outros concordavam com ele. É uma questão institucional.

Quando você está sendo torturada, quer morrer. Mas a força da vida é grande. Pensava que tinha que sobreviver para contar ao mundo o que acontecia ali.

Quando saí, não tive tempo de fazer psicanálise, tive que procurar emprego, lutar para recuperar a guarda de meus filhos, que Ustra tirou.

Meus filhos, sim, ficaram dilacerados e tiveram que fazer muita psicoterapia.

A tortura é uma ferida que não cicatriza na gente. E às vezes sangra”.

(Entrevista concedida a Chico Alves e publicada originalmente no UOL)

Durante o espancamento, os algozes chamaram um médico

Luiz Roberto Tenório foi vítima da ditadura militar

Luiz Roberto Tenório foi vítima da ditadura militar

Estudante de medicina na época da ditadura militar, Luiz Roberto Tenório, hoje com 82 anos, era líder do movimento estudantil na Uerj (antes chamada Universidade do Estado da Guanabara) e ligado ao grupo revolucionário Dissidência, ao qual também pertencia seu amigo Vladimir Palmeira. Apesar da atuação do coletivo na luta armada, o papel de Tenório era cuidar dos companheiros feridos.

Ele estava presente em momentos dramáticos do período, como o assassinato do estudante Edson Luís — Tenório ajudou a carregar o caixão do secundarista no cortejo que levou o corpo do jovem de 18 anos da Cinelândia até o cemitério São João Batista. “Mataram um estudante. Podia ser seu filho”, diziam faixas ao longo do trajeto.

Em 1971, foi preso pela Polícia do Exército e passou dois meses no DOI-CODI, pior centro de tortura do Rio de Janeiro.

Tenório conta que, durante um espancamento, os algozes chamaram um médico militar para avaliar seu estado. O mesmo foi feito com outro detido que também era torturado. Mesmo à beira da inconsciência, Tenório o reconheceu: era seu colega de faculdade Ricardo Agnese Fayad, com quem estudou por seis anos na antiga UEG. Tenório conseguiu cassar no Cremerj, em 1994, o direito de Fayad exercer a medicina.

No início de 2018, ele foi denunciado pelo Ministério Público Federal por participar de torturas, mas Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu o processo contra o general reformado. Para Moraes, a 8ª Vara Federal não poderia ter aceitado a denúncia por ser incompatível com jurisprudência do STF, que determina a constitucionalidade da Lei da Anistia e sua incidência em crimes políticos cometidos entre 2 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979.

Até hoje Tenório participa de passeatas no Centro da cidade. Foi em todas as manifestações ligadas à morte da vereadora Marielle Franco, por exemplo. Foi em todos os atos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro na Cinelândia. Hoje ele trabalha como assessor do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro.

“A luta não acabou. Se antes a intolerância era contra os comunistas, hoje é contra pretos e pobres”, afirma Tenório, um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores.

(Entrevista a Caio Barretto Briso)

“A dor era intensa, mas eu não falei”

Gilberto Natalini, vítima da ditadura militar

Gilberto Natalini, vítima da ditadura militar

Gilberto Natalini estava no terceiro ano de medicina, não era ligado a nenhuma organização de resistência à ditadura, apenas se definia como “contra o governo”. Se colocava também contra a luta armada. Apesar disso, por ter vendido o jornal de um grupo que defendia esse tipo de ação, foi preso em agosto de 1972. Hoje tem 72 anos.

“Fui levado para o DOI-Codi e o próprio Ustra me interrogou. No início, foi violência psíquica. Ele ficava com uma luz fortíssima em cima de mim, gritando, vociferando.

Alguns dias depois, já comecei a apanhar. Eles batiam, davam socos, tapas, choque no corpo, na orelha. Eu sem roupa.

Em uma noite, o próprio Ustra me colocou descalço em cima de duas latas grandes. Jogou água no chão e ligou os fios elétricos, para dar choques. Além disso, me batia com um cipó, que usava como chicote. A sala estava cheia de agentes e ele me usava como uma espécie de cobaia.

Os choques eram nas mãos, nos dedos, nas orelhas. Fiquei um mês com sangramento, porque eles machucaram meus ouvidos com choques elétricos. Acabei ficando com 40% a menos de audição no ouvido esquerdo e 25% a menos no ouvido direito, como sequela do que o Ustra fez comigo.

Eles queriam saber quem fazia os jornais do Molipo (Movimento de Libertação Popular) chegar às universidades. Ficamos lá quase dois meses apanhando por causa disso.

A dor era intensa, mas eu não falei.

Via o Ustra quase diariamente. Quando tinha interrogatório, na maioria das vezes ele entrava na sala, mas nem sempre sujava as mãos. Gritava, dava ordens, sempre muito bestial. Era um monstro.

Não era possível nem falar com ele. Não dava chance, era quase uma compulsão que ele tinha pela tortura.

Havia também uma estratégia que era vir um dos agentes e bater, bater, bater bastante. Dava choque. Aí saía esse e entrava outro, que se fingia de bonzinho, trazia um copo d’água e dizia ‘Você tem que falar ou então você vai morrer’. Depois recomeçava a tortura.

Eu vi gente morrer lá. Aquele Benetazzo (Antonio Benetazzo, líder estudantil e artista plástico ítalo-brasileiro) foi preso. A gente ouvia ele gritar a noite inteirinha, urrava de dor. No dia seguinte, saiu arrastado, morto. Mataram ele lá dentro.

Meu pai, seu Urbano, morava na cidade de Macaé (RJ) e conseguiu o bilhete de um general, escrito a lápis, como permissão para vir a São Paulo me ver.

Ele era um homem pobre, que se esforçou para me botar na faculdade. Me deu uma bronca. Perguntou como fui me meter em uma encrenca daquelas, prejudicando a família.

Disse pra ele que ele não precisava ir à prisão me torturar ainda mais porque ali tinha gente paga com o imposto dele para fazer isso. Abri a boca e mostrei a mucosa da boca em carne viva, por causa dos choques. Mostrei os braços queimados e machucados. Meu pai teve um ataque de choro e foi preciso vir muitos homens para tirar ele dali, porque dizia que queria ficar preso no meu lugar.

Meu pai era um cara de direita. Depois de ver o que aconteceu comigo e o que era ser de direita, ele foi para a esquerda, virou brizolista.

Aqui fora, não fiz tratamento psicológico nenhum, administrei bem o trauma da tortura. Sabia que não tinha feito nada errado.

Esse sonho que eu tenho até hoje embalou a minha saúde mental”.

(Entrevista concedida a Chico Alves e publicada originalmente no UOL) 



https://iclnoticias.com.br/vitimas-tortura-relembram-da-ditadura-militar/

"Manter a memória e a verdade é crucial para assegurar que essa tragédia não se repita", diz Dilma nos 60 anos do golpe de 1964

 

"A História não limpa da consciência nacional os atos daqueles que exilaram e mancharam de sangue, tortura e morte a vida brasileira durante 21 anos", afirma a ex-presidente

Dilma Rousseff (Foto: CGTN)

247 - A ex-presidente Dilma Rousseff, que atualmente preside o Banco dos BRICS, fez uma publicação no X, antigo Twitter, neste domingo (31), data que marca os 60 anos do golpe militar que deu início à ditadura de mais de duas décadas no país. 

Contrastando com a posição do presidente Lula (PT), que determinou que o governo não realizasse atos em alusão ao golpe para evitar "conflagrar" o ambiente político, Dilma afirma na postagem ser "crucial" relembrar o evento histórico. "Manter a memória e a verdade histórica sobre o golpe militar que ocorreu no Brasil há 60 anos, em 31 de março de 1964, é crucial para assegurar que essa tragédia não se repita, como quase ocorreu recentemente, em 8 de janeiro de 2023. Como tentaram agora, naquela época, infelizmente, conseguiram. Forças reacionárias e conservadoras se uniram, rasgaram a Constituição, traíram a democracia, e eliminaram as conquistas culturais, sociais e econômicas da sociedade brasileira. O presidente João Goulart, legitimamente eleito, foi derrubado e morreu no exílio. No passado, como agora, a História não apaga os sinais de traição à democracia e nem limpa da consciência nacional os atos de perversidade daqueles que exilaram e mancharam de sangue, tortura e morte a vida brasileira durante 21 anos. Tampouco resgata aqueles que apoiaram o ataque às instituições, à democracia e aos ideais de uma sociedade mais justa e menos desigual. Ditadura nunca mais!".


A ex-presidente Dilma foi presa e cruelmente torturada durante a ditadura militar. Em depoimento em 2001 ao Conselho Estadual de Direitos Humanos (Conedh-MG), ela deu alguns detalhes sobre um dos episódios que sofreu: “minha arcada girou para o lado, me causando problemas até hoje, problemas no osso do suporte do dente. Me deram um soco e o dente se deslocou e apodreceu. […] Só mais tarde, quando voltei para São Paulo, o Albernaz (capitão Alberto Albernaz, do DOI-Codi de São Paulo) completou o serviço com um soco, arrancando o dente”. 

https://www.brasil247.com/brasil/manter-a-memoria-e-a-verdade-e-crucial-para-assegurar-que-essa-tragedia-nao-se-repita-diz-dilma-nos-60-anos-do-golpe-de-1964-967fit7q

Triste

 

 Charges do Miguel Paiva 

'Dizer que Bolsonaro não tem a ver com 8/1 é imbecil', diz ministro de 64

 

'Dizer que Bolsonaro não tem a ver com 8/1 é imbecil', diz ministro de 64

Karla Monteiro e Mateus Araújo
Do TAB, no Rio e em São Paulo
O advogado e deputado Almino Affonso, 94, estava estava ao lado de João Goulart no momento do golpe, primeiro como ministro do Trabalho e depois na liderança da bancada do PTB na Câmara
O advogado e deputado Almino Affonso, 94, estava estava ao lado de João Goulart no momento do golpe, primeiro como ministro do Trabalho e depois na liderança da bancada do PTB na Câmara Imagem: Lucas Lima/UOL

Perto de completar 95 anos — faz aniversário no próximo 11 de abril —, Almino Affonso diz em tom de piada que, às vésperas dos 60 anos do golpe militar, o telefone "milagrosamente" voltou a tocar.

"Descobriram que sou a última testemunha", diz, em referência ao fato de, entre os membros do primeiro escalão do governo deposto em 1964, ser o único ainda vivo.

Naquele ano, ele estava ao lado do então presidente João Goulart, primeiro como ministro do Trabalho e Previdência Social e depois como deputado federal na liderança da bancada do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) na Câmara.

Hoje filiado ao PSB (Partido Socialista Brasileiro) do vice-presidente Geraldo Alckmin, Almino evita criticar a decisão do presidente Lula de suspender os eventos oficiais em memória do golpe.

"No instante em que você representa o Estado, irradia relações favoráveis ou desfavoráveis. É prudente que quem tenha cargo público de primeira grandeza omita referência a algo que tem reflexo em A, B ou C", diz.


Mas ele não se esquece e identifica as diferenças entre os acontecimentos de 1964, que sepultaram a democracia por 21 anos, e a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023.

O então deputado, assinando a posse como ministro do Trabalho e Previdência Social, sob o olhar de Jango: aliado fiel
O então deputado, assinando a posse como ministro do Trabalho e Previdência Social, sob o olhar de Jango: aliado fiel Imagem: Lucas Lima/UOL

Lá atrás, ressalta Almino, a cúpula militar conspirou junto com setores da sociedade civil para derrubar o governo eleito, com apoio externo. "A história é longa e entra uma coisa chamada Estados Unidos."


Já o ataque bolsonarista aos Três Poderes seria — quem sabe? — um pastiche mal acabado.

Quando Jair Bolsonaro foi eleito, em 2018, Almino — que na ocasião votou em Fernando Haddad (PT) — disse à Folha de S.Paulo que seria exagero chamá-lo de golpista.

"Ele era ninguém. Literalmente ninguém", justifica-se. "Basta dizer que foi deputado num dos períodos em que eu estava na Câmara e nunca o vi lá. Quando fui entrevistado, disse apenas que não havia nenhum elemento para se dizer que ele fosse golpista."

Hoje, sua opinião mudou. "Se alguém disser que Bolsonaro não tem nada a ver com o episódio todo, aquele quebra-quebra [em Brasília], é um imbecil."

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Imagem: Lucas Lima/UOL

O mais dramático telefonema

Há muitas fotografias no apartamento de Almino em São Paulo. "Minha namorada, em todas as fases do nosso relacionamento", diz, apontando as fotos da esposa, Lygia de Britto Álvares Affonso, falecida há 17 anos.


Entre os retratos, uma foto com o músico Sérgio Britto, dos Titãs, um de seus filhos, e o registro de sua posse como ministro do Trabalho, cargo que ocupou entre fevereiro e junho de 1963.

Quase um ano após sua saída da pasta, relembra Almino, ele recebeu o mais dramático telefonema da sua vida. Era quarta-feira, 1º de abril de 1964. Corrido do Palácio das Laranjeiras, João Goulart o convocava para uma reunião na Granja do Torto.

Ao lado do filho músico, o titã Sérgio Britto
Ao lado do filho músico, o titã Sérgio Britto Imagem: Lucas Lima/UOL

O clima na residência oficial não podia ser pior. Jango encarnava o desânimo, com o "terno amarfanhado" e a "barba por fazer". Estavam ali também Tancredo Neves e outros deputados.

A insurreição militar já tinha se alastrado pelos quartéis, aderindo à marcha das tropas do general Olímpio Mourão Filho, que haviam partido de Minas Gerais na manhã anterior.

Enquanto se debatia o conteúdo de um manifesto pela democracia, o general Ladário Telles, comandante do 3° Exército, avisou que o presidente deveria voar para Porto Alegre, pois Brasília se convertia rapidamente numa ratoeira.


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Imagem: Lucas Lima/UOL

Ficaram na Granja do Torto apenas Maria Teresa Goulart, esposa do presidente, e seus dois filhos, João Vicente e Denize. A ex-primeira-dama conta ao UOL que Almino sempre foi fiel ao presidente: "Ele esteve presente nos mais difíceis momentos".

O então líder da bancada acompanhou Jango até o aeroporto, onde dezenas de parlamentares chegavam para abraçar o presidente e dizer palavras de solidariedade.

"Mas, nada me enganava", lembra Almino no livro "1964 — Na Visão do Ministro do Trabalho de João Goulart" (Imprensa Oficial, 2014), lançado por ocasião dos 50 anos do golpe que o levaria ao exílio. "Por trás da emoção, havia a descrença no amanhã."

Na saída do aeroporto, ele ouviu de Tancredo Neves uma frase que jamais esqueceu. "Ele disse: 'Faz 10 anos, eu me recordo da reunião do presidente Getúlio Vargas com o ministério e logo mais a tragédia [do suicídio]. Fico a me perguntar se é a última vez também que me despedi do presidente João Goulart.' Eu disse: 'Tancredo, para de dizer coisas desajustadas'. E ele respondeu: 'É que você é jovem, não é capaz de perceber que se repetem as coisas.'"

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Imagem: Lucas Lima/UOL

Três vezes 'canalha!'

Depois de se despedir de Jango, Almino seguiu para o Congresso. Convocada pelo presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, uma sessão extraordinária estava prestes a começar. Ele se acomodou ao lado de Tancredo.

Logo o deputado Doutel de Andrade trouxe ao plenário uma circular emitida pelo chefe da Casa Civil, Darcy Ribeiro, informando aos congressistas que João Goulart voava para Porto Alegre.

"Eu ainda sinto ódio", conta Almino, recordando o sentimento que o dominou no instante em que Moura Andrade pediu a palavra e declarou vaga a Presidência da República — alegando falsamente que o presidente havia abandonado o governo. Na memória do ex-ministro, ficaram dois gestos de resistência. A voz de Tancredo gritando: "Canalha! Canalha! Canalha!". E o deputado Rogê Ferreira que, valendo-se de sua destreza de atleta, rompeu a barreira da guarda pessoal e, frente a frente com Moura Andrade, cuspiu nele.

"Foram naquela noite dramática os únicos protestos que pudemos ter", conta o ex-ministro.

Almino Affonso revela, ainda, uma informação inédita: no início do regime militar, Castello Branco, ditador de 1964 a 1967, fez chegar a ele no exílio o recado de que poderia voltar ao Brasil.

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Almino se negou: "Agradeci, mas disse que não poderia fazer isso enquanto tantos dos meus amigos estavam exilados".

Quando Jango morreu, em 1976, na Argentina, seu ex-ministro do Trabalho já tinha retornado ao Brasil, após passar 12 anos entre a atual Sérvia (ex-Iugoslávia), Chile, Peru e Argentina. "Foi ele que me ajudou a vencer a briga para conseguir fazer o enterro em São Borja", lembra, agradecida, Maria Teresa Goulart.

"Os militares não queriam nos deixar cruzar a fronteira com o corpo. Nunca me esqueço do Almino, sempre leal, mas dizendo a verdade, sem puxar o saco do Jango."

Por toda a casa, fotos da amada Lygia, companheira desde os 17 anos de idade, com quem Almino foi casado por cinco décadas
Por toda a casa, fotos da amada Lygia, companheira desde os 17 anos de idade, com quem Almino foi casado por cinco décadas Imagem: Lucas Lima/UOL

Na escrivaninha do escritório da última testemunha do golpe repousam folhas manuscritas por Almino. "É um livro que estou escrevendo sobre minha história familiar, política e de exílio", conta. "Não sei se aguento suportar vivo até terminá-la, né?", ri ele.

"É mais que uma autobiografia, mas muito geral. Essencialmente, tem minha história com minha mulher, com quem vivi desde os 17 anos de idade, 50 anos de casados." 

https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2024/03/31/dizer-que-bolsonaro-nao-tem-a-ver-com-81-e-imbecil-diz-ministro-de-64.htm

Generais ficaram livres em 1964, mas não escaparão pelo golpe de 2023

Após ficarem sem punição em 1964, prisão espera generais por golpe de 2023


Leonardo Sakamoto
Colunista do UOL
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Imagem: Presidência da República

O Brasil deve conseguir mandar ao xilindró alguns generais por conspirarem para manter Jair Bolsonaro no poder mesmo após perder a eleição de 2022. Dada a quantidade de material reunido pela Polícia Federal, os candidatos mais bem cotados nas casas de apostas, até o momento, são Braga Netto e Augusto Heleno. Poderia ser mais. Mas, no final, os dois devem ser os anéis a serem sacrificados por uma instituição que não aceita perder os dedos.

É um começo, apesar de não bastar. Principalmente porque se trata de um país que passou por 21 anos de ditadura civil-militar e não viu membros da cúpula de suas Forças Armadas amargando uma cana pela morte e tortura de críticos ao regime. Ou por causa da corrupção que grassava bandida em negociatas verde-oliva. Ou ainda pela pilhagem do meio ambiente, a escravização na Amazônia e a porrada sobre sindicatos, políticas úteis aos sócios empresariais dos militares.

Pelo contrário: a Lei da Anistia, de 1979, passou uma borracha nos crimes cometidos por agentes do Estado em nome de uma pretensa pacificação — a mesma pacificação e a mesma anistia agora solicitadas por Bolsonaro a quem participou do golpismo do 8 de janeiro de 2023. O que abre a porta para ele próprio ser perdoado em um momento em que sua prisão é questão de tempo.

A falta de punição de militares de alta patente por causa do golpe de 1964 e pelas consequentes sacanagens cometidas durante a ditadura ajudou a semear a tentativa de golpe ao final do mandato de Bolsonaro que contou com a cumplicidade de militares de altas patentes e sacanagens das mais diversas. O passado não resolvido sempre volta. Camuflado de pão com leite condensado, mas volta.

O golpe de 31 de março de 1964 que completa 60 anos neste domingo de Páscoa continua vivo nos militares que insistem em melar eleições, no discurso cínico de que as Forças Armadas são o poder moderador e na corrupção de fardas limpas com braço forte e mão leve. Mas também segue vivo na tortura de negros e pobres pelas mãos de policiais, herdeiros dos métodos e técnicas desenvolvidos na repressão.

Ainda é purulenta ferida exposta. Nunca curamos o que foi deixado por 21 anos de ditadura. Tapamos com um curativo mal feito, ao qual chamamos de transição lenta, gradual e segura. Cobrimos com anistia. Com Deixa Prá Lá. Com governabilidade. Mas a ferida continua fedendo, apesar dos esforços estéticos.


Durante as sessões de tortura realizadas no 36º Distrito Policial, local que abrigou a Oban (Operação Bandeirante) e, posteriormente, o DOI-Codi, na capital paulista, durante a ditadura, os vizinhos no bairro do Paraíso reclamavam dos gritos de dor e desespero que brotavam de lá. As reclamações cessavam com rajadas de metralhadora disparadas para o alto, no pátio, deixando claro que aquilo continuaria até que o sistema decidisse parar.

Mas o sistema não parava. O sistema nunca para por conta própria. Ele precisa ser freado pelo resto da sociedade.

Uma das formas de frear é proteger o ensino de História nas escolas contra a sanha estúpida de pessoas e movimentos que desejam que você aprenda a data em que João Goulart foi deposto em 1964, mas que isso não representou um golpe de Estado e foi feito dentro da lei. Ou que os estudantes decorem o texto da Lei Áurea, mas não debatam por que o 13 de maio de 1888 não significou autonomia aos negros e negras deste país.


No dia 10 de maio de 1933, montanhas de livros foram criadas nas praças de diversas cidades da Alemanha. O regime nazista queria fazer uma limpeza da literatura e de todos os escritos que desviassem dos padrões impostos. Centenas de milhares queimaram até as cinzas. Einstein, Mann, Freud, entre outros, foram perseguidos por pensarem diferente da maioria. A opinião pública e parte dos intelectuais alemães se acovardaram ou acharam pertinente o fogaréu nazista descrito acima, levado a cabo por estudantes que apoiavam o regime. Deu no que deu. Hoje, vemos muitos se acovardarem diante de ondas burras, intolerantes e violentas frente à necessidade de defender a História.

Não, não estou comparando nossa sociedade com a nazista. Apenas dizendo que a burrice é atemporal. E universal. E gruda, permanecendo viva quando já se julgava ela morta e enterrada.

Deveríamos transformar o 31 de Março em feriado nacional. Talvez assim possamos garantir que esse dia nunca seja encarado por nós e, principalmente, pelas gerações que virão como um grande Primeiro de Abril, como se o golpe de 1964 nunca tivesse existido. Essa cicatriz que não deveria ser escondida, mas permanecer como algo incômodo, à vista de todos, funcionando como um lembrete da nossa incompetência em por fim às heranças daquele tempo.

Punir com prisão o golpismo de Bolsonaro e seus amigos militares, mandando generais que cometeram crimes contra a democracia à cadeia, vai mostrar que algumas instituições aprendem sim com seus erros.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

OLHAR APURADO

Uma curadoria diária com as opiniões dos colunistas do UOL sobre os principais assuntos do noticiário. 

https://noticias.uol.com.br/colunas/leonardo-sakamoto/2024/03/31/generais-nao-foram-punidos-em-1964-mas-prisao-os-espera-por-golpe-de-2023.htm

Golpismo de 22 faz da memória de 64 gênero de 1ª necessidade


Josias de Souza
Colunista do UOL
No 8 de janeiro de 2023, manifestantes bolsonaristas invadiram e depredaram o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal FederalFoto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
No 8 de janeiro de 2023, manifestantes bolsonaristas invadiram e depredaram o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal FederalFoto: Marcelo Camargo/Agência Brasil Imagem: No 8 de janeiro de 2023, manifestantes bolsonaristas invadiram e depredaram o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal FederalFoto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Costuma-se dizer que o Brasil é um país sem memória. Tomado pela posição passiva que adotou em relação ao golpe militar de 1964, que faz aniversário de 60 anos neste domingo, Lula gostaria que o brasileiro não tivesse nem mesmo curiosidade. "Faz parte da história", disse ele. "Não vou ficar remoendo, vou tentar tocar esse país para frente".

A memória é um mecanismo complexo. Para lembrar o essencial, convém esquecer o que é secundário. Não foi por outra razão que, num momento de rara inspiração, Joaquim Nabuco criou a Nossa Senhora do Esquecimento. Batizou-a em francês, como era comum aos intelectuais do seu tempo: "Notre Dame de I'Oublié".

O problema é que, a pretexto de contemporizar com as Forças Armadas, Lula esquece que a intentona de 8 de janeiro instilou na conjuntura algumas dúvidas incômodas. Por exemplo: qual é o prazo de vencimento de uma culpa histórica? Lula parece considerar que, em seis décadas, a conta já foi paga.

"Os generais que estão hoje no poder eram crianças naquele tempo. Alguns acho que não tinham nem nascido ainda naquele tempo", disse o presidente. Esqueceu de lembrar —ou lembrou de esquercer— que um pedaço das "minhas Forças Armadas" revelou-se mal-armada de institucionalidade diante do golpismo de Bolsonaro.

Quando João Goulart foi deposto, o general Marco Antonio Freire Gomes estava na bica de completar sete anos de idade. O brigadeiro Carlos Almeida Baptista Junior e o almirante Almir Garnier Santos eram duas crianças com quatro anos incompletos.

Freire e Baptista, então comandantes do Exército e da Aeronáutica, refugaram o decreto do golpe de Bolsonaro. Mas abstiveram-se de levar os lábios ao trombone. Ambos revelaram seus pendores legalistas apenas em depoimentos à Polícia Federal, depois que o delator Mauro Cid já havia jogado o golpismo no ventilador.


Garnier, então chefe da Marinha, fez pior. Segundo Freire e Baptista, o almirante colocou-se à disposição de Bolsonaro. De resto, formou-se ao redor do capitão um verdadeiro alto-comando do golpe. Frequentam o inquérito da PF de ponta-cabeça, por exemplo, os generais Braga Netto, Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira.

Como se tudo isso fosse pouco, o general Tomás Ribeiro Paiva, atual comandante do Exército, ainda deve ao país esclarecimentos sobre a investigação supostamente aberta para identificar os 46 oficiais da ativa que subscreveram uma carta em 2022 para pressionar Freire Gomes a aderir ao golpe contra Lula. Não há, por enquanto, vestígio de informação a respeito das punições.

A despeito de o golpe de 2022 não ter passado do estágio da tentativa, o que a legislação já tipifica como crime, a simples movimentação de Bolsonaro nos dias que precederam sua fuga para a Flórida dissipa a presunção de que, em sessenta anos, uma geração de fardados sucede a outra sem herdar nenhuma culpa.


O Datafolha também informou que, para sete em cada dez brasileiros (71%), a democracia é o melhor regime de governo. Entretanto, 18% declararam que não tanto faz se o regime é democrático ou ditatorial. Para 7% dos entrevistados, dependendo das circunstâncias, uma ditadura pode ser melhor que a democracia.

Ou seja: somando-se os indiferentes com os que flertam abertamente com o regime ditatorial, chega-se à espantosa constatação de que 25% dos brasileiros colocam em dúvida a máxima de Churchill segundo a qual a democracia é o pior regime imaginável com exceção de todos os outros. Para esse pedaço da sociedade brasileira, um simulacro de democracia ou uma ditadura genuína podem ser preferíveis à democracia de verdade.

O histórico do Datafolha mostra que o apreço pela democracia diminuiu desde as eleições presidenciais de 2022. Em outubro daquele ano, 79% dos entrevistados enxergavam a democracia como o melhor regime. Em outubro, o percentual caiu para 74%. Agora, 71%, No mesmo período, aumentou a indiferença em relação ao regime democrático: 11%, 15% e, agora, 18%. A preferência pela ditadura oscilou para o alto: 5% em outubro do ano eleitoral, 7% nas duas pesquisas seguintes.

A deposição de João Goulart, como se sabe, recebeu o apoio de vários setores da chamada sociedade civil —do empresariado à imprensa. O suporte material dado por setores do ogronegócio ao acampamento que pedia intervenção militar na frente do QG do Exército revelou que Bolsonaro também não estava sozinho nos seus delírios golpistas.

Os devotos do bolsonarismo que encheram sete quadras de asfalto na Avenida Paulista no último dia 25 de fevereiro também demonstraram que um naco nada negligenciável da sociedade continua compartilhando das hesitações de Bolsonaro sobre de que lado da Terra Plana seria mais conveniente saltar.


Por todas as razões, a passividade de Lula diante da efeméride deste domingo é um clamoroso equívoco. Vivo, Nabuco decerto diria que o golpe militar de 1964 jamais pode ser acomodado no altar de Nossa Senhora do Esquecimento. Muito menos num domingo de Páscoa. O conceito de ressurreição não orna com falta de memória.

Seis décadas não foram suficientes para tornar todo mundo inocente. Nem mesmo os ressentimentos prescreveram. É grande, de resto, o número de sentenças criminais graúdas esperando na fila do Supremo Tribunal Federal para acontecer.

A tentativa de golpe de 2022 rejuvenesceu, por assim dizer, a memória do 31 de março de 1964, transformando-a em gênero de primeira necessidade. Conforme o pente-fino do Datafolha, a maioria dos brasileiros (53%) descarta a hipótese de volta da ditadura. Bom, muito bom, ótimo. Mas, desde a redemocratização, nunca estivemos tão perto de um retrocesso como em 2022. Melhor não facilitar.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião.  do UOL.  

OLHAR APURADO

Uma curadoria diária com as opiniões dos colunistas do UOL sobre os principais assuntos do noticiário. 

https://noticias.uol.com.br/colunas/josias-de-souza/2024/03/31/golpismo-de-22-faz-da-memoria-de-64-genero-de-1-necessidade.htm

Nos 60 anos do golpe militar de 64, renovar o dever da verdade e da Justiça e prender Bolsonaro agora

Editoriais

 247

Bolsonaro com militares
Bolsonaro com militares

O momento é esse. Depois, pode ser tarde demais


Nestes 60 anos do golpe militar de 1⁰ de abril de 1964, os pensamentos dos brasileiros não podem senão estar voltados para aqueles que perderam entes queridos, mortos, feridos, presos, sequestrados,  torturados, cassados, desaparecidos sem notícia, exilados, expelidos por uma máquina de opressão voltada contra as instituições democráticas e contra os que tiveram a coragem de lutar pela liberdade. 

A Constituição foi despedaçada pelo golpe, os partidos, proibidos e desfigurados, o Congresso e a Justiça,  usurpados pelo golpismo.


Enquanto as tropas se impunham pela violência, os maiores jornais do país, Globo, Jornal do Brasil, Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo e Correio da Manhã, aplaudiam com entusiasmo. 

Tratou-se de um golpe dado contra um presidente eleito, João Goulart. Jango tinha expressivo apoio popular, como mostra pesquisa de opinião realizada pelo Ibope em março de 1964. O presidente deposto pelas Forças Armadas detinha 70% de aprovação para as medidas de seu governo, como a implantação da reforma agrária contra o latifúndio, a reforma do uso do solo urbano, a reforma educacional com valorização do magistério e a reforma fiscal com carga mais justa de impostos. 


Em defesa da soberania e da industrialização, o presidente encampara as refinarias,  nacionalizando a produção do combustível. Encomendada pela Federação do Comércio (Fecomércio), essa e outras pesquisas de opinião foram mantidas fora do conhecimento público por mais de 40 anos.

O golpe logo encontrou resistência dos democratas, que se valeram das mais diversas formas, inclusive a luta armada. Aos heróis que se sacrificaram, o país deve justas e eternas homenagens, além da devida e ampla reparação correspondente às violências de todos os tipos cometidas pelos que se assenhoraram do Estado. A eles,  o país está ainda longe de prover o tributo da Memória. Não houve ainda o restabelecimento amplo da Verdade sobre o período. Espera-se ainda o provimento da Justiça para todos os responsáveis pelo legado de graves violações dos direitos humanos deixado pela ditadura militar.


Rememorar e reafirmar o repúdio ao golpe não cabe apenas aos diretamente envolvidos. Nem apenas aos daquela geração. É tarefa de todas as épocas, para exorcizar as tentações golpistas que insistem em rondar o país.

Em variados setores da vida nacional, o golpe logo encontrou resistência heróica dos democratas em episódios dos quais o país deve sempre se orgulhar. Brasileiros se valeram das mais diversas formas de luta, alguns chegando inclusive à luta armada. Aos heróis que se sacrificaram, o país deve justas e eternas homenagens, além da devida e ampla reparação correspondente às violências de todos os tipos cometidas pelos que se assenhoraram do Estado. A àqueles patriotas, o país está ainda longe de prover o devido tributo da Memória, do reestabelecimento amplo da Verdade e o provimento da Justiça. Essa deve abranger todos os responsáveis pelo legado de graves violações dos direitos humanos deixado pela ditadura militar.


O país precisa seguir investigando todas as circunstâncias que cercaram os 21 anos do golpe de 64. 

O Brasil viveu mais um gravíssimo surto golpista desencadeado em diversas etapas ao longo de 2022 e no 8 de janeiro de 2023.


Mancomunados com Jair Bolsonaro, militares de altas patentes tentaram mais uma vez virar a mesa. Estes igualmente precisam ser investigados, processados e, se constatada sua culpa, punidos na letra da lei.

Ocorre que a tentativa, a de 2023, não prosperou. Por quê? Ao que parece, desta vez não houve unidade entre os comandos militares, nem apoio interno e internacional. Não se pode, é óbvio fechar os olhos ao advento desta nova realidade.


A ruptura da unidade militar em relação ao golpismo de Bolsonaro tornou mais complexo o quadro político.

Embora tenha muitos elementos de continuidade em relação à de 64, a situação atual tem especificidades que se devem levar em conta. Pela primeira vez em décadas, altas patentes não aderiram ao golpismo.

Ao mesmo tempo em que deve reconhecer e lidar com essa novidade positiva,  o país não pode porém aceitar que as voltas da história, e as conveniências das  alianças de cada momento, imponham imobilidade ou omissões diante dos crimes de lesa humanidade cometidos durante o regime militar. 

A tarefa de expor a verdade em relação ao passado não pode ser sepultada pelos objetivos e responsabilizações em curso no processo presente. As duas conjunturas, as de 1964 e 2022/23, estão relacionadas e se complementam.

Da mesma forma, a grande marcha da história não pode minimizar cada uma das tarefas pontuais e pessoais de recuperar a verdade histórica, fazer justiça e prover reparações. 

Elas não devem ficar enterradas no passado. É tarefa nacional que não tem marco limitador, não constitui uma mera página a ser virada. 

Em qualquer dos casos, do golpe do passado e do atual, não cabe anistia ou esquecimento. 

Como consequência do falido golpe de agora, a tentativa de fuga de Bolsonaro para a embaixada da Hungria no Carnaval já constitui evidência clamorosa de um ânimo de evasão à Justiça em clamoroso descumprimento das normas restritivas emitidas contra ele pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

Em defesa do processo, o juiz não deveria considerar outra alternativa senão decretar a prisão preventiva do ex-presidente. O momento é esse. Depois, pode ser tarde demais.

https://www.brasil247.com/editoriais247/nos-60-anos-do-golpe-militar-de-64-renovar-o-dever-da-verdade-e-da-justica-e-prender-bolsonaro-agora

"A guerra é sempre uma derrota", diz papa em mensagem de Páscoa

 

"A guerra é sempre uma derrota", diz papa em mensagem de Páscoa

Olívia Meireles

31/03/2024 07:44, atualizado 31/03/2024 08:11


Reprodução/Vaticano News
imagem do papa francisco fazendo a benção de páscoa no vaticano em 2024

papa Francisco celebrou, na manhã deste domingo (31/3), o Domingo de Páscoa, no Vaticano. Na Praça São Pedro, ele leu a tradicional mensagem e bênção Urbi et Orbi. O pontífice pediu a paz mundial e listou os conflitos armados que estão acontecendo no mundo. “A guerra é sempre uma derrota”, disse.

  • Papa Francisco lava os pés de 12 detentas de prisão feminina em Roma

Sentado em sua cadeira de rodas, Francisco apareceu na sacada central da Basílica Vaticana para abençoar 600 mil fiéis que apareceram para celebrar a data cristã. Na mensagem ao público, o papa citou especialmente os conflitos no Líbano, na Síria, Palestina, Ucrânia e nos países africanos. “Vamos procurar o caminho da paz em meio à guerra”, pediu.

O pontífice demandou que os princípios dos direitos internacionais sejam respeitados e também reforçou a importância da troca de prisioneiros entre Rússia e Ucrânia. Ele comentou ainda sobre o conflito entre Israel e Hamas. “Apelo que seja garantido a ajuda humanitária em Gaza, o cessar-fogo imediato e a liberação de reféns de 7 de outubro”, pediu.

“Quanto sofrimento vemos nos olhos das crianças! Com seu olhar, eles nos perguntam: por que tanta morte? Porque tanta destruição?”, disse Francisco no meio da oração.

Emocionado, Francisco concluiu pedindo para os fiéis não se renderem a lógica das armas. “A paz nunca chega por meio das armas”, explicou.

Saúde debilitada

papa Francisco participou da Vigília Pascal, na noite deste sábado (30/3), realizada na véspera do Domingo de Páscoa, a celebração cristã relembra a ressureição de Jesus Cristo. Mas o pontífice cancelou a ida à tradicional Via-Sacra, no Coliseu, em Roma, Itália. A decisão, segundo o Vaticano, foi tomada para preservar a saúde do papa. O religioso acompanhou a procissão da residência oficial Casa Santa Marta.

Francisco tem 87 anos, e a saúde dele tem sido motivo de preocupação. Recentemente, o pontífice enfrentou gripe e bronquite e precisou cancelar reuniões e eventos oficiais. 

https://www.metropoles.com/mundo/a-guerra-e-sempre-uma-derrota-diz-papa-em-mensagem-de-pascoa

Macron exalta sucesso da passagem pelo Brasil e agradece Lula: "sempre estarei ao seu lado"


Presidente francês esteve em Brasília no último capítulo de sua visita ao Brasil e fez balanço positivo da estadia de três dias no país

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante reunião bilateral com o Presidente da República Francesa, Emmanuel Macron, no Palácio do Planalto (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

247 - Em uma visita marcada por gestos de cordialidade e compromissos mútuos, o presidente francês, Emmanuel Macron, encerrou sua passagem pelo Brasil nesta quinta-feira (28), com elogios à recepção calorosa e aos acordos firmados entre os dois países. Recebido no Palácio do Planalto pelo presidente Luiz Inácio da Silva (PT), Macron expressou sua gratidão pela hospitalidade brasileira e fez questão de destacar o papel de Lula nesse processo.

"Quero agradecer sinceramente ao presidente Lula por esta visita de Estado, pelo convite e pela maravilhosa maneira como tudo foi organizado", declarou Macron, evidenciando a honra de estar ao lado do presidente brasileiro em um momento tão emblemático. A Praça dos Três Poderes, onde se encontravam, foi ressaltada pelo líder francês como um símbolo da resistência democrática, recordando os ataques ocorridos no local no ano anterior, no terrorismo bolsonarista de 8 de janeiro.


Além dos agradecimentos, Macron assegurou seu apoio aos projetos de Lula: "sempre estarei ao seu lado em todos os projetos ambiciosos que levar a cabo para o G20, para a COP e tudo o que nos espera nos próximos anos. A visita foi maravilhosa e as discussões foram excelentes".

A agenda do presidente francês pelo Brasil não se limitou a Brasília, estendendo-se por Belém, Rio de Janeiro e São Paulo, onde participou de eventos e assinou acordos que fortalecem os laços históricos, políticos, culturais e econômicos entre as nações. O foco em temas ambientais e no combate às mudanças climáticas reflete a preocupação mútua com questões globais urgentes. 


O histórico de relações entre Brasil e França foi destacado durante a visita, com ênfase no reconhecimento precoce da independência brasileira pela França em 1825. A proximidade entre os dois países foi reiterada pelo presidente Lula, que ressaltou o papel fundamental do diálogo bilateral na construção de um mundo mais justo e sustentável.

A França figura como o terceiro maior investidor no Brasil, com um volume significativo de investimentos e uma corrente de comércio bilateral expressiva. Esses números refletem a solidez das relações econômicas entre as nações e o compromisso mútuo com o desenvolvimento sustentável.


A visita de Macron não apenas reforça os laços entre Brasil e França, mas também demonstra a importância do diálogo entre o Sul Global e o mundo desenvolvido na busca por soluções para desafios globais.  

https://www.brasil247.com/brasil/macron-exalta-sucesso-da-passagem-pelo-brasil-e-agradece-lula-sempre-estarei-ao-seu-lado

Charges do Renato Aroeira

 


https://www.brasil247.com/charges/moco-devolve-meu-passaporte-preu-ir-brincar-com-os-outros-genocidas

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