Justiça é falha, diz viúva de músico fuzilado por militares

 

Por Luiz Almeida

“Essa decisão demonstra que a Justiça é falha. É lamentável”. O desabafo é da enfermeira Luciana dos Santos Nogueira, esposa do músico Evaldo dos Santos Rosa, assassinado, em abril de 2019, com mais de 80 tiros de fuzil por militares do Exército que patrulhavam uma rua de Guadalupe, bairro na zona norte do Rio de Janeiro.

Na última quinta-feira (29), o ministro Carlos Augusto Amaral de Oliveira, do Superior Tribunal Militar (STM), votou pela redução das penas de 2021. O tenente Ítalo da Silva Nunes Romualdo, que comandava a ação e havia sido condenado a 31 anos de prisão, foi sentenciado a 3 anos, dez meses e 24 dias. Já as penas dos outros sete militares passaram de 28 anos para três anos, dois meses e 12 dias.

“A Justiça, infelizmente, ainda não foi feita. É uma sensação de impotência muito grande e isso é muito ruim. Eu esperava que o STM fosse dar uma resposta, mas não aconteceu. Ficamos de mãos atadas, porque são militares sendo julgados por um tribunal militar”, reclama Luciana.

Cinco anos sem Justiça: carro de Evaldo Rosa, fuzilado por militares do Exército em Guadalupe, zona norte do Rio (Fábio Teixeira/AP)

SEM JUSTIÇA

Como argumento, o ministro Carlos Augusto Amaral de Oliveira fez uso de um vídeo do momento do ataque dos militares, apresentando pelo Ministério Público Militar (MPM) no julgamento em primeira instância. No voto, o magistrado afirmou ainda que os militares teriam agido em legítima defesa, uma vez que trocavam tiros com um assaltante próximo ao local onde estavam o músico e sua família.

“Eles vieram para matar, sim. Foram 257 tiros. Não pediram nem mesmo para a gente parar, não nos abordaram. Atiraram mesmo para matar. Foi uma barbaridade o que fizeram”, completa a enfermeira.

ADIAMENTO

O voto do ministro Carlos Augusto Amaral de Oliveira foi seguido na íntegra pelo ministro revisor do caso, José Coêlho Ferreira. O julgamento, no entanto, foi suspenso. A ministra Maria Elizabeth Teixeira fez um pedido de vista. A sentença só será definida após os votos dos 15 ministros da Corte.

“Todos esses adiamentos só nos trazem mais tristeza. É voltar ao passado, voltar ao 7 de abril de 2019. Eles não sabem o quanto isso interfere na nossa vida, na vida do meu filho. Estamos há quase cinco anos sem resposta da Justiça”, critica Luciana.

EXECUÇÃO

No dia 7 de abril de 2019, Evaldo dos Santos Rosa, esposa Luciana Nogueira dos Santos, o filho do casal de cinco e o avô materno da criança passavam pela Estrada do Camboatá, em Guadalupe, na zona norte do Rio de Janeiro, quando o carro da família foi alvejado por mais de 257 tiros de fuzil disparados por militares do Exército.

Baleado, Evaldo dos Santos não resistiu e morreu no local — o pai de Luciana também foi atingido, mas conseguiu sobreviver. O catador de materiais recicláveis Luciano Macedo tentou socorrer Evaldo, mas foi fuzilado pelos militares e também morreu.

https://iclnoticias.com.br/justica-e-falha-diz-viuva-de-musico-fuzilado/

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