Queda do IBC-Br torna pornográfico o papo de corte de apenas 0,25 da Selic


Reinaldo Azevedo
Colunista do UOL
Imagem
Imagem: Reprodução

O IBC-Br de maio, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central, teve uma queda de 2%, a maior em dois anos. O mercado esperava que a coisa andasse de lado, - 0,1% ou zero. E, no entanto, veio isso que é, sem dúvida, uma paulada.

De janeiro a maio, o crescimento está em 3,61%, e o projetado, em 12 meses, em 2,24%; logo, dá-se como certa uma desaceleração no segundo semestre. A questão é saber o tamanho. O número desta segunda assusta.

O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) se reúne nos dias 1º e 2 de agosto para definir a taxa Selic, que está em 13,75% desde agosto do ano passado. Temos hoje juros reais de 10% ao ano. É uma coisa escandalosa. São os mais altos do mundo, de longe, e não há nenhum fundamento da economia que justifique esse troço.

É curioso. Procuro nos textos dos adeptos da Seita do Banco-Centralismo as razões para que assim seja e como isso vai ser bom para a economia brasileira. Nada! A inflação obviamente está sob controle. "Ah, mas temos a meta..."

Olhemos o padrão inflacionário do resto do mundo, ainda sob o impacto dos estragos provocados pela pandemia e pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Não é só o Brasil que passa por pressão inflacionária. Qual será a divisa? "Ou 3% ou o caos?" No caso, o caos do baixo crescimento e, no limite da estupidez, da recessão? É isso?

Até agora, o empresariado e o povo brasileiros têm resistido heroicamente, mas as consequências, como o conselheiro Acácio não disse, vêm sempre depois. Vieram. Sem o peso específico da formidável expansão do agro, temos a dura realidade. O que podem produzir juros reais de 10% ao ano, além de estragos?

O ministro Fernando Haddad, da Fazenda, comentou: "Foi um resultado esperado. O juro real é muito elevado. A pretendida desaceleração do Banco Central chegou muito forte. Precisamos ter cautela com a manutenção de uma taxa real de 10%. Está muito pesado para a economia."

Foi lhano, como sempre. Poucas economias no mundo resistiriam a isso. A nossa tem se mostrado bastante resiliente. E é por isso que me espanta essa conversa de que, na próxima reunião, nos dias 1º e 2 de agosto, o Copom já pode se sentir à vontade para baixar a taxa em 0,25 ponto, o que nos levaria dos atuais 13,75% para 13,5%.

É brincadeira? É piada mórbida? É humor involuntário? Isso manteria os juros reais na casa dos 10%. Que patacoada é essa? Os adeptos da Seita do Banco-Centralismo, por favor, expliquem quais são os fundamentos. Que matemática sustenta essa maluquice? "Ah, é a trajetória da dívida que..." Vocês sabem que isso é mentira. Para uma taxa real de 10%??? MENTIRA ABSOLUTA!!! "Ah, é que a inflação..." Mentira também! Temos índices do atacado que exibem forte deflação. Também o IPCA ficou com taxa negativa.


Com um mínimo, e nem precisa ser tanta assim, de vergonha na cara, a Selic não cai nem 0,25 nem 0,5 ponto. Cai pelo menos 1. Não podemos é continuar nessa toada. Estudos indicam que decisões de política monetária têm efeitos efetivos num prazo de nove meses. E há quem diga que esse é o tempo para desdobramentos positivos em matéria de crescimento. Os negativos são mais rápidos.

Afinal, não se diz que o mercado também se alimenta de expectativas? Com as sucessivas maluquices do BC, mantendo a taxa abusiva de juros, as pessoas param de investir.

Quem apontou o despropósito com mais dureza foi o presidente, e aí o mundo veio abaixo. "Onde já se viu o Lula criticar o BC!?!?!?" Por quê? Temos um ente no Brasil que está acima da crítica? Todos podem ser a ela submetidos, menos a autoridade monetária? Que história é essa? "Ah, o presidente contribuiu para provocar uma elevação dos juros futuros e para retardar o início do ciclo de queda da taxa..." Deixem de conversa mole, de mistificação, de antilulismo barato. Afinal, o BC não é autônomo? Por acaso o Planalto encaminhou proposta pondo fim à tal autonomia? E não, não desistirei da indagação jamais: autonomia em relação a quê, em relação a quem?

Que o IBC-Br sirva de advertência. O BC quer aplausos? Suas atas não vinham pregando a necessidade de desacelerar a economia? Desacelerou. E muito! O tombo é grande o suficiente para a fome do gigante ou ainda não? Atenção! Os valentes estão comprometendo seriamente o crescimento do ano que vem.

"Ah, você não é economista, não entende nada!" Então que os expertos (com X) da Seita do Banco-Centralismo justifiquem o que está em curso com textos claros. E tal clareza nem precisa ser dirigida a nós, os mortais. Que sejam compreensíveis ao menos a seus pares, ainda que adversários teóricos. Mas não conseguem.

Tudo se transforma numa espécie de guerra ideológica. É curioso: os que propugnam por uma queda mais agressiva da Selic são tratados como militantes, defensores do governo, esbirros do lulismo... Sei. Ainda que assim fosse, indago: as escolhas em curso são neutras como as flores, completamente despidas de viés político? Não seriam elas um modo de afirmação da tal autonomia, que não se importa em mandar o país à breca?

Continua após a publicidade

A conversa da queda de apenas 0,25 ponto da Selic em agosto já era indecente. Depois do IBC-Br, passou a ser um caso de pornografia econômica. E de um tipo bem pouco divertida.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

https://noticias.uol.com.br/colunas/reinaldo-azevedo/2023/07/17/queda-do-ibc-br-torna-pornografico-o-papo-de-corte-de-apenas-025-da-selic.htm

🛒 Conheça o Supermercado Higa"s 😃🛒

🛒 Conheça o Supermercado Higa"s 😃🛒
Com mais de 35 anos de história, o Supermercado Higa"s é sinônimo de confiança, Variedade e atendimento excepcional.

Postagens mais visitadas deste blog