Bolsonaro presenteou Lula com reforma tributária

 

Josias de Souza - 

Colunista do UOL 07/07/2023 

Na definição do poeta gaúcho Mario Quintana, a mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer. 

Pois a Câmara dos Deputados, em votação histórica, transformou em verdade a penúltima mentira de Bolsonaro. 

O capitão chamou de "reforma tributária do Lula" a emenda constitucional aprovada pelos deputados. 

Não há vestígio de digitais de Lula na proposta. 

Mas a novidade lhe cai no colo como um presente do acaso, capaz de melhorar a conjuntura econômica e impulsionar investimentos.

A reforma chega num instante em que o Ministério da Fazenda, sob Fernando Haddad, já convenceu o mercado de que cultiva uma noção qualquer de responsabilidade fiscal.

 A inflação é cadente e o câmbio está comportado.

 Vão diminuindo na imagem do retrovisor os pretextos do Banco Central para manter a taxa de juros em 13,75% ao ano. 

O início do movimento de queda da Selic tornou-se um imperativo esperando para acontecer na próxima reunião do Copom, em agosto.

A reforma ainda precisa passar pelo Senado. Há detalhes que terão que ser definidos em lei complementar. 

A transição do manicômio tributário para o modelo simplificado vai durar até 2033. 

A despeito de tudo isso, a simplificação do sistema de cobrança de impostos coloca o Brasil num trilho que conduz a um modelo mais próximo da equidade tributária. 

Se funcionar, benefícios e exceções que sobrecarregam os consumidores que não têm como fugir da tributação logo serão vistas como aberrações à espera de uma reforma complementar.

A emenda aprovada pelos deputados foi formulada em 2018 por um grupo de economistas, sob a coordenação de Bernard Appy, hoje assessor de Fernando Haddad. 

Em 2019, primeiro ano da gestão Bolsonaro, a reforma foi abrigada numa proposta subscrita pelo deputado Baleia Rossi, presidente do MDB. 

No gogó, o então ministro da Economia Paulo Guedes era um apoiador.

Nos bastidores, conspirava contra a iniciativa. 

Na prática, a reforma tributária converteu-se num presente de Bolsonaro para Lula.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL 

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