É só o começo da confusão – O Bastidor

Leandro Loyola

leandro@obastidor.com.br

Publicada em 31/10/2022 às 19:00

Caminhoneiros bolsonaristas fecharam rodovias e por lá ficaram, sem ser incomodados Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress


Até agora, Jair Bolsonaro seguiu o roteiro do que era esperado dele na derrota. Não reconheceu o resultado, não cumprimentou o vencedor e disse intramuros que só vai aceitar o resultado após o diagnóstico da auditoria dos militares. Alguns de seus seguidores mais radicais criam tumultos, na forma de bloqueios em estradas de 16 estados e do Distrito Federal.

Os bloqueios são o primeiro resultado dos incentivos que o presidente disseminou nos últimos meses, ao insistir na fantasia da fraude e no processo de deslegitimar todo o processo eleitoral. É a primeira manifestação do que seus seguidores mais radicais podem fazer. Não faltarão incentivos de Bolsonaro para mais dessas até a posse de Lula em 1º de janeiro.

Não é possível desvincular Bolsonaro do que fazem pessoas vestidas de verde e amarelo, que gritam e promovem arruaças como essa nas estradas. Por investir contra a democracia, desde 2019 Bolsonaro passa o recado de que não é necessário seguir leis ou regras, mas subvertê-las em seu favor. Daí até as pessoas entenderem que podem fazer o mesmo porque estão seguindo seu líder em defesa do país, é um passo curto.

O fato de a Polícia Rodoviária Federal ter pedido autorização à Advocacia Geral da União pra desbloquear as estradas, sem precisar, não é aleatório. Enrolações burocráticas assim tomam tempo e sempre fazem parte de uma estratégia. Deixar as estradas fechadas é péssimo para o Brasil, mas bom para Bolsonaro. O diretor da PRF é um bolsonarista convicto. Quando uma instituição age de acordo com os caprichos do governante de plantão, as coisas estão fora do lugar. Não é possível tirar isso das costas de Bolsonaro.

Jamais houve uma eleição em que o derrotado não cumprimentou o vencedor. Jamais houve uma eleição na qual eleitores foram para as ruas dizer que não aceitam o resultado. Isso é obra de Bolsonaro. Assim como é o primeiro presidente a não conseguir se reeleger, é o primeiro a provocar tumultos no país para tentar obter vantagens.

Bolsonaro está descompensado pela derrota. Isso terá de passar. O que não vai passar é o bolsonarismo, esta corrente política e social que acredita no presidente e tem características marcantes. Até a posse, o bolsonarismo viverá de manifestações assim. Seu alimento será a versão de que houve uma fraude, orquestrada pelo sistema Judiciário, para reabilitar Lula e fazê-lo vencer Bolsonaro.

Depois, o bolsonarismo estará na oposição no Congresso. Vai azucrinar Lula em votações, vai tentar bloquear seu governo, vai procurar se vingar de alguns, como o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, vai brigar para se abastecer do orçamento secreto.

Nas ruas, os bolsonaristas farão manifestações contra o governo, produzirão vídeos com imagens de muita gente e, quem sabe, terão Bolsonaro lá fazendo discursos em busca do caminho de volta em 2026.

Calma. Está só começando. 

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