Comprar Um Carro *USADO

 http://valoresreais.com/2017/02/13/

Há mais de 10 anos ouço diariamente, via podcast, as colunas do Mauro Halfeld e da Mara Luquet, na rádio CBN.

Trata-se de uma maneira salutar de alimentar meu cérebro, continuamente, das vitaminas, proteínas e sais minerais proporcionadas pela educação financeira, que, como eu disse no post da semana passada, não é uma coisa que você aprende hoje, usa hoje, e, depois, descarta, joga fora, e interrompe o uso quando atinge a estabilidade financeira.

Praticar a educação financeira tem serventia durante toda uma vida

É como escovar os dentes, almoçar, jantar, e fazer exercícios físicos: é uma coisa que você deve levar para o resto de sua vida, como se fosse um hábito.

De vez em quando, o Mauro nos brinda com histórias interessantes e curiosas, de leitores que estão prestes a fazer uma ca**da financeira, mas são devidamente orientados a agir de forma diferente😆

Aliás, não é de hoje que utilizo as colunas do Halfeld como base para textos publicados aqui no blog, onde trato de aprofundar os debates sobre temas que considero essenciais na educação financeira dos leitores.

 Quem já é leitor antigo e assíduo do blog sabe que muitos comentários do Mauro já foram debatidos por aqui: 

Apesar das críticas que o trabalho dele recebe em alguns fóruns, blogs e mídias sociais, principalmente quando aborda temas muito específicos (como fundos imobiliários e ações individuais, por exemplo), temos que considerar que ele fala para o, digamos assim, “grande público”, para pessoas completamente leigas em educação financeira, e que às vezes não tem nem a educação básica. Portanto, partindo dessa premissa, eu avalio como bastante positivo o trabalho dele, que tenta traduzir o “economês” para um universo mais abrangente de pessoas.


Semana passada, ele narrou a história de um jovem casal (o comentário pode ser ouvido aqui), que pretendia gastar de R$ 90 mil a R$ 100 mil na compra de um carro usado, seminovo. 

Não, você não leu errado: eles queriam comprar um carro usado de R$ 100 mil. R$ 100k. Seis dígitos. 

Esse casal já tinha reservas de R$ 51 mil para dar de entrada, e mais R$ 15 mil que poderiam ser utilizados, sacando recursos do FGTS. O restante do valor seria pago através de um financiamento com juros.


A moça que enviou a pergunta disse que eles “estavam começando a vida deles agora”.


A resposta do Mauro Halfeld foi bastante incisiva e direta: 

Procure modelos de automóveis mais baratos. Eles se desvalorizam com grande rapidez e podem destruir a sua riqueza. Pior ainda é pagar juros para comprar um carro. Esta combinação acaba virando perversa.”


Além disso, o Halfeld ainda disse para o casal ser econômico na compra do primeiro carro, a fim de priorizar a construção de uma reserva em renda fixa (o popular colchão de segurança). 

Assim, o que eles precisam na verdade é deixar de pagar juros, e começarem a receber juros. 

O conselho final dele foi para evitarem se endividar, para se tornarem investidores de verdade.

Carro: um velho (e tão atual) problema 

Eu não tenho a menor dúvida de que estaremos em abril de 2037 discutindo os mesmíssimos problemas que estamos discutindo no texto de hoje, 13 de fevereiro de 2017: a ignorância financeira dos brasileiros em relação a esse passivo monstruoso chamado carro.

Não me entendam mal: não estou falando que o carro é um problema em si.

O problema está, em verdade, nas atitudes das pessoas em relação à compra do carro. 

Quantas pessoas verdadeiramente não corroem seu patrimônio financeiro para comprar, como disse um colega blogueiro (do qual eu não me recordo agora o nome), um objeto (carro), que está mais pra “sofá motorizado” do que qualquer outra coisa? 

E não, não são somente homens que enveredam por esse caminho de suicídio financeiro

Veja que, na dúvida do ouvinte da CBN, era a mulher quem estava tomando a iniciativa de comprar o carro. 

Pode ser que não, que ela tenha tomado a iniciativa por sugestão do marido, não sei, mas o fato é que, no mínimo, ela abraçou a ideia da compra do carro usado no valor de seis dígitos.

Existem dois erros gritantes já facilmente identificáveis à primeira vista, no problema trazido pelo Mauro Halfeld. 

O primeiro é, obviamente, o valor exagerado do carro – R$ 100k, ainda mais para um carro usado. 

E o segundo problema é o “momento” da compra: trata-se do primeiro – ou um dos primeiros – carro(s) da vida do casal, que está “começando a vida agora”. 

Será que não é mais racional começar a vida com um modelo mais simples, e fazendo upgrades (ou não…rsrsr) ao longo da vida?

Melhor ainda: será que esse casal já não tinha um carro antes? Se eles ainda não têm um carro, e consideram necessário comprar um agora, ok.

Agora, se eles já têm um carro (ou dois, vai saber), não vale a pena comprar outro carro agora, ainda mais fazendo dívida (comprando financiado).

Bom, quanto ao valor exagerado do carro, não preciso me alongar muito. 

O que assusta não é apenas os modelos de carros que o casal estava olhando – modelos entre R$ 90 mil a R$ 100 mil – mas principalmente, como eu disse antes, o fato de que eram modelos de carros usados.

Um carro usado de R$ 100 mil? Hã? Quanto ele então estaria custando na concessionária, se fosse zero quilômetro? R$ 150 mil? R$ 200 mil?

Enquanto eu escrevia esse artigo, resolvi dar uma pesquisada na OLX pra ver qual seria um carro usado que se enquadrasse dentro desses parâmetros de valores, e um dos carros que apareceram nessa pesquisa foi esse: 

Carro ano 2013 (portanto, já com 4 anos de uso), e com 78 mil Km rodados.

Sem adentrar no mérito da questão, mas será que não é muita pretensão comprar um carro desse naipe logo como o primeiro carro de um casal? E pior ainda, financiado, ou seja, pagando dois carros, e levando somente um?

Eu, particularmente, não pagaria esse valor nem se fosse meu último carro, mas, enfim, cada um com seu cada um…

É interessante até traçar um paralelo, ou melhor, um paradoxo, com o caso do leitor Henrique, exposto na semana passada: lá, estávamos comentando um caso de sucesso de um leitor experiente que, após muito trabalho e educação financeira sólida e praticada há décadas, conseguiu construir um patrimônio invejável.

Já hoje, estamos lidando com um casal que ainda não tem educação financeira, expondo a importância crucial de se adquirir bons hábitos financeiros, a fim e evitar decisões desastradas no trato com o dinheiro, ainda mais quando se é muito jovem, e há uma certa quantia em dinheiro em mãos.

Dentro dessa linha de raciocínio, é importante destacar que eles já tinham R$ 51 mil no banco, e ainda mais R$ 15 mil que poderiam ser retirados do FGTS.

Com R$ 51 mil – e sem considerar os R$ 15k do FGTS – já é possível comprar um baita carro, novinho em folha, zero km, ou um carro usado em ótimas condições.

Resolvi retomar as pesquisas na OLX, e, por R$ 51 mil, encontrei essa oferta de carro usado: 

Toyota Corolla, um pouco mais velho que a Land Rover, mas ainda assim em bom estado de conservação (aparentemente), câmbio automático, e com 85 mil KM rodados.

E daí vem minha pergunta: será que as pessoas não estão gastando com carro mais dinheiro do que realmente o necessário?

Faço minhas as palavras do Mauro Halfeld, quando disse:

“Procure modelos de automóveis mais baratos. Eles se desvalorizam com grande rapidez e podem destruir a sua riqueza. Pior ainda é pagar juros para comprar um carro. Esta combinação acaba virando perversa.”

Na blogosfera financeira, temos relatos de vários leitores que narraram a péssima experiência na compra de um carro novo financiado, e das duras lições que tiraram dessa história. 

Não tenho os links aqui, mas se algum colega blogueiro quiser deixar o comentário com o link, eu acrescentarei no post posteriormente.

Carros são verdadeiros drenadores de riqueza, tendo o perverso potencial de destrui-la por completo

Muitas pessoas acabam comprando, em menos de uma década, 4 ou mais carros diferentes, num ritmo frenético, a cada 2 ou 3 anos, achando que estão fazendo um bom negócio. 

Eu conheci uma servidora pública que trocava de carro todo ano. 

Todo mundo conhece alguém assim.

Pior ainda, como disse o Mauro Halfeld, é a compra com juros, ou seja, a compra financiada, de um passivo que já vale pouco hoje, vale menos quando sai da concessionária (no caso de compra de carro novo), e valerá menos ainda quando a última prestação do financiamento for quitada.

A palavrinha mágica por trás de uma boa compra de carro.

Para mim, o critério fundamental que define a compra de um carro é essa: suficiência.

Não preciso de luxos, preciso apenas que o carro que eu vá comprar preencha a todos os critérios de suficiência. E o que é suficiência?

Para mim, particularmente, é ter câmbio automático, ar-condicionado, quatro portas, ter um custo de manutenção anual baixo, dentre outros.

O problema é que critérios subjetivos frequentemente entram na decisão da compra de um carro. 

Critérios subjetivos e emocionais. 

Critérios subjetivos, emocionais e irracionais:

Será que vou conseguir impressionar os outros nas ruas com meu Volvo?

Será que a menina vai me olhar se eu parar na porta da boate com esse BMW?

Será que meus colegas de trabalho comentarão entre eles sobre o L200 Triton que eu acabei de estacionar na garagem?

Sim, meus amigos e minhas amigas, esse é o problema de muitas compras de carros: a necessidade de afirmação.

Não são critérios objetivos de uso que entram no cálculo da compra do carro: são o desejo de chamar a atenção, de causar inveja. 

Olhe pra mim, veja que carro bacana eu tenho”. 

Essa é a ideia. 

Essas pessoas querem ser reconhecidas não pelos feitos que conquistaram, mas sim pelos bens que possuem. 

Fazem uma confusão entre o sujeito e o objeto. 

Fazem uma confusão entre dinheiro e vida. 

Quando carências emocionais e afetivas passam a influenciar a compra de passivos, pode ter a certeza: a conta vai sair mais caro do que o inicialmente planejado, pois os seres humanos não são agentes econômicos racionais, como pensava a teoria econômica tradicional, mas agentes econômicos muitas vezes movidos por razões que a própria razão desconhece.


Conclusão

A temática “carro e seu dinheiro”, reconheço, raramente é abordada no blog, principalmente porque, como eu já disse em outras ocasiões, é um passivo que não me interessa muito. Em quase 20 anos dirigindo, só comprei um carro até hoje, já fiquei alguns anos sem carro (muito bem, obrigado), andando de táxi, ônibus e a pé, e não tenho essa tara por sofás motorizados que muitos têm, não só no Brasil, como também no resto do mundo.


Mas esse é um assunto que de vez em quando precisa ser abordado no blog, justamente pela sua função educativa de alimentar a mente dos leitores, principalmente a dos que estão iniciando no mundo da educação financeira, de que é preciso ter controle emocional quanto às decisões de compras de bens de consumo que envolvem uma quantia tão alta de dinheiro de uma só vez, como é a compra do carro.

Espero que o casal em questão reveja suas decisões de compra de passivos, e faça uma escolha mais acertada, do ângulo financeiro: comprar um carro usado mais simples, pago à vista. Essa é a melhor solução. Vai salvar o bolso deles, e irá preservar a integridade financeira desse casal, que é o que, no final das contas, vai importar.

E você, já ficou tentado a comprar um carrão, mas, por algum motivo, desistiu na última hora, e optou por um modelo mais simples? Ou foi tomado pela “emoção” e fez uma compra de carro… sobre a qual se arrependeu depois? 

-Frugal Simple

13 de fevereiro de 2017

Grande Guilherme! Belo post!

Acredito que o blogueiro que chamou o carro de “sofá motorizado” por aqui tenha sido eu.

E nada mais é do que isso mesmo. Esse conceito eu importei do blog do Mr Money Mustache que é excelente por sinal.

Fiz uma postagem espeficicamente sobre como a compra de um carro pode arruinar o indivíduo, está aqui: http://frugalsimple.net/carfinancialfreedom/

(para ler em português é só descer a tela.)

Esse assunto tem que ser batido e rebatido, pois novas pessoas estão fazendo 18 anos todos os dias e sempre teremos que passar essa mensagem à frente.

Esse casal não tem condições de ter esse carro, isso é ponto passivo. Vai custar entre 15-20 mil reais anuais para manter o carro entre seguro, ipva, gasolina, lavagens e estacionamentos. Carros de luxo costumam ter seguro muito caro e peças muito caras também.

O problema é que o brasileiro acha que fica rico assumindo dívida.

“Olha Fulaninho está andando de Land Rover, está rico!” pensamento muito comum.

Na verdade Fulaninho dirige o carro do banco e trabalha para sustentar o banco, e na conta do fulaninho quase não tem dinheiro livre. Essa busca incessante por aumentar o padrão de vida e de ter um status que não temos é um dos males do brasileiro.


Grande abraço! 

http://valoresreais.com/2017/02/13/jovem-casal-queria-gastar-r-100-mil-para-comprar-um-carro-usado-usando-o-fgts-e-teve-seguinte-resposta-do-mauro-halfeld-cbn/#:~:text=CBN%3A%20Mauro%20Halfeld%2C%20enfim%2C,ainda%20sobraram%20R%24%209%20mil

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