Novas variantes podem ter influenciado em aumento da contaminação em crianças
Renato Barcellos, da CNN, em São Paulo
Taxa de ocupação de leitos para crianças em hospitais públicos ultrapassa os 80%
Hospitais públicos e privados têm registrado uma alta no número de crianças internadas em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por Covid-19.
A média de pacientes pediátricos internados infectados pelo novo coronavírus desde março de 2020 no Hospital Israelita Albert Einstein é de 6 pessoas.
O maior pico aconteceu em janeiro, data que coincide com as festas de fim de ano, com 14 casos. Em fevereiro, foram admitidos 8 pacientes com Covid-19.
No Sabará Hospital Infantil, pelo menos três crianças têm sido diagnosticadas com Covid-19 por dia. No mês de janeiro, o pico de internações chegou a 22%. O número é o maior desde o ínicio da pandemia.
A taxa de internação neste primeiro bimestre foi de 18%, superando o acumulado do ano anterior que registrou 13%.
Na distribuição por faixa etária, 68% dos pacientes têm entre 1 e 10 anos, com 18% menores de um ano e 14% maiores de 10 anos.
Novas variantes podem ter influenciado aumento.
Já nos hospitais públicos, a taxa de ocuapação ultrapassa os 80%.
O Hospital Municipal Infantil Menino Jesus registrou um aumento de 56,63% nas internações, enquanto o Hospital Municipal da Criança e do Adolescente teve aumento de 86,41%.
Já o Hospital Infantil Cândido Fontoura ultrapassou a marca de 76,5% de taxa de ocupação de leitos.
Um dos motivos que pode ter influenciado essa alta é a circulação das novas variantes do vírus, aponta a epidemiologista professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel.
De acordo com a médica, desde o final do ano passado, a Europa como um todo, mas principalmente o Reino Unido, já havia registrado uma alta no número de casos graves em crianças.
"Esse aumento pode estar relacionado com as novas variantes, principalmente com a P.1 (de Manaus) e também a do Reino Unido, porque elas têm a mesma mutação. Essa mutação fez com que o vírus ficasse mais transmissível", explica.
Um pesquisa realizada pelas faculdades de Medicina e de Odontologia da Universidade de São Paulo, campus de Ribeirão Preto, identificou que a proteína spike, da nova cepa viral, estabelece maior força de interação molecular com o receptor ACE2, presente na superfície das células humanas e com o qual o SARS-CoV-2 se liga para viabilizar a infecção.
Segundo os pesquisadores, o aumento na força de interação molecular da nova linhagem é causado por uma mutação já identificada no resíduo de aminoácido 501 da proteína spike do SARS-CoV-2, chamada de N501Y, que deu origem à nova variante do vírus.
Além das aglomerações provocadas durante as festas de fim de ano e no carnaval, outro fator que pode ter relação com o alto número de internação de crianças é a volta às aulas.
Para Maciel, as escolas acabam se tornando pontos de aglomeração e para algumas faixas etárias é difícil controlar o distânciamento social.
Além disso, a médica aponta que a situação precária de algumas escolas e a má ventilação dos ambientes também ajudam na disseminação do vírus.
"Nos Estados Unidos e em países da Europa, as salas de aula têm o filtro HEPA (High Eficiency Particulate Air). Esses filtros trocam o ar do ambiente, filtrando particulas muito pequenas, menores até que o vírus. Sendo assim, eles conseguem controlar o ambiente. Países mais desenvolvidos, que optaram pela educação, fizeram essa investimento importante", ressalta.
A gerente de marketing Tereza Candida afirma ter medo de que a filha de nove anos contraia o vírus durante as aulas. No entanto, ela entende que a abertura da escolas é necessária neste momento.
"As escolas precisam ser priorizadas, vacinando os professores o mais rápido possível. Era para fechar os bares, academias, igrejas e abrir as escolas", afirma.
Nesta quarta-feira (3), o governo de São Paulo anunciou que todo o estado regrediu à fase vermelha, a mais restritiva da quarentena.
"A fase vermelha permite o funcionamento, apenas, de setores essenciais, como saúde, educação, segurança pública e privada, construção civil, indústria, logística, abastecimento, transporte coletivo, comunicação social e serviços gerais", disse o governador João Doria (PSDB), em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes.
Doria ressaltou que as escolas, tanto públicas quanto privadas, poderão continuar abertas no estado durante a fase de restrição.
"As escolas de rede pública municipal e estadual e da rede privada vão continuar abertas e vão atender os alunos, exatamente como estava previsto", disse.
Em entrevista à CNN nesta quinta-feira (4), o secretário estadual de Educação de São Paulo, Rossieli Soares, afirmou que as escolas vão continuar abertas “para quem precisa”.
“A educação é essencial. Desde o dia 17 de dezembro aqui em São Paulo foi declarado que, mesmo na bandeira vermelha, a escola não fecharia. Agora o que a gente tem dito é que sempre que a família puder e a criança conseguir desenvolver as atividades online neste momento, é preferível que fique obviamente em casa”, explicou.
Questionada se teria com que deixar a filha caso ela não fosse à escola, Tereza Candido respondeu: "Eu sou privilegiada e a minha empresa adotou home office 100%".
De acordo com um levantemento realizado pelo Sindicato dos Professores de São Paulo, até as 15h desta quinta-feira, 155 escolas particulares registravam algum caso de Covid-19 entre estudantes, professores e trabalhadores não docentes.
https://www.cnnbrasil.com.br/saude/2021/03/06/novas-variantes-podem-ter-influenciado-em-aumento-da-contaminacao-em-criancas