Bolsonaro diz que "pressa por vacina não se justifica". E por impeachment?..

 

Leonardo Sakamoto





"A pressa pela vacina não se justifica", afirmou Jair Bolsonaro neste sábado (19), ecoando a pergunta feita pelo ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, ao comentar a cobrança por um plano de vacinação: "Para que essa ansiedade, essa angústia?"... 

Suponhamos que o presidente da República não se importe com as mais de 186 mil vidas perdidas durante a pandemia. Como ele mesmo já disse várias vezes, lamenta, mas a "morte é o destino de todo mundo". Até porque, como ele deixou bem claro, o receio de morrer de covid faz de nós um "país de maricas"..

Bolsonaro deve considerar que, proporcionalmente, esse número de óbitos é eleitoralmente irrelevante frente aos mais de 65 milhões que receberam o auxílio emergencial e que sustentam uma alta na sua popularidade. Provisoriamente, claro, porque o auxílio está acabando, mas a pandemia não..

Desde o começo, ele se disse preocupado com empregos e com a economia - porque acredita que números ruins causarão impacto negativo em sua reeleição, em 2022. E, sob essa justificativa, pressionou para que milhões de brasileiros voltassem logo às ruas para comprar e trabalhar. Muitos atenderam, o que tornou capengas muitas quarentenas e ajudou a arrastar a pandemia por mais tempo...

Sim, Bolsonaro manteve o fogo do vírus aceso jogando mais gente na fogueira. .

Mesmo que ele não se importe com as pilhas de cadáveres da covid que começam a se acumular nos necrotérios de hospitais, os seres humanos se preocupam. E isso vai levar a um novo endurecimento das regras de isolamento social. Afinal, a economia se fecha não porque as pessoas acham bonito, ou porque políticos querem foder seu governo, mas porque as pessoas estão morrendo...

O coronavírus irá parar de circular na sociedade, permitindo que a vida volte ao normal, quando atingirmos a imunidade de rebanho. Ou seja, quando uma média de 70% da população tiver contraído o vírus ou tomado a vacina. Quanto mais tempo demorarmos para começar a vacinação, mais tempo levaremos para atingir essa marca.

Se o país tivesse feito sua lição de casa, contratado antecipadamente milhões de doses de uma cesta de vacinas ao invés de apostar apenas na da Universidade de Oxford/AstraZeneca, se o país não tivesse gastado um tempo precioso atacando a vacina do laboratório chinês Sinovac, poderíamos estar começando a imunizar a população ainda neste ano. E, consequentemente, terminar o processo ainda em 2021.

Mas Bolsonaro rifou a saúde da população em nome da disputa eleitoral. E, com isso, rifou também a retomada dos empregos. A vacina não é garantia absoluta que tudo ficará bem, mas é um passo fundamental. Sem ela, continuaremos nos afogando em ondas de covid. Estamos com 14,1 milhões de desempregados, número que vai se arrastar.

"A pressa pela vacina não se justifica." Segundo o presidente, isso coloca em risco a saúde da população. E inferiu que as vacinas podem não ser seguras, mesmo tendo passado em todos os testes - testes revisados pela comunidade científica...

Justifica-se, sim. Tal como a pressa para que os outros poderes da República evitem que ele aprofunde ainda mais a tragédia, com sua inação e irresponsabilidade. O problema é que ele já causou um estrago, em vidas e empregos, difícil de ser mensurado. 

E fez isso após ter neutralizado instituições, como a Procuradoria-Geral da República e o Congresso Nacional, que, em uma situação de normalidade democrática, o removeriam do cargo antes que isso acontecesse. ..

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

https://noticias.uol.com.br/colunas/leonardo-sakamoto/2020/12/19/bolsonaro-diz-que-pressa-por-vacina-nao-se-justifica-e-por-impeachment.htm


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