Estudantes de escolas públicas recebem prêmios da Olimpíada de Matemática 2016

Entrega de medalhas da 12ª Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas, no Theatro Municipal do Rio de JaneiroCristina Indio do Brasil/Agência Brasil

Filho de peixe, peixinho é. O ditado popular é indicado para falar dos gêmeos de 15 anos, Sávio e Patrick Saul Amaral. Os dois são filhos do professor Antônio Cardoso Amaral e, como o pai, já se destacam na Olimpíada Brasileira de Matemática (Obmep). 

Juntos, têm cinco medalhas, entre elas três de ouro como a que receberam ontem (14), na cerimônia de premiação da 12ª edição da Olimpíada, de 2016, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, no centro da cidade. Os adolescentes estavam entre os 501 alunos de escolas públicas que receberam medalha de ouro.

 Ainda na cerimônia, 1.500 estudantes levaram para casa medalhas de prata e 4.500 conquistaram as de bronze. Outros 42.482 tiveram menções honrosas.
Os gêmeos Sávio e Patrick Saul fazem o 9º ano do ensino fundamental na Escola Augustinho Brandão, em Cocal dos Alves, no Piauí. 

A cidade tem um dos mais baixos índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil [0,497 no indicador da Organização das Nações Unidas], mas na matemática está entre as primeiras. Com o trabalho do professor Antônio Cardoso Amaral, que foi um dos homenageados nos dez anos da competição, há alunos entre os premiados da Olimpíada desde 2005. 

Sávio disse que esse é um motivo de orgulho para a cidade. “Lá onde a gente mora é uma cidade de 6 mil habitantes. É uma cidade pequena, mas de 11 piauienses que ganharam medalha de ouro, seis são de lá. A cidade fica mais famosa e conhecida”, disse Sávio, que conquistou ouro em 2015 e 2016.

Para Patrick Saul, ver desde cedo o envolvimento do pai com a matemática foi um incentivo para ele e para o irmão. “A gente já gostava de matemática desde pequeno”
O pai e professor acompanhou a cerimônia, emocionado, na plateia. “É uma emoção muito forte vê-los como fruto de um trabalho árduo que a gente vive. É gratificante e impulsionador, que motiva cada vez mais essa luta que a gente insiste no interior, lá em Cocal dos Alves”, contou.

No fim, entre abraços e fotos com os filhos, se mostrou orgulhoso de ver a possibilidade de eles seguirem pela mesma carreira. “Eu tenho certeza de que eles vão para a área de matemática por uma escolha pessoal”.

A influência do professor Amaral na escolha da carreira chegou longe. Sandoel Vieira tem 24 anos e também é de Cocal dos Alves. Estudante da Escola Augustinho Brandão, participou desde 2005 da Obmep. 

De lá para cá, colecionou medalhas de ouro, se formou em matemática pela Universidade Federal do Piauí e, atualmente, está fazendo doutorado no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa). “A minha escolha pela matemática e estar aqui hoje deve-se a ele, que mostrou não só para mim, mas para todos da minha época na nossa cidade, as olimpíadas. 
Ele fazia treinamento e disponibilizava material e tentava nos convencer que era possível. Acabou que convenceu muita gente”, contou.

Para Sandoel, os alunos de agora, na cidade, além de incentivos dos professores, já começam a se espelhar em outros que receberam prêmios. “O pessoal começou a acreditar que era possível e ficou na cabeça das pessoas que, de alguma maneira, a educação é o meio para uma vida melhor”.

Entre os alunos existem também os que adoram a matemática, foram premiados várias vezes e, no fim, acabaram escolhendo outras carreiras. Luan Lima Freitas foi aluno do Colégio Federal Pedro II, no Humaitá, na zona sul do Rio, e agora cursa filosofia no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 

Luan participou da cerimônia por ser heptacampeão ouro na Obmep. Ele começou a ganhar medalha em 2010, quando tinha 11 anos. Nesse período, chegou a integrar um grupo que recebeu treinamento intensivo da organização da olimpíada para participar de competições internacionais. “A escolha da filosofia foi porque ela é o esforço mais geral possível do pensamento e do conhecimento, então, me parece necessário fazer filosofia antes de qualquer outra ciência”, disse.

Iniciação Científica
Quem é premiado sabe o que tem de enfrentar na competição, mas participar da Olimpíada traz também novos amigos e muita experiência, principalmente, por poder ser incluído no Programa de Iniciação Científica e ter contato com a vida acadêmica nas aulas aos sábados em universidades. Mauro Victor Ferreira, 14 anos, está no 8º ano do ensino fundamental do Colégio Henrique Lages, no Barreto, em Niterói, região metropolitana do Rio, e também recebeu medalha de ouro. 

O estudante está participando do programa na Universidade Federal Fluminense (UFF). “O que eu gosto muito nessas aulas é o formato diferenciado. Não são as mesmas aulas que a gente tem na escola. São mais didáticas, montam duplas para resolver questões e aí é só evolução de conhecimento. São aulas maravilhosas”.

A 12ª edição da Obmep, com a premiação de 2016, teve a participação de alunos do 6º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio de 99,6% dos municípios brasileiros - 501 estudantes ganharam medalhas de ouro, 1.500 de prata e 4.500 de bronze. Além disso, 42.482 receberam menções honrosas.

Criada em 2005, a Obmep é organizada pelo Impa e recebe recursos dos ministérios da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações e da Educação. Tem ainda o apoio da Sociedade Brasileira de Matemática. 

A competição estimula o estudo da matéria e promove inclusão social por meio do conhecimento.

Cristina Índio do Brasil - Repórter da Agência Brasil
Edição: Graça Adjuto

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