Temer tem chance de êxito; PT prioriza defesa de Lula

KENNEDY ALENCAR
BRASÍLIA

O presidente interino, Michel Temer, tem chance alta de êxito porque o efeito comparação com a administração Dilma Rousseff tende a ser amplamente favorável ao novo governo.

Como o PT fez após o governo FHC, deverá haver um discurso de herança maldita em relação ao país que Dilma entrega a Temer. 

Um dos tons da reunião ministerial da manhã desta sexta deverá ser esse da herança maldita na economia e na política.
A economia está no fundo do poço. 

O governo Dilma perdeu maioria na Câmara e no Senado. Portanto, a gestão Temer tem chance alta de iniciar uma recuperação econômica. 

O presidente interino fez uma boa escolha para a Fazenda. 

Henrique Meirelles era o ministro que o ex-presidente Lula queria que a presidente hoje afastada, Dilma Rousseff, nomeasse para o governo.

Só a entrada de Meirelles no governo ajudou a melhorar as expectativas. Mas ele precisará tomar cuidado com essa história de superministro e com o sonho de ser candidato a presidente da República.

 São armadilhas nas quais a vaidade humana costuma cair, como esse desejo de ser para Temer o que FHC foi no governo Itamar.

Em relação ao Congresso, a lógica de composição da equipe ministerial contempla todas as forças conservadoras com as quais Dilma não soube lidar. O presidente interino é um especialista em articulação política.

Quando atuou como articulador de Dilma, chegou a aprovar uma medida defendida por Joaquim Levy com votos do DEM. 

O Congresso também será cobrado a ter mais responsabilidade para ajudar a combater a crise econômica.

Como Dilma fez um governo ruim e representava pessoalmente a crise, a saída dela do poder melhora as expectativas em relação Brasil, que estava fora de preço, muito barato e muito aquém de suas potencialidades.

Esses fatores deverão facilitar a tarefa de Temer para fazer um governo melhor. Ele apontou medidas corretas na política e na economia no seu discurso de ontem, até dizendo que eram obviedades, mas obviedades que Dilma ignorou e que lhe cobraram um preço alto.

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PT vai priorizar Lula
Um efeito positivo da guerra do impeachment foi levar a uma reaglutinação de forças de esquerda.

 O PT continuará a apontar que é vítima de golpe e será solidário a Dilma na luta que ela ainda travará no Senado para tentar recuperar o mandato.
Mas o PT e Lula sabem que se trata de uma batalha perdida.

 Daqui em diante, o PT deverá pensar menos em Dilma e mais em salvar o cacife político e eleitoral de Lula, que é o principal líder do partido. Isso exigirá uma defesa consistente do ex-presidente em relação às acusações que sofre no âmbito da operação Lava Jato.

Essa estratégia também demandará uma autocrítica em relação aos erros que o partido cometeu no poder. 

Ontem, no discurso de despedida do poder, Dilma não teve a capacidade mínima de fazer essa revisão. O máximo que ela conseguiu dizer foi: “Posso ter cometido erros”.

Pode não. Cometeu muitos e jogou fora uma oportunidade.

 O PT precisa debater como conseguiu perder o poder sem terceirizar responsabilidades. O partido terá dois anos para tentar reconstruir um novo projeto de poder.

Se Lula não puder ser candidato, um nome do campo da esquerda, como Ciro Gomes, do PDT, ou um petista, como Jaques Wagner ou Fernando Haddad, poderiam ser apostas do PT para a eleição de 2018. Mas a prioridade é proteger Lula.

O que Temer fará na área social será objeto de intensa cobrança.

 O novo ministro do Desenvolvimento Social, Osmar Terra, já deu declarações ruins a respeito do Bolsa Família, falando em “coleira política”, uma visão preconceituosa de um programa social relevante e internacionalmente elogiado.

Apesar da promessa de Temer de manter os programas sociais, a intenção de Terra de reavaliar essas políticas pode, sim, representar um risco às conquistas que os mais pobres obtiveram no governo do PT.

A defesa de Lula e a área social serão prioridades do partido no debate público de agora em diante.
Ouça o comentário no “Jornal da CBN”:

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