Socrates, um Grande Brasileiro

Paraense de Belém, Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, morto neste domingo, aos 57 anos (19/2/1954 – 4/12/2011), começou no Botafogo de Ribeirão Preto e ainda era acadêmico de medicina quando passou a atuar pelo time principal do clube, em 1974. As atribuições como médico o impediam de se dedicar integralmente ao futebol, o que colaborou para tornar sua carreira singular.
 jovem alto e esguio logo se destacou com seu jogo refinado e inteligente, repleto de toques de calcanhar, passes e lançamentos precisos. Já em seu primeiro Campeonato Paulista, Sócrates encantou o público, em especial os torcedores do Tricolor de Ribeirão, onde iniciou uma dupla infernal com o centroavante Geraldão, que seria o goleador da competição com 23 gols (dez a menos que todo o restante da equipe).
Contrastando com o estilo rompedor do companheiro, Sócrates era o lado cerebral da parceria, com assistências perfeitas, além de contribuir com gols decisivos para a boa campanha (sexto lugar no geral). A qualidade de goleador se fez presente de forma mais evidente durante o Paulista de 1976, quando fechou a competição como artilheiro, com 15 tentos assinalados.
Mas foi a temporada de 1977 o divisor de águas na carreira de Sócrates, então doutor aos 23 anos. Com uma campanha histórica, o Botafogo conquistou o primeiro turno do Campeonato Paulista (na decisão, segurou um empate por 0 a 0 com o São Paulo, inclusive na prorrogação, no Morumbi) e se tornou a grande 
surpresa do futebol brasileiro na época. Com oito gols, o Magrão foi o artilheiro do time que era composto por veteranos como o goleiro Aguilera (ex-seleção paraguaia nas Eliminatórias para 1970), o zagueiro Manuel, o volante Lorico (ex-Vasco e Portuguesa) e jovens talentosos como o meia Osmarzinho, o ponta-esquerda João Carlos Motoca e o ponta-direita Zé Mário, este pré-convocado para a Copa de 1978. Porém, o jogador faleceu meses antes, vítima de leucemia, doença esta diagnosticada em um exame de rotina da Seleção.
Após a disputa do Brasileiro com o Botinha, Sócrates foi contratado pelo Corinthians, onde se tornou referência e ídolo da Fiel. No time do Parque São Jorge, reencontrou Geraldão, e a dupla voltou a fazer sucesso, agora na conquista do Paulista de 1979.
O grande momento do Doutor no Timão, entretanto, foi na chamada Democracia Corintiana, política adotada pelo diretor de futebol Adilson Monteiro Alves, que dava liberdade aos atletas nas decisões referentes ao departamento de futebol. Sob a regência de Sócrates, o Corinthians (que contava também com nomes como o lateral-esquerdo Wladimir, o volante Biro-Biro, o meia Zenon e o centroavante Casagrande, entre outros) faturou o bicampeonato estadual (1982 e 83) e se tornou uma das equipes mais fortes do país.
sócrates 1979 médico (Foto: Agência Estado)Medicina também fazia parte de sua vida
(Foto: Agência Estado)
Além dos três títulos estaduais e das inúmeras jogadas geniais, Sócrates escreveu seu nome na trajetória alvinegra ao marcar 172 gols e se tornar o oitavo maior goleador da história do clube do Parque São Jorge.
Sócrates não lutou por democracia só no Corinthians. Ele teve papel de destaque na campanha por Diretas Já no Brasil, no início da década de 80. Tinha ideais socialistas e era admirador do regime cubano – o mais novo de seus filhos recebeu o nome de Fidel, em homenagem ao líder Fidel Castro.
E não foram somente suas exibições no Corinthians que chamavam a atenção. Estreando na Seleção Brasileira em 1979 (6 x 0 Paraguai, no Maracanã), sob o comando de Telê Santana, o jogador brilhou ao lado de Zico, Falcão, Júnior, Leandro, Éder e Cerezo naquele que, para muitos, foi um dos melhores selecionados nacionais em todos os tempos, porém duramente castigado com a eliminação para a Itália na Copa de 82. Com a camisa amarela, cumpriu um total de 63 compromissos e marcou 24 vezes, entre 1979 e 1986, ano em que disputou seu segundo Mundial.
sócrates corinthians x são paulo 1983 (Foto: Gazeta Press)Consagração pelo Corinthians. Na foto, clássico de
1983 contra o São Paulo (Foto: Gazeta Press)
Com a abertura do mercado italiano no início dos anos 80 (até então bem restrito para jogadores estrangeiros), clubes tradicionais do país europeu passaram a buscar astros do futebol brasileiro e, após as idas de Falcão (Roma, em 1980), Zico (Udinese, 1983), Toninho Cerezo (Roma, 1983) e Júnior (Torino, 1984), chegou a vez de Sócrates desfilar seu talento no Calcio. Em 1984, foi contratado pela Fiorentina, que tinha como ídolo Daniel Passarella, astro e capitão da seleção argentina campeão do mundo em 1978. O estilo de jogo cadenciado do Doutor, porém, foi motivo de críticas por parte do companheiro, o que, de certa forma, ajudou a abreviar a passagem do atacante pelo futebol italiano.
Depois de um ano e meio sob as cores do clube de Florença, Sócrates retorna ao Brasil aos 32 anos para defender o Flamengo e, mais uma vez, formar parceira com Zico. Com o condicionamento físico já aquém do esperado e seguidas contusões, Magrão não teve destaque no Rubro-Negro, atuando somente 20 vezes e marcando cinco gols. No entanto, participou da conquista do Campeonato Carioca de 1986.
A ideia era de encerrar a carreira após a passagem pela Gávea, e o jogador se afastou dos gramados. Porém, um convite do Santos fez com que retornasse à ativa em 1988, um ano depois. Estreou pelo Peixe fazendo gol em um amistoso contra o Cerro do Uruguai (4 a 2, na Vila), mas, pouco tempo depois, decidiu se aposentar de vez, finalizando simbolicamente sua brilhante trajetória desportiva no querido Botinha, onde tudo começou

O futebol mundial amanheceu de luto neste domingo. Aos 57 anos, faleceu o ex-jogador Sócrates. Lenda no Corinthians e capitão da mágica Seleção Brasileira na Copa de 1982, Magrão, como era chamado, não brilhou no futebol europeu, onde defendeu por pouco mais de uma temporada a Fiorentina. Mas, mesmo assim, deixou seu toque de classe na terra de Michelangelo e da Vinci. Prova disso está aos 35 segundos do vídeo abaixo. Um golaço de cobertura do Doutor Sócrates em uma goleada da Viola sobre o Atalanta na temporada 1984/1985 do Calcio.
Nesse outro vídeo abaixo, o comentarista destaca uma boa atuação de Sócrates pela Fiorentina em um duelo contra o Lazio, no qual o ex-camisa 8 da seleção abriu o placar no triunfo de 3 a 0.
E apesar de não ter feito tanto sucesso no Velho Continente, Sócrates, por seu estilo, é bastante lembrado pelos europeus. Um exemplo é que camisas com o rosto dele são vendidas por lá em sites especializados de camisas de futebol retrô. Veja abaixo.
Além disso, em novembro de 2004, Sócrates, aos 50 anos de idade, foi convidado para jogar pelo Garforth Town, clube da Oitava Divisão da Inglaterra. O Doutor aceitou o convite e atuou por alguns minutos no empate de 2 a 2 diante do Tadcaster Albion (veja as duas primeiras fotos da galeria acima).
Por Marcos Felipe
04/12/2011 13h25 - Atualizado em 04/12/2011 18h36

Amigo pessoal, Zico lamenta morte de Sócrates: ‘Inteligência incomum’

Galinho e Doutor atuaram juntos no Flamengo e na Seleção Brasileira: ‘Genial dentro de campo’

Por Richard SouzaRio de Janeiro


Amigo pessoal de Sócrates, com quem atuou no Flamengo e na Seleção Brasileira, Zico lamentou a morte do ex-jogador, ocorrida na madrugada deste domingo, em São Paulo. O Galinho ficou sabendo da fatalidade ao acordar. Sua esposa foi quem lhe deu a triste notícia. O curioso é que o atual técnico do Iraque chegou a ligar para Sócrates no dia em que foi internado pela terceira vez, na última quinta-feira, mas não conseguiu falar com o amigo pela última vez...
- Sabíamos que a situação era grave, mas nunca estamos preparados para este tipo de notícia. Na quinta-feira, liguei para ele na hora do almoço, porque a intenção era fazer uma homenagem no Jogo das Estrelas (que será realizado em São Paulo, no próximo dia 28). Mas caiu na secretária eletrônica. À noite, a esposa dele me retornou, disse que tinha recebido o recado e que ele tinha acabado de dar entrada no hospital e a situação era muito grave. Ela estava com a voz embargada - contou.
Sócrates ao lado de Zico na concentração de Seleção em 1986 (Foto: AP)Sócrates e Zico na concentração da Seleção Brasileira em 1986 (Foto: AP)
Sobre Sócrates, Zico foi só elogios, tanto em relação ao lado pessoal como ao profissional do Doutor. Segundo o ídolo rubro-negro, o corintiano tinha uma “inteligência incomum”.
- Era um cara espetacular. Como jogador não há nem o que dizer, um dos melhores com quem joguei. Era engajado em causas do dia a dia, em assuntos que até fugiam da área dele. A grande qualidade era a lealdade. Tive o privilégio de ser amigo dele. Nossos filhos são amigos. Está indo muito cedo e num dia especial. Tinha inteligência incomum. Você sempre esperava coisa boa dele.
Zico lembrou ainda do tempo em que atuou com Sócrates. Os dois jogaram juntos na Seleção Brasileira e foram às Copas de 1982 e 1986. No Flamengo, ambos fizeram parte do time de 1986. O Galinho, no entanto, lamentou não ter tido a oportunidade de atuar mais vezes com o amigo. Segundo ele, foram apenas três partidas.
- Foi uma pena termos jogado juntos pouco tempo no Flamengo. Me machuquei, e foram só três jogos. Era genial dentro de campo. Quando voltei, ele se machucou. Em compensação, jogamos juntos naquele Fla-Flu, que vencemos por 4 a 1 - disse Zico, se referindo ao jogo pelo Campeonato Carioca de 1986, no qual o próprio marcou três dos quatro gols rubro-negros sobre o então tricampeão carioca (veja vídeo acima).
Zico e Sócrates se encontraram pessoalmente pela última vez em agosto deste ano, em São Paulo.


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