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domingo, 31 de março de 2024

Não esqueceremos: historiadores analisam os 60 anos do golpe




Na contramão da orientação do presidente Lula, que determinou à sua equipe de governo o cancelamento de todos os eventos e manifestações de repúdio por ocasião dos 60 anos do golpe militar no Brasil, o ICL Notícias faz questão de lembrar do tempo de ditadura e suas consequências. Este dia 31, que marca o aniversário da quartelada ocorrida em 1964, é a data ideal para ativar a memória.

A seguir, uma série de historiadores e historiadoras – de várias gerações – dão a sua impressão sobre os 60 anos do golpe de 1964.

Como costumava dizer Eric J. Hobsbawm, os historiadores existem para lembrar aquilo que outros querem esquecer.

Abaixo, a foto em destaque mostra o corpo do estudante secundarista Edson Luis Lima Souto, assassinado em 1968 pela polícia no Rio de Janeiro. Ele foi morto quando participava de um protesto contra o governo ditatorial. Esse fato marcou o começo de um ano em que as manifestações contra a ditadura militar se intensificaram, até que, em dezembro, foi decretado o  Ato Institucional n.º 5 (AI-5). Essa foi a fase mais dura de repressão aos opositores do regime.

Pablo de Oliveira de Mattos | 41 anos | Historiador, pesquisador e professor da UERJ/FFP

Nestes 60 anos do golpe militar no Brasil é preciso ampliar debates e reflexões sobre as (assim chamadas) vítimas indiretas da ditadura: negros, moradores e favelas, indígenas, ribeirinhos, entre outros. Não apenas enquanto vítimas, mas enquanto atores centrais na produção de caminhos e rumos que consolidaram as liberdades e direitos aos brasileiros. A atuação de intelectuais negros como, Clovis Moura, por exemplo, apontam para a articulação entre a história da escravidão, das permanências de uma sociedade racista e a radicalização do debate racial em um contexto que buscava silenciar tal debate em prol do mito da democracia racial. Que estes 60 anos do Golpe nos sirvam para que vozes como as de Clóvis Moura, perseguidas e silenciadas durante a repressão militar, sejam centelhas para as transformações necessárias que a sociedade brasileira tanto precisa.

Deborah Neves | 40 anos | Historiadora e pesquisadora de Pós-Doutorado UNIFESP

Neste emblemático ano de 2024 a sociedade brasileira precisa analisar criticamente os 60 anos do golpe de 1964 combatendo o passado que continua presente. Há 36 anos, o país reconquistou a Democracia, cujos problemas são em parte devido à negação em refundar instituições e punir servidores do Estado que cometeram crimes que não são passíveis de anistia. A palavra retorna à cena depois de 45 anos porque já no nascimento da Lei se configurou ilegítima e resultou na certeza da impunidade que levou novos servidores do Estado, nas mesmas instituições, a tentar repetir a imposição de seu projeto de poder. A ditadura está presente no cotidiano, na mentalidade e nos corpos brasileiros. Fazer da memória e da História um compromisso público do Estado e da sociedade, punir a quem deve é encerrar a ditadura de fato e assim fortalecer a democracia contra golpistas que nunca dormem”.

Marcos Napolitano | Historiador – Departamento de História – USP

O golpe de 1964 foi um evento disruptivo na História contemporânea brasileira. Demarcador de uma ruptura no interior do processo de modernização social e econômica do Brasil, o golpe e a ditadura que se seguiu tentaram manter as forças sociais sob tutela no caminho de uma “modernização sem conflitos”. Neste sentido, 1964 é continuador de 1937 e do Estado Novo. Mas, por outro lado, 1964 ainda é um desafio historiográfico, posto que é um evento que concentra múltiplos eventos e atores conectados. Havia um projeto claro de tomada de poder ou foi um golpe mais contra Goulart do que a favor de algo? Por que não houve uma resistência consistente dos setores progressistas? Em que momento a rebelião militar contra Goulart se torna um golpe de Estado efetivo?  Qual o papel da memória na (des)orientação dos personagens golpistas e golpeados no calor dos acontecimentos? Em que 1964 se encontra com outros golpes e tentativas de golpe ao longo da nossa história republicana? Essas, na minha opinião, são as perguntas de uma história política daquele momento fatídico.

Arnaldo Lemos Filho | 87 anos | Sociólogo e historiador

Lembrar o que foi a Ditadura Militar é fundamental para definir a identidade nacional. Temos identidade nacional porque temos memória. Não podemos deixar morrer a memória nacional, pois sem memória não há futuro. É preciso lembrar o passado, pois não podemos esquecer ou negar a história. Um regime que torturou, assassinou e desapareceu com presos políticos, fechou o Congresso, impôs atos e leis de exceção e censura nos jornais, exilou democratas e patriotas, cassou mandatos eletivos, perseguiu estudantes, intelectuais, jornalistas e artistas, deve ser lembrado e denunciado para que não se repita nunca mais. Além disso, a ausência de responsabilização pela violência política dos agentes do Estado, expressa numa anistia negociada, não só impediu a condenação dos responsáveis mas permitiu também a sua sobrevida, o que se vê ainda num “entulho autoritário”, incompatível com a democracia.

Emily Bueno Pereira | 23 anos | Historiadora

O papel que o historiador se presta a realizar, mais valorizado durante os marcos da barbárie mundial, traz em si uma dor constante, dilacerante e indissociável ao nosso trabalho. Nos dias mais triviais transformamos nossas dores como cidadãos, em revolta e descobertas como um cientista humano. Entre essas cicatrizes, o Golpe de 1964, ainda se mostra como uma ferida aberta na história do Brasil. Uma continuidade, uma permanência. Esse processo incessável do autoritarismo, que pôde ser parcialmente iluminado pela ‘Comissão Nacional da Verdade’ em 2011, tem se mostrado mais latente nos últimos anos. Entre a repressão policial- de uma polícia militarizada que tortura e mata jovens periféricos- e discursos que saúdam a memória de torturadores e da própria ditadura, observamos os efeitos práticos de uma má transição democrática que tenta normalizar a cruel realidade do passado nacional. Estagnado na teoria do homem cordial, o Brasil se vê preso em um ciclo nocivo de autoritarismos. Que nos próximos 60 anos, sejamos mais Rita Lee, Pagu e Marighella. Que os brasileiros desafiem o sistema numa rebeldia pela justiça e pela memória daqueles que se foram e das famílias que não puderam se despedir. Que o discurso apaziguador, e cordial,  com aqueles que nos mataram e continuam nos matando, seja visto como uma afronta à memória nacional e à resistência daqueles que ousaram desafiar o sistema.

Dirceu Franco Ferreira | 43 anos | Historiador

É necessário para a consolidação da democracia que falemos sobre a ditadura, passados 60 anos do golpe de 64. Sobretudo se pensarmos, por democracia, um regime em que a luta por justiça social, distribuição de renda, liberdade de expressão, pensamento e organização coletiva são pautas em constante discussão e aplicação. Nada disso existiu em nossa experiência ditatorial. A narrativa fundacional da democracia no Brasil não está de todo consolidada e uma de suas fraturas foi a ausência de uma justiça de transição. Por causa da lei da Anistia, de 1979, não punimos os crimes cometidos pelos agentes do Estado e, no entanto, foi em nome desse mesmo Estado que se forjou uma transição política “pelo alto”, com claros limites ao engajamento popular. Quando pensávamos estar vencida a batalha contra os porões da ditadura, eis que deles cresceu uma força política antidemocrática e golpista, valendo-se do sentimento de ódio interclasses para chegar ao poder. Por isso, educar e informar a população a respeito dos malefícios daquela experiência deveria fazer parte da missão coletiva dos professores, pois é disso que depende a luta permanente de defesa da democracia.”

Lindener Pareto | 40 anos | Historiador e Professor | Curador Acadêmico no ICL

“Marcado por dezenas de golpes de Estado desde 1822, o Brasil ainda é o país do golpe e das tentativas de golpe. Ao relembrarmos os 60 anos do golpe de 1964, que levou o Brasil ao abismo, lembramos da história inteira do Brasil. De Frei Caneca à Luiz Gama, de Anita Garibaldi à Pagu, de João Cândido à Marighella, de Dilma Rousseff à Marielly Franco, uma única história de luta constante contra a tirania. A questão que não nunca quer calar em nossa história: conseguiremos deixar os nossos mortos em paz? Vamos superar o passado autoritário que ainda não passou?”

Pedro Paulo Chaves Mattos (Pedro Chê) | 37 anos | Historiador e Policial Civil

A história não escapa de nos aniversariar com a lembrança de momentos que nos tragam à lembrança os nossos pecados e tragédias. Este atributo da referida ciência, talvez por uma inteligência divina de Clio, provavelmente nos foi ofertado para mais do que apenas entendermos os erros de nosso passado – como fosse uma névoa que se dissipa-, também para o despertar de que os fatos históricos não são engolidos e digeridos por datas no calendário. Pensar na Ditadura, é assim, olhar para as pecaminosas milícias, é assistir pela TV a tragédia de cada dia que é a nossa segurança pública. Se com lupa analisarmos tais pecados e tragédias, daria até para dizer que se tratam de processos anteriores a ditadura cívico-militar, mas, a verdade é que chegados esses 60 anos, um autoritarismo dotado de ódio ao próprio povo segue à espreita, e os mencionados pecados e tragédias – se não forem filhos legítimos – são os seus mais queridos,  o seu bastião.https://iclnoticias.com.br/nao-esqueceremos-historiadores-analisam-golpe/

Evento Online

Golpe de 64: ministros de Lula criticam ditadura

 

Por Paulo Saldaña e Ana Gabriela Oliveira Lima

(Folhapress) — Após o veto imposto pelo presidente Lula (PT) a eventos relativos ao aniversário do golpe militar, a data foi mencionada por ministros do governo e lideranças petistas nas redes sociais neste domingo (31).

Ao menos 7 dos 38 ministros fizeram referências ao tema em suas contas pessoais, assim como a ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Nesta semana são completados 60 anos do golpe de 1964, que deu início à ditadura militar marcada por reduções de liberdade, censura, torturas e assassinatos.

No início do mês, o governo Lula orientou ministérios a não realizar atos em memória da efeméride em meio a um esforço para distensionar as relações com as Forças Armadas e diante da polarização persistente no país. A orientação foi criticada por especialistas, historiadores, familiares de vítimas da ditadura e militantes dos direitos humanos.

O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, se manifestou no início da tarde, quando escreveu longa mensagem a partir da pergunta: “Por que ditadura nunca mais?”.

Almeida escreveu: “Porque queremos um país social e economicamente desenvolvido, e não um ‘Brasil interrompido’; Porque queremos um país soberano, que não se curve a interesses opostos aos do povo brasileiro; Porque queremos um país institucional e culturalmente democrático; Porque queremos um país em que a verdade e a justiça prevaleçam sobre a mentira e a violência”.

“É preciso ter ódio e nojo da ditadura, como disse Ulysses Guimarães”, completou, em referência ao discurso histórico do constituinte.

O ministério comandado por Almeida havia planejado pedido de desculpas a vítimas da ditadura e ações para marcar a data, sob o slogan “sem memória não há futuro”.

Desde que se tornou ministro, Almeida já se referiu à ditadura militar como “essa página nefasta de nossas histórias [que] não deve ser esquecida para que nunca mais se repita”.

Paulo Pimenta (da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República) fez uma publicação logo pela manhã com menção à ditadura e em defesa da democracia.

“Ditadura nunca mais! A esperança e a coragem derrotaram o ódio, a intolerância e o autoritarismo. Defender a democracia é um desafio que se renova todos os dias”, publicou ele no X (antigo Twitter).

Tanques na porta do Palácio Duque de Caxias, no Rio, sede do Exército Brasileiro, no dia seguinte ao golpe de 1964

No dia seguinte ao golpe, tanques em frente ao Palácio Duque de Caxias, no Rio, sede do Exército (Arquivo Nacional)

Camilo Santana (Educação) também se manifestou. “Lembramos e repudiamos a ditadura militar, para que ela nunca mais se repita. A mancha deixada por toda dor causada jamais se apagará. Viva a democracia, que tem para nós um valor inestimável”, escreveu no X.

Sonia Guajajara (Povos Indígenas) afirmou que o período militar promoveu um genocídio dos povos originários. “Sabemos que a luta sempre foi uma constante para os povos indígenas, mas há 60 anos o golpe dava início a um dos períodos mais duros do nosso país. A ditadura promoveu um genocídio dos nossos povos e também de nossa cultura”, escreveu no início da tarde.

Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) lembrou nomes de vítimas do período. “Minha homenagem a todos que perderam a vida e a liberdade, em razão da ruptura da democracia no dia 31 de março de 1964, que levou o país a um período de trevas. Minha homenagem a Rubens Paiva, Wladimir Herzog e Manoel Fiel Filho, que lutaram pela democracia no Brasil”, escreveu ele no X.

Cida Golçalves (Mulheres) defendeu que o período jamais seja esquecido. “Neste 31 de março de 2024 faço minha homenagem a todas as pessoas presas, torturadas ou que tiveram seus filhos desaparecidos e mortos na ditadura militar. Que o golpe instalado há exatos 60 anos nunca mais volte a acontecer e não seja jamais esquecido”, afirmou no X.

Jorge Messias (Advocacia-Geral da União) postou mensagens com referências à data. Ele não falou em ditadura, mas em sua mensagem, publicada no início da tarde, homenageou Dilma Rousseff, presa e torturada pelo regime militar. “Que a Luz da Democracia prevaleça, SEMPRE. Essa é a causa que nos move”, completou.

Dilma também falou sobre golpe

Dilma Rousseff no DOPS em 1970: ex-presidente passou três anos presa

Dilma no DOPS em 1970: ex-presidente, que passou três anos presa, também falou hoje sobre golpe civil e militar de 64 no Brasil

A própria Dilma também se manifestou e disse que a história quase se repetiu no ano passado. “Manter a memória e a verdade histórica sobre o golpe militar que ocorreu no Brasil há 60 anos, em 31 de março de 1964, é crucial para assegurar que essa tragédia não se repita, como quase ocorreu recentemente, em 8 de janeiro de 2023”, disse no X.

“No passado, como agora, a História não apaga os sinais de traição à democracia e nem limpa da consciência nacional os atos de perversidade daqueles que exilaram e mancharam de sangue, tortura e morte a vida brasileira durante 21 anos”, afirmou.

As mensagens publicadas na internet contrastam com o posicionamento adotado por Lula diante da efeméride e explicitado em entrevista concedida ao jornalista Kennedy Alencar há cerca de um mês.

“Eu tinha 17 anos de idade, estava dentro da metalúrgica Independência, quando aconteceu o golpe de 64. Isso já faz parte da história. Já causou o sofrimento que causou. O povo já conquistou o direito de democratizar esse país. Os generais que estão hoje no poder eram crianças naquele tempo. Alguns acho que não tinham nem nascido”, disse.

Fala de Lula sobre golpe provocou críticas de aliados

“O que eu não posso é não saber tocar a história para frente, ficar remoendo sempre, remoendo sempre, ou seja, é uma parte da história do Brasil que a gente ainda não tem todas as informações, porque tem gente desaparecida ainda, porque tem gente que pode se apurar. Mas eu, sinceramente, eu não vou ficar remoendo e eu vou tentar tocar esse país pra frente”, afirmou Lula, acrescentando que “isso faz parte da gente construir o futuro do Brasil e não ficar apenas discutindo o passado”.

Márcio França (Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte), Luiz Marinho (Trabalho), Margareth Menezes (Cultura) e André Fufuca (Esportes) só fizeram publicações sobre a Páscoa.

O perfil oficial do PT fez publicações em que condena a ditadura, além de republicar perfis de parlamentares do partido que se posicionaram.

A presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann (PR), fez postagens relacionadas à Páscoa e uma homenagem a Lula e o ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica.

O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), afirmou ser “crucial honrar a memória daqueles que sofreram e resistiram durante esse período”. “A busca por justiça e verdade ainda é uma jornada contínua, renovando nosso compromisso em construir um futuro mais justo e democrático”, escreveu o deputado.

Ditadura Lula

Pedido do presidente Lula para que golpe fosse esquecido repercutiu mal entre a esquerda (Ueslei Marcelino/Reuters)

Já o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), entusiasta confesso da ditadura que já se referiu ao aniversário do golpe como “dia de liberdade”, manteve o silêncio sobre o tema por enquanto. Nas redes sociais, ele postou uma mensagem sobre o domingo de Páscoa.

Bolsonaro já declarou apoio ao torturador da época Carlos Brilhante Ustra, a quem considera um herói nacional. Além de frases golpistas ditas ao longo de sua carreira como político, o ex-presidente é investigado por suposta participação em uma trama golpista para impedir a última posse do presidente Lula.

O senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), general da reserva que foi vice de Bolsonaro, foi às redes sociais para elogiar o golpe. “A história não se apaga e nem se reescreve, em 31 de março de 1964 a Nação se salvou a si mesma!”, publicou no X.

Segundo pesquisa Datafolha, a maioria dos brasileiros quer que a data que marcou o início de 21 anos de ditadura militar no país seja desprezada. Pensam assim, de acordo com a pesquisa, 63% dos ouvidos em 19 e 20 de março. Veem motivo para celebração 28%, e 9% não souberam responder. https://iclnoticias.com.br/golpe-de-64-ministros-de-lula-criticam-ditadura/

Evento Online

Nem um pio: Bolsonaro se cala sobre os 60 anos do golpe

 


Silvio Almeida: "Queremos um país livre da tortura e do autoritarismo"

Por Marcelo Hailer

POLÍTICA31/3/2024 · 17:58

O Ministro dos Direitos Humanos usou as redes sociais para elencar os vários motivos e explicar “por que ditadura nunca mais”

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Silvio Almeida: "Queremos um país livre da tortura e do autoritarismo". Créditos: Reuters/Folhapress

O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, usou suas redes sociais para publicar um longo texto sobre os 60 anos do golpe militar no Brasil, que se completa neste domingo (31).

A partir da pergunta "Por que ditadura nunca mais", Silvio Almeida elenca uma série de motivos e razões para que o Brasil nunca mais volte a viver em estado de exceção e sob um regime militar.


“Por que ditadura 

Silvio Almeida: "Queremos um país livre da tortura e do autoritarismo"

 mais? Porque queremos um país social e economicamente desenvolvido, e não um ‘Brasil interrompido’. Porque queremos um país soberano, que não se curve a interesses opostos aos do povo brasileiro”, inicia Silvio Almeida.

Em seguida, Silvio Almeida responde à sua própria pergunta inicial: “Porque queremos um país institucional e culturalmente democrático. Porque queremos um país em que a verdade e a justiça prevaleçam sobre a mentira e a violência. Porque queremos um país livre da tortura e do autoritarismo. Porque queremos um país sem milícias e grupos de extermínio”, afirma.

  • "Imprensa foi grande entusiasta do golpe de 1964 e da ditadura”, diz historiador João Teófilo

Posteriormente, o ministro dos Direitos Humanos do governo Lula (PT) lembra de um texto de sua autoria, publicado em 2022, onde recorda que foi preciso odiar a escravidão "e seus institutos para que ela pudesse ter fim".

E neste domingo, em que também reafirmamos nosso compromisso com as políticas de memória e verdade, lembro de um texto que escrevi em 2022: ‘[…] foi preciso odiar a escravidão e seus institutos para que ela pudesse ter fim; foi preciso odiar os nazistas e seus símbolos para derrotá-los. É imperioso odiar o fascismo e todos que o celebram. É imprescindível repudiar visceralmente e com todas as forças aqueles que humilham e destroem a vida de trabalhadores e de minorias’”.

Por fim, Silvio Almeida rememora uma clássica afirmativa de Ulisses Guimarães sobre a ditadura: “É preciso ter ódio e nojo da ditadura”, concluiu o ministro.

Confira a íntegra do texto abaixo:

"Por que ditadura nunca mais? 

Porque queremos um país social e economicamente desenvolvido, e não um “Brasil interrompido”

Porque queremos um país soberano, que não se curve a interesses opostos aos do povo brasileiro 

Porque queremos um país institucional e culturalmente democrático

Porque queremos um país em que a verdade e a justiça prevaleçam sobre a mentira e a violência

Porque queremos um país livre da tortura e do autoritarismo

Porque queremos um país sem milícias e grupos de extermínio 

E neste domingo, em que também reafirmamos nosso compromisso com as políticas de memória e verdade, lembro de um texto que escrevi em 2022:

“[…], foi preciso odiar a escravidão e seus institutos para que ela pudesse ter fim; foi preciso odiar os nazistas e seus símbolos para derrotá-los. É imperioso odiar o fascismo e todos que o celebram. É imprescindível repudiar visceralmente e com todas as forças aqueles que humilham e destroem a vida de trabalhadores e de minorias” 

É preciso ter ódio e nojo da ditadura, como disse Ulisses Guimarães 

Feliz Páscoa e Viva a democracia!".  

https://revistaforum.com.br/politica/2024/3/31/silvio-almeida-queremos-um-pais-livre-da-tortura-do-autoritarismo-156504.html

O calor em São Paulo voltou para ficar? Veja a previsão do tempo para a semana


Conteúdo Estadão 
São Paulo
Atualizada em
As temperaturas vão voltar a subir em São Paulo
As temperaturas vão voltar a subir em São Paulo Imagem: Paulo Pinto / Agência Brasil

Depois de alguns dias com temperaturas mais amenas, com tempo nublado na maior parte das capitais do País, os termômetros voltam a subir nesta semana na cidade de São Paulo.

No decorrer deste domingo de Páscoa, 31, o predomínio de sol favorece a rápida elevação das temperaturas, com mínima prevista de 18°C e máxima de 29°C. De acordo com a empresa de meteorologia Meteoblue, as temperaturas vão chegar aos 30C.

A nebulosidade aumenta com a chegada da brisa marítima entre o final da tarde e o início da noite, mas não há previsão de chuva para a Grande São Paulo, de acordo com o CGE (Centro de Emergências Climáticas da Prefeitura).

A próxima semana deve começar com sol e temperaturas em elevação, com pouca chuva. Deve voltar aquela sensação de "tempo abafado". É o início do outono, que começou oficialmente no dia 20 de março. "A previsão do tempo para os próximos 10 dias em São Paulo é de chuva fraca, tempo quente com máxima de 30°C", informa o boletim da Meteoblue.

A expectativa é de que a segunda-feira, 1, tenha sol, poucas nuvens e temperaturas em elevação. As mínimas oscilam em torno dos 17°C, enquanto as máximas podem chegar aos 30°C. No final do dia, novamente uma brisa marítima aumenta a nebulosidade, porém sem expectativa de chuva para a Grande São Paulo.

Na terça-feira, 2, o cenário é semelhante. O sol favorece mais uma vez a elevação das temperaturas no decorrer do dia. Os termômetros devem variar entre mínimas de 18°C e máximas que podem superar os 29°C.

Conteúdo UOL

Nos dias 2 e 3 de abril, a previsão do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) é de sol entre nuvens em São Paulo. A temperatura mínima deve ser de 19°C e a máxima de 28°C, na terça-feira, e 26°C na quarta. Novamente não há previsão de ocorrência de chuva.

O Inmet destaca que a chegada da nova estação marca a transição entre o clima chuvoso e quente do verão e o período frio e seco do inverno. Para o mês de abril, o instituto prevê temperaturas acima da média em praticamente todo o País, principalmente na parte oeste das regiões Sul e Sudeste, além da Região Centro-Oeste.

https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2024/03/31/o-calor-em-sao-paulo-voltou-para-ficar-veja-a-previsao-do-tempo-para-a-semana.htm

Charges Adnael e Chargistas unidos

 


31 de março ou 1º de abril: a primeira mentira dos militares na ditadura é o dia do golpe

 60 ANOS

Golpe em 31 de março de 1964: a primeira mentira dos militares na ditadura

João Goulart ainda estava no poder na data celebrada até hoje pelos militares para evitar que o golpe virasse chacota histórica



Neste domingo, 31 de março de 2024, completam-se 60 anos da primeira grande mentira que levou o Brasil a mergulhar em um dos momentos mais sombrios de sua História.


Classificado na caserna como "Movimento Democrático de 31 de Março de 1964", o golpe militar que levou o Brasil ao obscurantismo da ditadura por quase 21 anos, na verdade, foi consumado no dia 1º de abril.

A data verdadeira, no entanto, é rechaçada no meio militar. E tem uma explicação simples e surreal para isso.

"O golpe foi consumado, realmente, nos dias 1º e 2 de abril, mas oficialmente os militares reconhecem como sendo o dia 31 de março para evitar trocadilho com o Dia da Mentira. 

Eles fogem dessa data por causa disso", explica o historiador e cientista político Carlito Neto.

Segundo ele, o golpe só pode ser considerado como efetivo quando João Goulart deixa a Presidência. 

"Se formos procurar dados históricos, até o dia 31 de março João Goulart estava no poder. Então, não tinha golpe consumado", afirma.

No dia 31 de março de 1964, data celebrada pelos militares, o general Olímpio Mourão Filho, então comandante da 4ª Região Militar, iniciou uma rebelião em Juiz de Fora, comandando as tropas em marcha até o Rio de Janeiro, com o objetivo de derrubar o governo de Jango.

Documentos históricos

Até mesmo na documentação histórica da Câmara dos Deputados, onde foi concretizada a vacância da Presidência – mesmo com Goulart ainda no Rio Grande do Sul –, a data registrada do golpe se refere ao Dia da Mentira.

Segundo a documentação histórica, a deposição do presidente João Goulart pelos militares aconteceu em 1º de abril de 1964.

"No dia 2 de abril, Ranieri Mazzilli assume interinamente o governo e, no dia seguinte, com o poder de fato na mão dos militares, desencadeia-se em todo o País uma onda de prisões de líderes políticos, sindicais e camponeses, enquanto João Goulart se refugia no Uruguai", diz o texto alusivo aos 50 anos do golpe, publicado no site da Casa legislativa.

Os militares, entretanto, só viriam a assumir definitivamente o poder no dia 9 de abril de 1964, com o Ato Institucional nº 1, que "dispõe sobre a manutenção da Constituição Federal de 1946 e as Constituições Estaduais e respectivas emendas, com as modificações introduzidas pelo Poder Constituinte originário da revolução Vitoriosa" –, criando uma outra mentira dos militares, que também classificam o golpe como "revolução".

O decreto foi assinado pelos comandantes da Marinha, almirante Augusto Hamann Rademaker Grünewald, da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Francisco de Assis Correia de Mello, e do Exército, general Arthur da Costa e Silva, que viria a suceder três anos depois o marechal Humberto de Alencar Castello Branco, primeiro presidente da ditadura militar no Brasil.

A mentira seria reproduzida décadas depois, em 2022, durante o governo Jair Bolsonaro (PL), quando o então ministro da Defesa, Walter Souza Braga Netto, divulgaria nota dizendo que "o Movimento de 31 de março de 1964 é um marco histórico da evolução política brasileira, pois refletiu os anseios e as aspirações da população da época". 

https://revistaforum.com.br/politica/2024/3/31/golpe-em-31-de-maro-de-1964-primeira-mentira-dos-militares-na-ditadura-156289.html

Exército adotou, no governo Lula, livro que exalta Golpe de 1964

 Eduardo Barretto

 atualizado 

A controversa orientação do presidente Lula para que não haja eventos do governo em lembrança aos 60 anos do Golpe de 1964, completados neste domingo (31/3), com o objetivo de não melindrar as Forças Armadas, não tem sido um movimento recíproco, ao menos por parte de alguns militares. No ano passado, já durante o governo petista, colégios militares, vinculados ao Exército, deixaram de usar o livro didático externo para as aulas de história e adotaram uma apostila feita pela própria Força, que exalta a ditadura e ensina conceitos errados sobre história, repetindo uma visão até hoje defendida por militares golpistas. A mudança foi planejada em 2022, no fim do governo Bolsonaro, e implementada no ano passado, mesmo após a vitória de Lula.

A partir de hoje, a coluna publica a série de reportagens “A ditadura na sala de aula”, sobre os efeitos dos governos autoritários para a educação brasileira e na vida de professores perseguidos, agravando um atraso que só começou a ser revertido décadas depois do Golpe de 1964.

O material do 3º ano do ensino médio em vigor no Colégio Militar destoa dos livros didáticos usados pela escola antes e depois de 2023. Exaltando o golpe, a apostila chamou a ditadura militar de 1964 de “revolução”, omitiu torturas, classificou os golpistas de “moderados”, assim como o período, apesar da falta de liberdade, vetou eleições para presidente da República e decretou a prisão e o assassinato de opositores.

O 3º ano do ensino médio em colégios militares é o mais sensível para a disciplina de história do Brasil, porque aborda o século 20, e portanto, inclui a ditadura militar. Como a ditadura envolveu diretamente o Exército, o período costuma ser minimizado nessas escolas. Todos os cinco presidentes da ditadura eram da Força. Boa parte dos alunos dos colégios militares são filhos de militares da ativa, especialmente de alta patente.

Em 2023, os estudantes deixaram de usar o livro “História global”, de Gilberto Cotrim, da editora Saraiva, e passaram a estudar história por uma apostila feita pelo Exército. O material não tem referências bibliográficas, o que é incomum.

Escrita por Gilberto de Souza Vianna, a apostila da editora MevVavMem foi produzida pelo Colégio Militar de Manaus, para um curso de educação a distância. Em 2024, o colégio voltou a adotar um livro didático também usado em escolas civis: “História geral e do Brasil”, de José Neto e Célio Tasinafo, da editora Harbra.

Na apostila do Exército, o capítulo que trata da ditadura é intitulado “A Revolução de 1964”. Não há qualquer menção ao termo “tortura”. Para a obra, o golpe foi apenas uma “decisão” tomada por “lideranças democráticas”. Os golpistas foram chamados de “grupos moderados e respeitadores da lei e da ordem”. “O Brasil permaneceu no rol das democracias, embora as mudanças introduzidas pela revolução na Constituição em vigor aumentassem consideravelmente o Poder Executivo”, afirmou o texto feito pelo Exército.

Os governos militares foram chamados na obra de “governos revolucionários”. Segundo essa versão militar, o Ato Institucional 5 (AI-5), o mais duro ato jurídico da ditadura, foi apenas uma defesa contra “atentados terroristas”. A norma deu ao então presidente, general Arthur Costa e Silva, o poder para fechar o Congresso; prender qualquer pessoa, sem a possibilidade de habeas corpus; revogar a liberdade de expressão e reunião; decretar estado de sítio; intervir nos estados; cassar mandatos; e demitir funcionários, entre outras arbitrariedades.

“Decidiu o presidente decretar o AI-5; mas sua aplicação não terminou com a onda de atentados terroristas e demais ações praticadas pelos integrantes das diferentes facções comunistas”, afirmou o material escolar militar. A obra não citou atentados promovidos pelos militares, a exemplo do célebre caso do Riocentro, quando um sargento do Exército morreu com uma bomba no colo dentro de um carro, em 1981. A intenção era detonar o explosivo em um evento do Dia do Trabalho, no Rio de Janeiro, e atribuir o ataque à esquerda.

Livros didáticos contestam versão do Exército

Antes e depois do uso dessa apostila, os livros usados nas aulas de história do 3º ano do CMB contestaram a versão do Exército. Os livros didáticos, publicados por editoras tradicionais, citam fontes bibliográficas e estão de acordo com a historiografia.

O livro de Gilberto Cotrim, usado até o fim de 2022, afirmou: “De 1964 a 1985, as Forças Armadas exerceram controle sobre a vida política brasileira. A democracia foi interrompida e a liberdade dos cidadãos, limitada. Foi um período ditatorial”. A obra destacou que muitos brasileiros foram “perseguidos, exilados, torturados ou mortos pelos órgãos de repressão política”. A obra também menciona que crianças foram torturadas na frente de seus pais, e que os militares empregavam diversos métodos de tortura.

O livro de Neto e Tasinafo, usado atualmente, classificou assim a ditadura militar: “Foram anos de intensa repressão àqueles considerados subversivos e de cerceamento das liberdades democráticas”, acrescentando: “Por derrubar um governo eleito legitimamente pelo sufrágio universal, os militares temiam que sua ação fosse identificada como um golpe sem legitimidade. Dessa maneira, passaram a denominá-la de “revolução”.

A obra transcreveu o depoimento de uma mulher torturada em 1974 no Departamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI): “Recebi torturas e abuso sexual. Ouvia das celas muitos gritos. Sabia que pessoas estavam sendo torturadas. Quando ligavam o rádio na ‘Excelsior’, no mais alto volume, tínhamos certeza que as sessões de tortura iam começar. O som alto era para que os gritos não fossem ouvidos”.

Procurado, o Exército não comentou o teor da apostila, tampouco por que a obra foi usada em 2023. A Força afirmou que a apostila cumpre o Projeto Pedagógico do Sistema de Colégios Militares, que foi feito em 2021 e vigora até 2025. O projeto “segue as orientações previstas nas legislações vigentes dos órgãos responsáveis pelo ensino no país”, declarou.

https://www.metropoles.com/colunas/guilherme-amado/colegio-militar-passou-a-usar-livro-que-exalta-golpe-no-governo-lula

Microplásticos estão associados a risco de ataque cardíaco, derrame e morte

 

Meiru Wang*
The Conversation
Há uma crescente preocupação com a ameaça que os microplásticos pode representar para a saúde humana
Há uma crescente preocupação com a ameaça que os microplásticos pode representar para a saúde humana Imagem: Alistair Berg/Getty Images

Os microplásticos e nanoplásticos estão por todo lugar em nosso ambiente, inclusive em nos oceanos e lagos, terras agrícolas e até mesmo em algas no gelo do Ártico.

Os microplásticos também foram encontrados dentro de nós, com estudos que os detectaram em vários tecidos, inclusive nos pulmõessanguecoração e placenta. Diante disso, é compreensível que esteja aumentando a preocupação com os possíveis riscos dos microplásticos para a nossa saúde.

Entretanto, embora um número crescente de pesquisas tenha se concentrado nos microplásticos e nanoplásticos, ainda faltam evidências diretas de que sua presença nos tecidos humanos seja prejudicial à nossa saúde, e não se sabe ao certo se eles estão relacionados a doenças específicas.

Um novo estudo, porém, descobriu uma correlação entre os microplásticos e a saúde do coração. Os pesquisadores descobriram que as pessoas que tinham microplásticos e nanoplásticos detectáveis nas placas em suas artérias apresentavam um risco maior de ataque cardíaco, derrame e morte.

Saúde do coração

Os pesquisadores analisaram 257 pessoas no total. Todos os pacientes já estavam sendo submetidos a uma cirurgia preventiva para remover a placa das artérias carótidas (as principais artérias que irrigam o cérebro com sangue). Isso permitiu que os pesquisadores coletassem amostras de placa e realizassem uma análise química. Eles então acompanharam os participantes 34 meses depois.

Dos 257 participantes, descobriu-se que 150 tinham a presença de microplásticos e nanoplásticos em sua placa arterial, principalmente fragmentos de dois dos plásticos mais usados no mundo, o polietileno (usado em sacolas de supermercado, garrafas e embalagens de alimentos) e o cloreto de polivinila (usado em pisos, revestimentos e canos).


Uma análise estatística desses dados revelou que os pacientes com microplásticos e nanoplásticos em suas placas tinham um risco maior de sofrer um ataque cardíaco, derrame ou morte por qualquer causa na comparação com aqueles que não tinham microplásticos ou nanoplásticos em suas placas arteriais.

Os pesquisadores também analisaram os macrófagos (um tipo de célula imune que ajuda a remover patógenos do corpo) nas artérias dos pacientes. Eles descobriram que os participantes que tinham microplásticos e nanoplásticos em suas placas também tinham evidências de fragmentos de plástico em seus macrófagos.


Eles também analisaram se determinados genes associados à inflamação (que pode ser um sinal de doença) estavam ativados nos participantes. Eles descobriram que os participantes que tinham microplásticos e nanoplásticos em suas placas também apresentavam sinais de inflamação em seus genes.

Os microplásticos foram encontrados em amostras de placa extraídas da artéria carótida dos pacientes
Os microplásticos foram encontrados em amostras de placa extraídas da artéria carótida dos pacientes Imagem: Rocos/ Shutterstock

Esses resultados podem sugerir que um acúmulo de nanoplásticos e microplásticos na placa carotídea poderia desencadear parcialmente a inflamação. Essa inflamação pode, subsequentemente, alterar a maneira como a placa se comporta no corpo, tornando-a menos estável e desencadeando a formação de um coágulo sanguíneo, que pode eventualmente bloquear o fluxo sanguíneo, levando a ataques cardíacos e derrames.

É interessante notar que os pesquisadores também descobriram que a presença de nanoplásticos e microplásticos era mais comum em participantes que tinham diabetes e doenças cardiovasculares. Isso levanta uma série de questões que ainda não foram respondidas, como, por exemplo, por que os microplásticos eram mais comuns nesses participantes e se pode haver uma correlação entre outras doenças e a presença de microplásticos no corpo.

Outros riscos à saúde

Este estudo concentrou-se apenas em pacientes com doença da artéria carótida e que já estavam sendo submetidos a cirurgia para remover o acúmulo de placa. Dessa forma, não está claro se as descobertas desse estudo podem ser aplicadas a uma população maior ou diferente de pessoas.


Entretanto, esse não é o primeiro estudo a mostrar uma ligação entre microplásticos e nanoplásticos e males à saúde. Pesquisas sugerem que parte desse dano pode ser devido à forma como os microplásticos e nanoplásticos interagem com as proteínas do corpo.

Por exemplo, algumas proteínas humanas aderem à superfície dos nanoplásticos de poliestireno, formando uma camada que envolve a nanopartícula. A formação dessa camada pode influenciar a atividade e transferência dos nanoplásticos nos órgãos humanos.

Outro estudo sugeriu que os nanoplásticos podem interagir com uma proteína chamada alfa-sinucleína, que, em estudos com ratos, demonstrou desempenhar um papel crucial na facilitação da comunicação entre as células nervosas. Esses aglomerados de nanoplásticos e proteínas podem aumentar o risco da doença de Parkinson.

Minha pesquisa publicada de doutorado com embriões de galinha descobriu que os nanoplásticos podem causar malformações congênitas devido à forma como interagem com uma proteína chamada cadherin6B. Com base nas interações que eu e outros pesquisadores observamos, essas malformações podem afetar os olhos e o tubo neural do embrião, bem como o desenvolvimento e a função do coração.

Considerando o fato de que nanoplásticos e microplásticos são encontrados na placa carotídea, agora precisamos investigar como esses plásticos chegaram a esses tecidos.

Em camundongos, foi demonstrado que os macrófagos intestinais (um tipo de glóbulo branco) podem absorver microplásticos e nanoplásticos em sua membrana celular. Talvez um mecanismo semelhante esteja ocorrendo nas artérias, já que os nanoplásticos foram identificados em amostras de macrófagos da placa carotídea.


As descobertas desse último estudo se somam a um conjunto crescente de evidências que mostram uma ligação entre os produtos plásticos e a nossa saúde. Agora é importante que os pesquisadores investiguem os mecanismos específicos pelos quais os microplásticos e os nanoplásticos causam danos ao corpo.

The Conversation

*Meiru Wang é pesquisadora do pós-doutorado em Biologia Molecular e Nanotecnologia na Leiden University

Este artigo foi republicado do The Conversation sob licença creative commons. Leia o artigo original aqui.

https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2024/03/31/microplasticos-estao-associados-a-risco-de-ataque-cardiaco-derrame-e-morte.htm


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