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domingo, 12 de março de 2023

SUS faz 300 mil laqueaduras em 4 anos, mas mulheres citam dificuldades e falta de apoio; nova regra diminui exigências

 Criada em 1996, lei permite que pessoas sem filhos sejam esterilizadas; idade mínima para fazer laqueadura e vasectomia passou de 25 para 21 anos neste mês com atualização da legislação

Por Marina Pagno, g1

Diane sempre soube que não queria ser mãe e, desde os 25 anos, tenta fazer uma laqueaduraa cirurgia que corta as tubas uterinas para impedir uma gravidez. Hoje, poucos meses de completar 30 anos, a pesquisadora já contabiliza quatro tentativas frustradas na busca pelo procedimento, ainda não realizado.

“É muito chato isso. Eu mesma não posso cuidar da minha saúde e do meu planejamento familiar", conta ao g1 a moradora do Rio de Janeiro (RJ), que preferiu não revelar o sobrenome.

Ao longo dos últimos quatro anos, ao manifestar interesse em fazer uma laqueadura, ela afirma que foi ignorada por profissionais de saúde nas redes pública e particular. "A enfermeira pegou a lei da minha mão para mostrar para a supervisora dela e, quando voltou, disse que eles não estavam reconhecendo essa lei”, relata Diane.

  • Citada acima, a lei do planejamento familiar é de 1996 e, no ano passado, foi atualizada;
  • Em 5 de março deste ano, começaram a valer novas regras para a esterilização no Brasil;
  • idade mínima para fazer laqueadura ou vasectomia passou de 25 para 21 anos;
  • Quem tem pelo menos 2 filhos vivos também está autorizado, independentemente da idade;
  • Pessoas sem filhos podem fazer, desde que tenham a idade mínima;
  • É necessário esperar 60 dias entre a manifestação da vontade e o ato cirúrgico;
  • Foi dispensada ainda a autorização do cônjuge para realizar a cirurgia;
  • Nos últimos quatro anos, foram feitas 324.272 laqueadura no SUS.

Após muita insistência, Diane foi colocada na fila de cirurgias eletivas do SUS no final de 2022. Mas, dois meses depois, o status apareceu como negado, e nenhuma explicação foi dada a ela.

Já a professora Fabiane Pereira esperou seis anos até entrar na sala de cirurgia, em novembro de 2020, quando fez a chamada salpingectomia (siga lendo a reportagem e entenda a diferença).

"Ouvi todas aquelas frases clichês: 'você vai se arrepender', 'você é muito nova', 'e se um dia o seu marido quiser ter filhos?' Ou seja, minha vontade nunca foi importante. Já ouvi de uma médica ginecologista que a mulher que não quer ter filhos é incompleta", relatou Fabiane.

Sistema reprodutivo feminino — Foto: Freepik/Divulgação

  • No caso das mulheres, o procedimento é a laqueadura: é feito um corte nas trompas de falópio, com o objetivo é interromper o "caminho" entre o ovário e o útero;
  • Isso evita o contato do espermatozoide com o óvulo e, assim, pode impedir uma gestação;
  • Nos homens, o procedimento é a vasectomia.

"Em homens e mulheres com capacidade civil plena e maiores de 21 (vinte e um) anos de idade ou, pelo menos, com 2 (dois) filhos vivos, desde que observado o prazo mínimo de 60 (sessenta) dias entre a manifestação da vontade e o ato cirúrgico, período no qual será propiciado à pessoa interessada acesso a serviço de regulação da fecundidade, inclusive aconselhamento por equipe multidisciplinar, com vistas a desencorajar a esterilização precoce", diz a lei.

Apesar de ser claro, o texto ainda é mal interpretado. Reunidas em grupos nas redes sociais, mulheres que não querem ser mães trocam experiências sobre a realização da laqueadura e fazem listas compartilhadas com nomes de médicos que fazem o procedimento, além dos estados em que atuam.

Nos grupos, também incentivam mulheres a levar a legislação "embaixo do braço", assim como fez Diane e Fabiane, para evitar qualquer manifestação contrária à cirurgia.

Fui em vários consultórios ginecológicos com a lei impressa e eu ouvia sempre a mesma coisa: 'a gente não pode fazer em mulher que não tem filho'. O que mais me chocou é que por várias e várias vezes ouvi médicos falando que fazer laqueadura em mulher sem filhos era contra a lei.
— Fabiane Pereira, professora e moradora do Rio

A lei não incentiva a esterilização, mas autoriza quem quer fazê-la. Médicas ginecologistas ouvidas pelo g1 explicam que o papel dos profissionais de saúde é informar e aconselhar a pessoa sobre a laqueadura e a possibilidade de adoção de outros métodos contraceptivos, com base em evidências científicas e no quadro de saúde da paciente.

"Mas a decisão da mulher é soberana e deve ser respeitada. Esse é um desafio: a capacitação dos profissionais de saúde envolvidos em saúde sexual e reprodutiva com esse entendimento", diz a ginecologista e obstetra Teresa Derraik, da Rede Feminista de Ginecologistas e Obstetras.

Mayra Boldrini, ginecologista do Hospital Vergueiro (SP), explica que a paciente, quando manifesta o desejo de fazer uma laqueadura em uma consulta, precisa ser informada pelo médico sobre os detalhes envolvendo o procedimento, além das alternativas a ele.

"A gente tem que explicar todas as abordagens e quais são os riscos da cirurgia. É um procedimento seguro, mas possui riscos como qualquer outra cirurgia. Isso não deve servir para desencorajá-la, mas para mostrar como funciona", afirma Mayra.

Para a ginecologista e sexóloga Rayanne Pinheiro, quando uma mulher está convicta de que não quer ter filhos, isso precisa ser validado. "Se ela diz que é uma decisão própria e que tem certeza disso, não cabe ao profissional (de saúde) fazer nenhum tipo de discussão, não cabe a ele descredibilizar essa mulher”, completa.

"O médico, apesar de ser um técnico em saúde, é um ser humano, e está inserido em um contexto social amplo onde temos uma sociedade machista e patriarcal que, muitas vezes, invisibiliza as lutas femininas e acaba tirando o poder de escolha delas", diz Rayanne.

O que é a laqueadura — Foto: Wagner Magalhães/Arte g1

A busca pela laqueadura no SUS

Desde pequena, Julia Vitoria sabe que não quer ter filhos. Na infância, viu de perto casos de gravidez na adolescência e de mães que tiveram que criar os filhos sozinhos após o abandono paterno. Com 21 anos, a jovem foi beneficiada com a recente mudança na lei que alterou a idade mínima para fazer a laqueadura e está no processo para fazer o procedimento.

"Tentei adiantar a papelada e os 60 dias obrigatórios antes de a lei entrar em vigor, mas não consegui", conta. “Não é porque foi dado o encaminhamento que tudo vai ser tranquilo. Posso ser barrada daqui para a frente. Estou com uma expectativa de 70%”, afirma Julia, que tenta fazer a cirurgia pelo SUS.

Moradora de Campinhas (SP), Talita, de 31 anos, decidiu fazer a laqueadura pois diz ter certeza de que não quer ser mãe e após usar outros métodos contraceptivos, como o DIU hormonal (mais conhecido como Mirena).

"Eu cheguei à conclusão de que a esterilização é o melhor caminho para mim porque eu realmente não quero ter filhos. Não vou mudar de ideia, há muitos anos eu penso nisso", conta Talita, que pediu para ter o sobrenome ocultado.

Em janeiro desde ano, ela procurou o posto de saúde para dar entrada no procedimento e disse que ficou surpresa - mas de uma forma positiva. "Cheguei lá com a lei embaixo no braço e com 20 pedras na mão depois dos relatos que eu li. Não teve nenhum questionamento", diz.

De 2019 a 2022, foram realizados 324.272 procedimentos de laqueadura no SUS. Desses, 218.926 em mulheres entre 25 a 35 anos. A média de idade das mulheres que realizaram o procedimento é de 30 a 34 anos.

Os dados foram levantados pelo Ministério da Saúde a pedido do g1. No caso de mulheres sem filhos ou com o status não informado, o número de laqueaduras praticamente dobrou nos últimos quatro anos: em 2019, foram 653 cirurgias. Em 2022, o número saltou para 1.241. A quantidade de cirurgias é maior entre mulheres com dois filhos: foram mais de 43 mil procedimentos no ano passado.

Há também relatos de mulheres que nem sequer conseguiram abrir o processo. "Me disseram no posto que é muito difícil conseguir pelo SUS", afirma uma moradora de Maricá (RJ) que não quer se identificar.

"A gente fica até meio desanimada, né. Agora estou no processo de colocação do DIU, porque a laqueadura só pagando pelo visto", lamenta.

A quantidade de laqueaduras feitas no SUS é muito maior do que a inserção de dispositivos intrauterinos, os DIUs: foram mais de 70 mil procedimentos desse tipo em 2022.

Laqueadura, salpingectomia e outros métodos

Outro procedimento adotado por mulheres que buscam a esterilização é a salpingectomia. A diferença é que, nesse caso, há a retirada das trompas, e não a estrangulação do canal tubário, como acontece na laqueadura. O método escolhido vai depender da paciente e do andamento da cirurgia.

"A abordagem cirúrgica é determinada pelas condições do corpo de cada uma. Às vezes, nos programamos para uma laqueadura e há varizes na pelve ou um sangramento não programado que podem justificar a necessidade de retirar a trompa, por exemplo", afirma a ginecologista Ana Teresa Derraik, que também é diretora da Maternidade Santa Cruz da Serra, em Duque de Caxias (RJ).

Tanto a laqueadura quanto a salpingectomia são procedimentos irreversíveis.

"Quando uma mulher escolher pela laqueadura tubária ela deve entender que está escolhendo um método definitivo", coloca Ana Tereza.

Parte da resistência médica em fazer o procedimento também passa por um possível arrependimento no futuro da paciente, que pode ser questionado na Justiça.

"Muitos médicos acabam evitando esse tipo de procedimento por insegurança e medo de um processo, já que a esterilização causa uma perda definitiva de função”, coloca a ginecologista Rayanne Pinheiro.

A laqueadura é uma cirurgia na trompa, o canal que liga o ovário até o útero — Foto: Profissão Repórter

Apesar de ser irreversível, mulheres que fazem laqueadura ou salpingectomia ainda podem gestar de outras formas, após uma inseminação artificial ou uma fertilização in vitro.

Ou também podem engravidar sem querer. A taxa de eficácia da laqueadura fica acima de 99%, mas há uma mínima chance de falha: a cada mil mulheres, cinco podem engravidar pela forma natural, mesmo esterilizadas, algo que também virou processos na Justiça.

DIUs possuem taxas de eficácia parecidas com a da laqueadura. Eles são pequenos dispositivos em forma de T colocados no interior do útero, com o objetivo de evitar uma gravidez, e são reversíveis.

  • o DIU hormonal (ou Mirena) tem uma eficácia de 99,7%; ele libera um hormônio parecido com a progesterona, mas não possui estrogênio na composição, como os anticoncepcionais;
  • o DIU de cobre, que libera íons que dificultam a mobilidade dos espermatozoides no útero, tem uma eficácia de 99,2% a 99,4%;
  • há também os implantes hormonais, inseridos sob o braço, com eficiência de 99,9%.

De acordo com ginecologistas, não existe um método contraceptivo perfeito: depende muito da fase da vida que a mulher se encontra, do estado de saúde e dos fatores de risco.

Hoje, a gente entende a contracepção como algo pactuado. Antigamente, era algo muito determinado pelo médico: use isso ou aquilo. Hoje não. Precisamos aconselhar a mulher e mostrar a ela todos os métodos que são possíveis e quais seriam contraindicados no caso dela. É um momento de escuta e de escolha pactuada e orientada.
— Rayanne Pinheiro, ginecologista e sexóloga

Segundo a médica Ana Tereza Derraik, a laqueadura é recomendada para mulheres que decidiram fazer o procedimento depois de serem informadas sobre as complicações, os efeitos colaterais e as possíveis falhas, além de serem esclarecidas sobre todos os métodos contraceptivos disponíveis.

"A mulher deve ter autonomia para uma escolha livre e esclarecida - ou deveria ter", defende. "Todos os métodos contraceptivos têm prós e contras. A laqueadura é um método definitivo, tem uma taxa de arrependimento grande e isso dever ser considerado", afirma a ginecologista Ana Tereza Derraik.
Nova lei para laqueadura e vasectomia entra em vigor e dispensa autorização de cônjuges

Nova lei para laqueadura e vasectomia entra em vigor e dispensa autorização de cônjuges  

https://g1.globo.com/saude/noticia/2023/03/12/sus-faz-300-mil-laqueaduras-em-4-anos-mas-mulheres-citam-dificuldades-e-falta-de-apoio-nova-regra-diminui-exigencias.ghtml

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Laqueadura: do pedido até a cirurgia, entenda o processo em seis pontos

Pessoas que querem fazer a esterilização precisam esperar 60 dias para fazer o procedimento a partir da primeira manifestação de interesse, que acontece nas unidades de saúde ou na consulta médica.

Por Marina Pagno, g1

laqueadura é um procedimento de esterilização feito em pessoas com o aparelho reprodutor feminino. A cirurgia interrompe o caminho entre o ovário e o útero com o corte das trompas. Isso impede o contato do óvulo com o espermatozoide e, consequentemente, uma gravidez.

Recentemente, começaram a valer novas regras para laqueadura e vasectomia (no aparelho reprodutor masculino) com a atualização da lei do planejamento familiar:

  • idade mínima passou de 25 para 21 anos;
  • Quem tem pelo menos 2 filhos vivos também está autorizado, independentemente da idade;
  • Foi dispensada a autorização do cônjuge para realizar a cirurgia;
  • Pessoas sem filhos podem fazer a esterilização, desde que tenham a idade mínima;
  • Mães podem fazer laqueadura imediatamente após o parto;
  • É necessário esperar 60 dias entre a manifestação da vontade e o ato cirúrgico.

Mulheres que não possuem filhos vêm relatando dificuldades para solicitar a laqueadura e ter acesso à cirurgia, tanto em consultórios particulares como no Sistema Único de Saúde (SUS). Entre as reclamações, estão a má interpretação da lei por profissionais de saúde e o desencorajamento por parte de médicos, que se negam a fazer o procedimento.

Entenda em seis pontos o processo para solicitar a esterilização de acordo com a lei e como é feita a cirurgia:

  1. Para quem a laqueadura é indicada?
  2. Como é feito o pedido?
  3. A assinatura de um termo
  4. O planejamento familiar
  5. Em quanto tempo ocorre a cirurgia?
  6. Como é a cirurgia?

O que é a laqueadura — Foto: Wagner Magalhães/Arte g1

1. Para quem a laqueadura é indicada?

A realização da laqueadura depende de cada pessoa, do seu histórico de saúde até dos seus objetivos de vida naquele momento. Isso porque é um procedimento irreversível e, apesar de ser considerado simples, há riscos como qualquer outra cirurgia. Confira a opinião de especialistas ouvidas pelo g1:

Ginecologista Mayra Boldrini: "Cada paciente tem as suas peculiaridades, como em relação ao ciclo menstrual, a quantidade de cólica, o histórico familiar... Tudo isso pode afetar a decisão. Não existe um método ideal para todas. Existe o método ideal para aquela mulher específica".

Ginecologista e obstetra Ana Teresa Derraik: "A laqueadura é recomendada para aquelas que, depois de serem esclarecidas sobre todos os métodos contraceptivos disponíveis, serem informadas sobre complicações, efeitos colaterais, falhas, forma de usar, e tiverem garantido o acesso a esses métodos, se mantiverem firmes e seguras de que não querem mais de forma alguma engravidar".

Ginecologista e sexóloga Rayanne Pinheiro: “A esterilização feminina pode, sim, ser um excelente método para um grande público de mulheres. Para mulheres que têm muito clara a decisão de que não desejam mais gestar, para mulheres que não querem ou por algum motivo de saúde não podem se expor a hormônios, para aquelas mulheres que têm pouco acesso a serviços de saúde, a esterilização pode ser um método muito definidor na vida delas".

A eficácia da laqueadura como método contraceptivo fica acima de 99%, mas, a cada mil mulheres laqueadas, cinco podem engravidar pela forma natural. Além disso, a ginecologista Mayra Boldrini orienta que a pessoa siga se prevenindo contra infecções durante a relação sexual.

"Independentemente do método contraceptivo que a paciente escolha, nós sempre orientamos a manter o uso do preservativo, porque ele é o único método que protege efetivamente contra Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs)", diz a médica, que atende no Hospital Vergueiro, em São Paulo (SP).

2. Como é feito o pedido?

Pessoas interessadas em fazer a laqueadura devem manifestar o interesse junto ao médico ou diretamente no posto de saúde.

Ginecologistas explicam que o papel dos profissionais de saúde é informar e aconselhar a pessoa sobre a laqueadura e a possibilidade de adoção de outros métodos contraceptivos, com base em evidências científicas e no quadro de saúde da paciente.

"A gente tem que explicar todas as abordagens e quais são os riscos da cirurgia. É um procedimento seguro, mas possui riscos como qualquer outra cirurgia. Isso não deve servir para desencorajá-la, mas para mostrar como funciona", afirma Mayra.

De acordo com a ginecologista e sexóloga Rayanne Pinheiro, o médico deve orientar a paciente e a escolha deve ser pactuada entre ambos, mas a decisão final é da mulher.

"Antigamente, a contracepção era algo muito determinado pelo médico. Use isso ou aquilo. Hoje não. Hoje, a gente precisa aconselhar a mulher e mostrar todos os métodos que são possíveis e quais seriam contraindicados no caso dela", diz Rayanne.

Em muitos casos, o trâmite trava logo no começo: mulheres, principalmente as que não têm filhos e não querem ser mães, afirmam que foram desencorajadas a fazer o procedimento. Há também relatos de quem nem sequer conseguiu abrir o processo. Leia as histórias aqui.

3. Assinatura de termo

Se a pessoa quiser seguir com o processo para fazer a laqueadura, é preciso assinar um termo de consentimento. No documento, a paciente confirma que recebeu todas as informações necessárias sobre o método contraceptivo e a cirurgia. Ele também serve como uma garantia da manifestação de interesse e o cumprimento do intervalo de 60 dias até o procedimento cirúrgico, como diz a legislação.

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4. Planejamento familiar

Nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), ocorre o chamado planejamento familiar. A pessoa que manifestou o desejo em fazer a laqueadura participa de conversas com caráter educativo e explicativo sobre métodos contraceptivos. O bate-papo é feito com profissionais de saúde, com médicos, enfermeiros e psicólogos, entre outros.

“Nesse período, pode ser abordada a possibilidade de ela fazer uso de outros métodos reversíveis e que seja esclarecido que são métodos seguros. É muito importante que essa mulher tenha o poder de escolha e o domínio das informações. A gente, como profissional de saúde, precisa ter esse papel de esclarecimento", afirma a médica Rayanne Pinheiro.

A pessoa também se prepara para a cirurgia com a realização de exames, como o papanicolau.

Lei que dispensa aval do cônjuge para realização de laqueadura e vasectomia entra em vigor

Lei que dispensa aval do cônjuge para realização de laqueadura e vasectomia entra em vigor

5. Em quanto tempo ocorre a cirurgia?

A espera mínima é de 60 dias, de acordo com a lei. Após esse período obrigatório, depende muito.

Nos planos de saúde, há relatos de mulheres que conseguiram fazer a laqueadura três ou quatro meses depois de entrar com o pedido.

Na rede pública, o processo pode ser mais demorado. A laqueadura é considerada uma cirurgia eletiva, ou seja, não tem caráter de urgência. E, para isso, há uma fila de espera no SUS, que varia conforme a cidade. Dependendo da localidade, o processo é mais rápido ou mais lento. Em um caso ouvido pelo g1, a espera estava em 360 dias.

6. Como é a cirurgia?

De acordo com a médica ginecologista e obstetra Ana Teresa Derraik, diretora da Maternidade Santa Cruz da Serra (RJ) e membra da Rede Feminista de Ginecologista e Obstetras, a laqueadura pode ser feita de três formas:

  • por videolaparoscopia: quando são feitos três cortes bem pequenos na barriga para entrada do equipamento de vídeo e de instrumentos cirúrgicos para a realização da ligadura das trompas. É o procedimento menos invasivo;
  • por laparotomia: quando é feita um único corte, mas um pouco maior, no abdômen da paciente. A cirurgia é feita com a visualização direta das trompas;
  • ou por histeroscopia: feita sem cortes, por via vaginal.

"Há ainda a possibilidade de utilizarmos a técnica de Sauter, que é a laqueadura realizada após o parto normal. Como o útero está ainda aumentado, as trompas podem ser acessadas com uma incisão pequena feita no umbigo", afirma Ana Teresa.

As tubas são "estranguladas" de diferentes formas, com o uso de aneis de plástico, com fios de sutura ou com cauterização. A escolha vai depender do material à disposição no momento da cirurgia. Não há impactos na eficácia do método.

De 2019 a 2022, foram realizados 324.272 procedimentos de laqueadura no SUS. Desses, 218.926 em mulheres entre 25 a 35 anos. A média de idade das mulheres que realizaram o procedimento é de 30 a 34 anos.

No caso de mulheres sem filhos ou com o status não informado, o número de laqueaduras praticamente dobrou nos últimos quatro anos: em 2019, foram 653 cirurgias. Em 2022, o número saltou para 1.241.

A quantidade de cirurgias é maior entre mulheres que tem dois filhos: foram mais de 43 mil procedimentos no ano passado, segundo dados do Ministério da Saúde.

https://g1.globo.com/saude/noticia/2023/03/12/laqueadura-do-pedido-ate-a-cirurgia-entenda-o-processo-em-seis-pontos.ghtml

Humor, sátira política



Coronel Cid: o faz-tudo de Bolsonaro

- De ajudante de ordens a oficial influente nos círculos de poder, ele é personagem central de diversos escândalos do governo Bolsonaro

Mas, afinal, quem é Mauro Cid? Natuza Nery conversa com o repórter do g1 Guilherme Mazui e com Andréia Sadi sobre essa figura oculta por trás da família Bolsonaro.


Papa Francisco, popular e questionado, completa 10 anos de pontificado

- Por France Presse

Em uma imagem que marcou o pontificado do papa Francisco, o pontífice caminha sozinho na praça São Pedro para a tradicional missa Urbi et Orbi, feita sem público no auge da pandemia, em 27 de março de 2020.  — Foto: Alessandra Tarantino/ AP Photo
 Em uma imagem que marcou o pontificado do papa Francisco, o pontífice caminha sozinho na praça São Pedro para a tradicional missa Urbi et Orbi, feita sem público no auge da pandemia, em 27 de março de 2020. — Foto: Alessandra Tarantino/ AP Photo


Na tentativa de equilíbrio entre a popularidade com os fiéis e a resistência feroz das alas conservadoras da Igreja Católica a seu projeto de reformas, o papa Francisco vai completar na segunda-feira (13) uma década de pontificado.

Mesmo que suas reformas não questionem os pilares doutrinários da igreja, o cardeal argentino Jorge Bergoglio mostrou seu desejo de ruptura assim que foi eleito papa, em 13 de março de 2013, ao aparecer na varanda da basílica de São Pedro sem nenhum ornamento litúrgico.

O jesuíta sorridente e de linguajar franco representava um contraste com tímido Bento XVI, que havia renunciado ao cargo.

E provavelmente já tinha em mente seu programa: a reforma da Cúria (o governo da Santa Sé), corroída pela inércia, e o saneamento das duvidosas finanças do Vaticano.

O ex-arcebispo de Buenos Aires, que nunca fez carreira nos corredores de Roma, queria "pastores com cheiro de ovelha" para devolver o dinamismo a uma Igreja cada vez menos presente e superada em muitas regiões pela vitalidade dos cultos evangélicos.

As pregações deste crítico do neoliberalismo destacaram reivindicações por maior justiça social, proteção da natureza e defesa dos migrantes que fogem das guerras e da miséria.

"Acabou com a demonização da homossexualidade, com os debates sobre relações extraconjugais ou sobre contraceptivos (...). Tudo isso saiu da primeira página", declarou à AFP o vaticanista italiano Marco Politi.

'Periferias'

"O papa introduziu na Igreja assuntos centrais das democracias ocidentais, como o meio ambiente, a educação, o direito", destaca Roberto Regoli, professor na Pontifícia Universidade Gregoriana.

Ele também denuncia os conflitos que devastam o planeta, mas sem resultados concretos, como demonstram seus apelos por um fim da guerra na Ucrânia.

Mas sua imagem rezando sob a tempestade na praça de São Pedro vazia durante a pandemia ilustrou como poucas a necessidade de repensar a economia mundial.

Este pastor incansável, apesar dos 86 anos e seu estado de saúde frágil que o obrigam a usar uma cadeira de rodas, segue privilegiando as missões nas "periferias" do leste da Europa ou da África.

Durante a década 'bergogliana', a Igreja Católica também desenvolveu um diálogo inter-religioso, em particular com o islã.

Ele também teve um encontro histórico em 2016 com o polêmico líder da Igreja Ortodoxa da Rússia, o patriacar Kirill, mas a aproximação foi interrompida pelo apoio desta Igreja cristã à invasão russa da Ucrânia.

Para enfrentar os escândalos de abusos sexuais de menores de idade por religiosos, Francisco aboliu o "sigilo pontifício", que era utilizado por autoridades eclesiásticas para não comunicar tais atos. Um gesto importante, mas insuficiente para as associações de vítimas.

Lutas de poder

Francisco levou novos ares a Roma: optou por viver em um apartamento sóbrio, rejeitando o suntuoso Palácio Apostólico, e frequentemente convidava à sua mesa moradores em situação de rua ou presidiários. Um estilo que também rendeu críticas de setores que veem nele uma dessacralização de suas funções.

O primeiro papa latino-americano da História continua mobilizando os fiéis no exterior, mas também há quem o critique por um exercício extremamente pessoal de sua autoridade sobre 1,3 bilhão de católicos.

"Francisco mostrou um autoritarismo ao qual a Cúria não estava acostumada há muito tempo. E isso pode irritar", disse à AFP um importante diplomata em Roma.

E a oposição dos setores mais conservadores da Igreja está mais viva do que nunca, apesar das mortes de dois de seus principais representantes: Bento XVI, falecido em dezembro, e o cardeal australiano George Pell, que faleceu em janeiro.

A Igreja questiona agora quem será o sucessor de Francisco.

"As verdadeiras manobras para o conclave já começaram. Não são ações sobre nomes, e sim sobre a plataforma ideológica do futuro pontificado", afirma Politi.

Francisco deu a entender em alguns momentos que poderia renunciar ao cargo. Mas ele segue alterando o colégio cardinalício e já designou 65% dos nomes que definirão o próximo papa.

E prepara vários eventos importantes, como uma reunião de bispos no fim do ano para discutir o futuro da Igreja. 

https://g1.globo.com/mundo/noticia/2023/03/12/papa-francisco-10-anos-de-pontificado.ghtml

Aula antes das 9h prejudica sono e piora desempenho acadêmico, diz estudo

Trabalho apontou redução de 10% na frequência das salas caso início fosse às 8h; média foi de 5,2 horas dormidas por noite

Ana Bottallo de São Paulo 

Será que ir para universidade muito cedo pode prejudicar o desempenho e a frequência acadêmica dos estudantes?

Uma pesquisa avaliou a relação entre o horário de início das aulas e a presença dos alunos e encontrou um resultado que muitos podem considerar familiar: aquelas que começam antes das 9h prejudicam o sono dos estudantes e levam à menor frequência escolar em comparação àquelas iniciadas mais tarde.

No trabalho, os cientistas analisaram aulas das 8h às 16h e descobriram que a presença foi cerca de 10% menor nos cursos matutinos. Além disso, a proporção de estudantes que acordaram após o começo da aula quando o início se dava às 8h –o que os levou a perder a hora e a não conseguir acompanhar o conteúdo– também prejudicou a absorção do aprendizado.

Alunos realizam prova em sala de aula
Conhecimento acumulado na véspera da prova muitas vezes não vira uma memória de longa duração; por isso, pesquisadores sugerem estudos mais espaçados - Getty Images

O estudo, publicado no último mês na revista especializada Nature Human Behaviour (do grupo Nature) e conduzido por pesquisadores da Escola de Medicina Duke-NUS e do Instituto para Ciências Aplicadas de Aprendizado e Educação Tecnológica da Universidade Nacional de Singapura, ambas em Singapura, reforça que exigir a presença em aulas que começam muito cedo deve ser evitado nas universidades, uma vez que há relação com um pior desempenho acadêmico.

Para avaliar a ligação entre o horário de início das aulas e a qualidade do sono dos estudantes, os pesquisadores fizeram três experimentos. 

O primeiro mediu, pelo acesso ao wi-fi do campus de uma universidade, a presença de mais de 23 mil estudantes que participavam de 337 cursos.

A frequência das conexões foi aproximadamente 10% menor quando as aulas iniciavam às 8h em comparação aos cursos a partir das 9h. 

Os cientistas afirmam que o acesso ao wi-fi e a frequência têm associação direta em quase 100% do casos (0,98, com intervalo de confiança de 95%).

Em seguida, os cientistas avaliaram se os alunos estavam comparecendo menos às aulas porque estavam dormindo. 

Para isso, avaliaram 181 estudantes com aparelhos de avaliação de sono e atividade por seis semanas. Como resultado, quase um terço dormia até depois do início das aulas quando eram iniciadas às 8h, e cerca de metade não conseguia acordar a tempo para chegar no curso.

Dúvidas sobre sono

Por fim, foi feita a relação com o sono diurno e noturno (em termos de duração). Os cientistas descobriram que um maior número de aulas com início cedo levava a uma frequência maior de sonecas durante o curso e que a média diária de sono pela noite era cerca de 17% menor nos alunos que começavam antes das 9h em comparação àqueles que iniciavam as classes meio-dia.

Para o biólogo e professor de genômica evolutiva na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e professor visitante na Universidade Estadual de Michigan (EUA), Luiz Eduardo Del-Bem, que não participou do estudo, o artigo traz algumas observações importantes que podem ajudar a compreender a evolução do aprendizado humano.

"O cérebro humano possui dinâmicas distintas de vigília e sono em crianças, adolescentes e adultos. Enquanto adultos podem dormir menos horas e ainda assim conseguir ter um alto desempenho, sabemos que em adolescentes e jovens não funciona assim", diz, afirmando ainda que a pesquisa mostra o efeito acumulativo da falta de sono no desempenho acadêmico.

Embora estatisticamente as notas dos estudantes não tenham apresentado alterações significativas em relação ao horário das aulas, a absorção do conteúdo foi pior quando iniciadas às 8h. "Nós que somos professores sabemos que muitas vezes o aluno até está lá presencialmente na aula antes das 9h mas está dormindo. Então esse aprendizado é perdido", afirma.

Em uma pesquisa conduzida com colégios do ensino médio de Fortaleza, Pedro Burin e seu aluno de mestrado Felipe Rocha Alves, da Faculdade de Medicina da UFC (Universidade Federal do Ceará), avaliaram que aulas pela manhã tinham incidência de 48% do excesso de sonolência diurno nos alunos em relação às vespertinas, afetando também o aprendizado e desenvolvimento dos jovens.

Para Del-Bem, estas e outras pesquisas mostram que há um efeito ainda pouco mensurado sobre o bem-estar e aprendizado que crianças e adolescentes perdem quando submetidas a cursos nestes horários. "O quanto não perdemos de desenvolvimento intelectual que poderia ser produzido porque obrigamos os jovens a terem aulas muito cedo e tiveram pior aprendizado", finaliza.

https://www1.folha.uol.com.br/equilibrio/2023/03/aula-antes-das-9h-prejudica-sono-e-piora-desempenho-academico-diz-estudo.shtml

Reação de servidores públicos conteve governo Bolsonaro em vários setores

 

Chico Alves - 

Chico Alves 

Colunista do UOL
12/03/2023 04h00

A atuação dos funcionários da Receita Federal que flagraram, no Aeroporto de Guarulhos (SP), a entrada, em outubro de 2021, de um kit de joias não declarado, ofertado pelo príncipe da Arábia Saudita a Jair Bolsonaro (PL), esteve no centro das atenções nos últimos dias.

Também ganhou destaque a firmeza do servidor que, em novembro de 2022, não cedeu às tentativas de um emissário da Presidência da República que tentou liberar o "presente" —no valor de R$ 16 milhões— de forma totalmente irregular.

Em meio a escândalo das joias, ministro do TCU é precioso para Bolsonaro

Os dois momentos, registrados em vídeo, representam um dos vários episódios em que funcionários públicos federais resistiram à pressão do governo Bolsonaro para que agissem fora das regras.

"Os servidores adquirem estabilidade justamente para cumprir a lei e nesse caso [das joias] isso teve de ser feito a despeito de algumas pessoas bastante poderosas", admitiu à coluna Mauro Silva, presidente da Unafisco Nacional (Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil).

Para Silva, o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro foi o período em que houve as tentativas mais ousadas de interferência no trabalho da Receita. "Talvez por essa confusão entre o poder civil e o poder militar que o governo anterior fazia. Havia aquela ideia de que o comandante manda e todos devem obedecer, quando na verdade nossa regra maior é a lei", analisa Silva, em referência indireta à fala do ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, que ao lado do então presidente afirmou que "um manda e o outro obedece".

Esse nível inédito de interferência —muitas vezes ilegal— foi sentido em vários setores do serviço público, nos últimos quatro anos. Nos mais diversos órgãos, houve tentativas de se obstruir fiscalizações, liberar ações ilegais, desvirtuar protocolos por motivos ideológicos, dificultar práticas científicas e outros tipos de irregularidades.

Um dos casos mais rumorosos foi a intromissão de representantes bolsonaristas nos métodos de escolha de questões para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), que é responsabilidade do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). Depois de criticar repetidamente o teor "esquerdista" do exame, Bolsonaro esteve perto de consumar uma mudança radical no vestibular, quando Danilo Dupas esteve à frente do instituto.

"Foram colocadas pessoas no Inep que pretendiam censurar os itens da prova, queriam impedir, por exemplo, que fosse mencionado o golpe de 64", conta o presidente da Associação de Servidores do Inep, Alexandre Retamal. "Formaram uma comissão para analisar todas as questões do Enem para ter a certeza que não cairia nada com o que eles não estivessem de acordo", conta.

Um dos momentos mais tensos foi quando a tal comissão tentou ter acesso à prova do Enem antes do vestibular. "Isso não pode acontecer. Houve um episódio crítico, com agentes da Polícia Federal entrando na sala segura do Inep", recorda Retamal.

Diante de tantas ações fora do protocolo, a associação denunciou que o Enem estava em risco e 39 servidores entregaram os cargos comissionados. "Esse movimento alertou a sociedade, o Congresso nos defendeu e a sociedade se mobilizou. Até que Dupas acabou saindo", conta o representante dos funcionários.

Apesar de salvar o Enem, o movimento dos servidores não conseguiu impedir outros prejuízos. O cálculo do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) foi paralisado e o Saeb (Sistema de Avaliação de Educação Básica) funcionou precariamente, prejudicando a base de dados para o setor.

"O governo Bolsonaro colocou em risco a própria elaboração, execução e monitoramento das políticas públicas educacionais no Brasil e as consequências disso podem durar décadas", critica Retamal. "Foi a pior gestão em Educação de todos os tempos".

Outra área estratégica colocada à prova, especialmente por causa da pandemia de covid-19, foi a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Negacionista, Bolsonaro tentou de todas as formas atrapalhar o trabalho da agência. Em janeiro do ano passado, chegou a colocar em dúvida a honestidade dos profissionais da Anvisa por terem aprovado a vacinação infantil contra a covid.

O diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, cobrou retratação do presidente. Por causa desse e de outros ataques, os seguidores de Bolsonaro fizeram dos diretores da agência alvos preferenciais de ofensas e ameaças.

Apesar da pressão, o trabalho da Vigilância Sanitária foi feito dentro das normas profissionais. "A resistência dos funcionários da Anvisa foi fundamental, fizeram documentos de protesto, responderam à altura", lembra o sanitarista Gonçalo Vecina, um dos fundadores da agência. "O fato de ter diretores estáveis, com mandatos que não podem ser interrompidos, foi fundamental para essa resistência", destaca.

Gonzalo Vecina Neto foi presidente da Anvisa e é professor da Faculdade de Saúde Pública da USP - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Gonzalo Vecina Neto foi presidente da Anvisa e é professor da Faculdade de Saúde Pública da USP Imagem: Arquivo pessoal

Outra trincheira da área de Saúde foi a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). O ex-ministro da Saúde, José Gomes Temporão, destaca o papel da instituição, em meio ao negacionismo dominante do governo Bolsonaro.

"A Fiocruz se portou com grande competência e autonomia na defesa da saúde pública", destaca Temporão. "Não só na produção de vacinas, mas também na estruturação de modelos de vigilância epidemiológica, instituição de parcerias com a sociedade no enfrentamento da pandemia e criação do observatório que levantou informações fundamentais para pesquisa".

No Ministério da Saúde, ganhou destaque na CPI da Covid o caso do funcionário do Ministério da Saúde Luis Ricardo Fernandes Miranda, que resistiu a pressões para acelerar a assinatura da nota fiscal de compra das vacinas Covaxin, no valor de R$ 1,6 bilhão, que continha várias irregularidades.

O funcionário denunciou o caso ao irmão, o ex-deputado Luis Miranda, que reclamou com Bolsonaro. De nada adiantou. O secretário-executivo do ministro da Saúde, que é funcionário do ministro, e todos os chefes de Luis Ricardo continuaram tentando fazer com que ele desse andamento à nota fiscal.

O caso foi levado à CPI da Covid e ganhou dimensão de escândalo. A compra das vacinas não foi consumada. Depois de receber muitas ameaças, Luis Ricardo se licenciou e passou uma temporada nos Estados Unidos.

Luis Ricardo Miranda, servidor de carreira do Ministério da Saúde, denuncia à CPI o caso Covaxin - Agência Senado - Agência Senado
Luis Ricardo Miranda, servidor de carreira do Ministério da Saúde, denuncia à CPI o caso Covaxin Imagem: Agência Senado

"A coisa chegou a ponto de ele receber ligação do dono da empresa em casa, na noite de uma sexta-feira, cobrando que a compra das vacinas pelo governo fosse destravada", destaca o ex-deputado Luis Miranda. "A pressão exercida sobre os funcionários da Receita foi parecida com a que meu irmão sofreu e ele também não cedeu".

Mesmo em áreas que tiveram cargos de direção aparelhados pelo governo, como a Polícia Federal, houve focos de reação a interferências indevidas. Um dos que resistiram bastante foi o delegado Alexandre Saraiva, que, à frente da superintendência do Amazonas, desbaratou um esquema milionário de contrabando de madeira proibida da Amazônia.

Depois de enviar ao STF (Supremo Tribunal Federal), em maio de 2021, notícia-crime em que acusa o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o ex-senador Telmário Mota de colaboração com os contrabandistas, Saraiva acabou sendo transferido da superintendência do Amazonas para uma delegacia de Volta Redonda (RJ).

Delegado Alexandre Saraiva - Reproprodução de vídeo - Reproprodução de vídeo
Delegado Alexandre Saraiva Imagem: Reproprodução de vídeo

O delegado conta que as interferências aconteciam de duas formas: parlamentares foram ao então ministro da Justiça, Sergio Moro, e ao diretor-geral para reclamar do seu trabalho. "Formalizaram por meio de ofício e pediram instauração de procedimentos disciplinares, o que aconteceu. Como o expediente não funcionou e a investigação continuou, Ricardo Salles foi ao local da apreensão, se reuniu com os madeireiros e disse que ia liberar tudo", relata. "Ficava o tempo todo em estado de alerta", diz.

"Tenho 20 anos de polícia e nunca antes desse governo recebi qualquer tipo de pressão, ligação de superior hierárquico para fazer ou deixar de fazer qualquer coisa.", lamenta Saraiva. "Bolsonaro criou um precedente perigosíssimo", afirma.

O presidente da Unafisco destaca que a resistência dos funcionários públicos a assédios desse tipo só é possível por causa da estabilidade na função. "Apesar do estilo autoritário do governo anterior no trato com o servidor público, isso permitiu que os funcionários reagissem a pressões ou às ordens ilegais de algum superior ou de algum político. Esse expediente existe justamente para garantir que a lei seja cumprida", acredita Mauro Silva. 

https://noticias.uol.com.br/colunas/chico-alves/2023/03/12/reacao-de-servidores-publicos-conteve-governo-bolsonaro-em-varios-setores.htm

Joias já eram bens de ministério quando Bolsonaro tentou pegá-las

 

Jornal: 

Joias foram supostamente enviadas pela Arábia Saudita ao governo Bolsonaro - Reprodução/TV Globo
Joias foram supostamente enviadas pela Arábia Saudita ao governo Bolsonaro Imagem: Reprodução/TV Globo

Do UOL, em São Paulo

12/03/2023 09h50

As joias apreendidas pela Receita Federal no Aeroporto de Guarulhos (SP) já tinham sido transformadas em bens do Ministério da Economia e deveriam ir a leilão quando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou pegá-las pela última vez, no fim de seu mandato.

O conjunto feito de diamantes e avaliado em R$ 16,5 milhões seria um presente da Arábia Saudita para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e foi trazido ao Brasil de forma ilegal em outubro de 2021. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Pelo menos sete militares atuaram para reaver joias de Bolsonaro

O que aconteceu?

  • A Receita já tinha declarado "perdimento" das joias devido ao "abandono" na alfândega, em 2022. Na última semana do ano, Bolsonaro enviou um militar num avião da Força Aérea Brasileira para retirar os diamantes, mas a tentativa foi barrada pelos funcionários da Receita.
  • Os itens só não foram a leilão devido à repercussão do caso. O processo foi paralisado porque as joias podem ser provas de um suposto crime envolvendo a declaração dos valores à Receita.

A Receita emitiu um auto de infração para oficializar a "pena de perdimento" do bem em fevereiro de 2022. Conforme o jornal, isso aconteceu porque o governo não iniciou um processo legal para internalizar as joias como um bem público e destinado à União.

A "revelia do conjunto" foi declarada em julho. Isso significa que, a partir daquele momento, a joia não poderia ser reavida por Bolsonaro, porque passou a ser uma posse da Receita. Antes que isso acontecesse, no entanto, foi dado um prazo para que se apresentasse uma defesa em relação à apreensão, mas o governo não se manifestou.

Se um bem chega nesta fase, a Receita Federal tem que fazer algo com o bem, porque a Receita não é depósito. O que ela pode fazer com um bem é leiloar, incorporar para entes públicos, doar ou destruir" Delegado da Receita Federal em Guarulhos, o auditor Mario de Marco Rodrigues Sousa, ao Estadão

As joias foram retidas porque não foram declaradas à Receita. A legislação brasileira obriga que seja feita a declaração de bens vindos de fora com valor superior a mil dólares.

As joias poderiam entrar no Brasil sem pagar imposto, desde que ficassem com o Estado brasileiro, e não com a família Bolsonaro. 

Michelle Bolsonaro negou ser destinatária das joias e ironizou a notícia, mas não deu explicações.

Já o ex-presidente negou ilegalidades no caso e disse estar sendo acusado de um presente que não pediu nem recebeu. O caso está sendo investigado pela PF. 

https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2023/03/12/joias-bens-ministerio-economia-ultima-tentativa-de-bolsonaro-pegar-diamante.htm

Petição que pede cassação de Nikolas Ferreira passa de 316 mil assinaturas

 A petição virtual que pede a cassação do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) por falas transfóbicas no dia 8 de março, durante plenário da Câmara, passou de 316 mil assinaturas. A iniciativa é da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP).

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abaixo-assinado digital pela cassação do deputado federal bolsonarista Nikolas Ferreira (PL-MG👈

Sou favorável a CPI para investigar joias enviadas a Bolsonaro, diz Omar Aziz

 À CNN, o senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da Comissão de Transparência e Fiscalização, diz que é "favorável" a criação de uma CPI para investigar o caso das joias enviadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)


Com escolta armada, quadrilhas roubam cargas na “meca” dos tecidos |


Metrópoles 
Alfredo Henrique
12/03/2023 5:40, atualizado 12/03/2023 6:23
Reprodução/Câmera de Monitoramento

São Paulo – Um furgão transportava uma carga de roupas avaliada em mais de R$ 100 mil quando precisou parar em um semáforo fechado na Rua Mendes Júnior, na região do Brás, centro da capital paulista.

 Era por volta das 14h30 da última quarta-feira (8/3), quando o motorista e seu ajudante foram abordados por dois criminosos.

Com uma arma em punho, um dos ladrões anunciou o assalto, enquanto o outro embarcou pelo lado do passageiro. 

Ele usava fones de ouvido conectados a um celular com o qual mantinha contato com ocupantes de um Toyota Etios branco, que fazia a escolta da dupla e foi usado na fuga junto com outro veículo, um HB20 preto.

A ação foi testemunhada por policiais civis do 12º DP (Pari), que investigam quadrilhas especializadas em roubar cargas no Brás e adjacências, região famosa pelo comércio de tecidos e roupas.

Nos últimos meses, essa região registrou uma escalada desse tipo de crime. 

Foram dez roubos só em janeiro, contra quatro no mesmo mês em 2022. 

Em todo ano passado, a delegacia computou 202 roubos de carga, alta de 40% em relação a 2019, ano que precedeu a pandemia da Covid-19, e aumento de 119% em relação a 2021, com 92 casos.

Caminhão ocupado por bandido e vítimas circula na zona norte de São Paulo

O roubo continua

Assim que os investigadores avistaram a abordagem criminosa no furgão, começaram a acompanhar os veículos. 

O HB20 acelerou e os policiais passaram a persegui-lo.

Enquanto isso o furgão acessou a Marginal Tietê, sempre acompanhado pelo Toyota, dentro do qual criminosos orientavam o comparsa no veículo das vítimas, por telefone, sobre o caminho a ser percorrido até chegarem a um ponto onde a carga roubada seria descarregada. 

Os retrovisores estavam dobrados, para que as vítimas não enxergassem os carros usados pelos bandidos.

A reportagem apurou que as cargas roubadas são levadas pelas quadrilhas até as regiões da Vila Guilherme, na zona norte, ou ainda até as divisas entre as favelas Chaparral e Pau Queimado, ambas na zona leste. 

Nos locais os itens são transferidos para veículos dos criminosos.

Toda ação dura em média uma hora, segundo as investigações. 

As vítimas são liberadas em seguida, juntamente com seus veículos.

Prisões

No momento em que o HB20 acessou a Rua Ferreira de Oliveira, a cerca de dois quilômetros de distância de onde o furgão foi abordado, Eduardo Araújo Pereira, de 31 anos, pulou do carro em movimento, pela porta traseira.

Ele foi preso logo em seguida e o HB20 encontrado, abandonado, alguns quarteirões adiante.

 Dois ocupantes do carro conseguiram fugir, segundo registros policiais.

Enquanto isso, uma viatura da Polícia Militar avistou o furgão sendo seguido pelo Toyota Etios, que também fugiu quando percebeu a aproximação do carro policial.

Assim que abordaram o furgão, os PMs prenderam Leandro Santos Silva, de 29 anos. 

Ele ainda estava com os fones nos ouvidos, usados para manter contato com os suspeitos que fugiram, segundo a polícia.

A carga de roupas foi recuperada, as vítimas, libertadas, e a dupla foi presa e encaminhada ao 12º DP. Na delegacia, ambos se negaram a prestar depoimento, afirmando falar somente na presença de um juíz.

O advogado Abraão Israel Martins da Silva, defensor da dupla, afirmou ao Metrópoles que “é prematuro” associá-la aos crimes investigados pelo 12º DP. Ele alega não existirem provas que os vinculem a outros crimes.

“Há apenas indícios de participação deles no crime em que foram presos, sendo que será provada a inocência deles no julgamento”, acrescentou.

Invasão de quartel

Uma das vítimas das quadrilhas que atuam na região do Brás invadiu um quartel da PM, no último dia 28, na zona norte paulistana, quando tentava fugir da abordagem dos criminosos.

 Um dos suspeitos foi preso em flagrante.

Quadrilhas investigadas

O delegado titular do 12º DP, Marco Aurélio Floridi Batista, afirmou ao Metrópoles que a região do Brás virou alvo preferencial dos roubos de cargas por causa da proximidade com a Marginal Tietê, via usada como rota de fuga até os locais onde as cargas são transferidas para furgões e até caminhões da quadrilha.

“Eles geralmente já sabem qual é a carga que vão roubar, por causa de informação privilegiada, ou por observarem caminhões sendo carregados. Eles monitoram o alvo e o seguem, até um ponto específico para a abordagem”, diz o delegado.

A reportagem esteve na região, na manhã de sexta-feira (10/3), e constatou a presença de dezenas de veículos carregando ou descarregando mercadorias.

Um comerciante de 57 anos, que vive há 30 anos no Brás e pediu para não ser identificado, afirmou já ter sido vítima das quadrilhas e disse que todos os fretes realizados na região já têm embutidos nos preços os seguros contra roubos.

“Só no ano passado, levaram sete cargas minhas, depois que saíram da loja. Não tive prejuízo por causa do seguro.”

O delegado Marco Aurélio comanda as investigações na região há cerca de seis meses. Ele afirmou já ter identificado mais de uma quadrilha atuante e trabalha para verificar a relação entre os grupos criminosos, que agem sempre da mesma forma.

“Nossa prioridade atual é o combate ao roubo de carga na região. Estamos conseguindo já enxergar de uma forma mais clara a situação, pois conseguimos desmantelar algumas quadrilhas e prender suspeitos. Nosso objetivo é desmantelar todas as quadrilhas”, disse o titular do 12º DP. Segundo ele, até o momento, já foram identificados autores de nove roubos de carga.

A Polícia Militar afirmou, em nota, que desde o início do ano atendeu apenas “um chamado” referente a roubo de carga na região do Brás. A corporação acrescentou que realiza diariamente “diversas ações” para coibir “práticas delituosas.” 

https://www.metropoles.com/sao-paulo/com-escolta-armada-quadrilhas-expandem-roubo-de-cargas-na-meca-dos-tecidos


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