Pior que crack, bet transforma brasileiro em bagaço para Estado cuidar

 Leonardo Sakamoto

Todos devem ser livres para fazer o que quiserem com o seu dinheiro, mas o poder público e a sociedade não podem fazer cara de paisagem diante de um negócio que vende ilusões para tirar a grana dos cidadãos. Com propagandas reluzentes que trazem gente bonita e conhecida, prometendo mundos e fundos, claro que uma população de trabalhadores empobrecidos tentaria a sorte e se afundaria no azar.

Sob a justificativa de que são um fato consumado, elas não voltarão a ser proibidas, mas serão reguladas. A questão é que uma regulação para ser decente deveria taxar as operações dessas empresas em nível suficiente para garantir recursos para o Sistema Único de Saúde, que já tem problemas para tratar os trabalhadores-bagaço, e a fundos para reparar os danos causados ao tecido social. O que, claro, tornaria o negócio inviável.

O mais urgente, contudo, é proibir anúncios de bets e casas de apostas na TV, no rádio, em sites e portais, nas plataformas digitais. Há projetos de lei tramitando no Congresso nesse sentido. Apenas campanhas de informação sobre bets não vão fazer frente ao bombardeio que elas fazem nas propagandas. O problema é que, quando se fala disso, há os que bradam, indignados, o nome da liberdade. Liberdade para surrupiar, no caso.


Por lei, a propaganda de tabaco é proibida na TV há 20 anos e ninguém morreu por causa disso. Pelo contrário, isso evitou óbitos.

É cômico quando as empresas dizem que têm preocupação com os dependentes em jogos uma vez que a operação desse tipo de empreendimento depende de apostas feitas de forma compulsiva. Tão inútil quando o "beba com moderação" das propagandas de álcool é o "jogue com responsabilidade", que algumas bets já trazem em seus anúncios.

O uso abusivo em jogo e em drogas deveria ser encarado com uma questão de saúde pública, mas o primeiro é visto como oportunidade pelos parlamentares e o outro, como crime.


Repito o que já disse aqui: para uma parte dos legisladores que apoiam os jogos de azar online, contudo, desgraça é a maconha, que eles xingam entre um copo de uísque e outro. Na realidade, um usuário frequente de bets pode acabar com a própria vida e a da sua família. O de maconha, na maioria das vezes, acaba com o resto do pudim que estava na geladeira misturando-o com o feijão.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL 

https://noticias.uol.com.br/colunas/leonardo-sakamoto/2024/09/25/pior-que-crack-bets-espremem-brasileiro-e-largam-bagaco-para-estado-cuidar.htm

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